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Investimento em royalties musicais pode render até 17% ao ano; saiba como

15 fev 2022, 9:52 - atualizado em 15 fev 2022, 9:52
Investimento em royalties musicais pode render até 17% ao ano; saiba como
Investir em royalties de música pode ser uma boa para diversificar sua carteira, mas aporte inicial é de R$ 10 mil (Imagem: Pixabay)

Já virou quase chavão falar sobre a necessidade de o investidor de diversificar seus investimentos. Isto é ainda mais importante em momentos de turbulência política e econômica como vivemos atualmente, quando apostar as fichas em um único ou em poucos ativos pode trazer muita dor de cabeça.

No Brasil, à medida que o nosso mercado se aperfeiçoa, cresce a necessidade de investimentos alternativos. Um dos mais curiosos é o que investe em royalties de música.

Para além da excentricidade, é possível embolsar um retorno generoso, afirma Arthur Farache, CEO e sócio da Hurst Capital. A empresa é uma das plataformas que disponibilizam esse tipo de investimento. Em 19 operações, já captou R$ 12 milhões.

Segundo Farache, o retorno médio gira em torno de 15% ao ano, mas a aplicação pode render mais, dependendo, claro, do sucesso do músico ou do compositor. Quanto mais a música é executada, mais o investidor ganha.

“Temos dois grandes cases de sucesso, como uma das operações do Luiz Avellar, grande compositor e trilheiro brasileiro, com TIR esperada de 16,19% a.a. e uma das operações do Cecilio Nena, compositor de grandes sucessos do sertanejo, como ‘Temporal do Amor’ e ‘Dou a vida por um beijo’, com TIR esperada de 17,7% a.a. Ambas as operações estão rendendo para os investidores mais do que o esperado no cenário base do investimento”, afirma.

Outras plataformas que também negociam os royalties são a Brodr Music, que vende NFTs, e a Adaggio, que levantou R$ 60 milhões para adquirir parte dos direitos de músicas da banda Mamonas Assassinas. Entre os artistas da gestora estão Legião Urbana, Molejo, Novos Baianos e Ana Carolina.

No ano passado, a companhia fechou parceria ainda com Dado Villa-Lobos, Jorge Aragão e Délcio Luiz.

Streaming impulsiona investimento em royalties musicais

Em 2021, a Adaggio alocou 60% do capital levantado em seis meses e está fazendo diligência em 60 catálogos que, juntos, valem cerca de R$ 250 milhões. Além do foco nos direitos autorais de obras e artistas, a empresa aposta no mercado de streaming musical.

“Isso dá aos nossos investidores a chance de obter acesso ao portfólio da Adaggio, bem como um pipeline compreendendo alguns dos mais importantes e bem-sucedidos investimentos no segmento musical de todos os tempos, considerando o crescimento explosivo e contínuo das plataformas de streaming”, destaca João Luccas Caracas, CEO da Adaggio.

De acordo com informações do Ecad (Escritório Central de Arrecadação e Distribuição), no acumulado de janeiro já foram distribuídos R$ 124 milhões aos artistas. Em 2021, a distribuição ficou em R$ 901 milhões, o menor número em pelo menos cinco anos.

Dados da Global Music Report, da IFP (Federação Internacional da Indústria Fonográfica), revelam ainda que 60% da arrecadação financeira no setor está ligada à venda de ativo.

Cada play de uma das músicas que compõem a carteira, seja ele via streaming ou em execução pública, será contabilizado para o pagamento dos royalties
Cada play de uma das músicas que compõem a carteira, seja ele via streaming ou em execução pública, será contabilizado para o pagamento dos royalties (Imagem: Unsplash/Fixelgraphy)

Como funciona?

Farache explica que as operações de royalties musicais se iniciam por meio de um contrato direto entre o originador e o artista detentor dos direitos de autores. De acordo com números do Ecad, há no Brasil 808 editoras e 90 gravadoras em atuação.

“É através desses dois agentes que a Hurst negocia recebíveis de royalties de execução pública e em streaming para estruturar suas operações, de forma a comprar toda uma carteira de ativos e não apenas uma pequena quantidade de músicas avulsas, promovendo assim a diversificação desses portfólios”, diz.

Dessa forma, cada execução de uma das músicas que compõem a carteira, seja via streaming ou em público, será contabilizada para o pagamento dos royalties à agregadora ou ao Ecad, dependendo da forma de distribuição.

“Quando o pagamento for repassado para a agregadora ou para o Ecad, o recebível é pago para a Hurst e repassado aos investidores participantes da rodada”, completa.

O aporte mínimo para se investir pela plataforma é de R$ 10 mil.

Oportunidades e riscos dos royalties musicais

Na visão de Adriano Rondelli, especialista da Valor Investimentos, investimentos alternativos, como o de royalties de música, costumam entregar retornos mais altos, mas os riscos também são elevados.

“Esses ativos são menos regulados, mais complexos, você não tem tantas fontes de dados. É necessário ter proteção jurídica para evitar fraude e maiores dores de cabeça”, diz.

No caso dos royalties, as operações obedecem à Instrução CVM n.º 588, que trata de crowdfunding de investimentos.

Rondelli diz ainda que o investidor precisa observar se a plataforma de negociação é robusta e entender muito bem aquilo que se está comprando.

“Se você não entende esse mercado, vai ser uma aposta. Diversificar por diversificar não resolve a vida. É necessário entender o negócio. São mercados mais especializados que exigem um grau de entendimento sobre aquilo. Não é porque comprei aquela música que vai valorizar”, argumenta.

Apesar disso, ele vê boas oportunidades nesse tipo de investimento. “É um mercado que está em expansão, ainda mais por conta da pandemia, com os artistas precisando de recursos”, diz.

Outra vantagem importante é se livrar da volatilidade das ações, além dos recebimento dos rendimentos serem mensais.

“As pessoas ouvem música se a bolsa está subindo ou caindo. Se a taxa básica de juros está em dois dígitos ou em um dígito. Isso faz com que este investimento seja uma ótima alternativa para diversificar a carteira”, coloca Farache.

Entre os riscos, o principal é a quantidade de reproduções projetadas para a música ser menor que a esperada.

Outros pontos negativos incluem a piora do cenário econômico, o que traz significativas quedas de receita para os indivíduos, ou que atrapalhe a captação de recursos, como foi o caso da crise da Covid, que cancelou inúmeros shows, e a pirataria e falsificação.

“Apesar do declínio da pirataria na indústria musical, ainda existe o risco de surgirem novos métodos de falsificação que podem ter efeitos adversos na geração de receita do portfólio musical”, ressalta Farache.

É possível vender o investimento?

A falta de liquidez é um entrave para royalties. Ou seja, o investidor que quiser se desfazer do ativo terá um pouco mais de trabalho. Para tentar amenizar o problema, a Hurst criou o mercado de ativos tokenizados, que funciona como mercado secundário.

“A empresa transformou em token todos os ativos já originados, com base na tecnologia blockchain. Todos os investidores receberam automaticamente os tokens em sua carteira digital através do aplicativo Android e iOS. Dessa forma, os investidores podem fazer operações no mercado secundário”, explica.

Assim, o investidor pode vender o token que subiu no mercado secundário para outro investidor.

Editor-assistente
Formado pela Universidade Presbiteriana Mackenzie, cobre mercados desde 2018. Ficou entre os 50 jornalistas +Admirados da Imprensa de Economia e Finanças das edições de 2022 e 2023. É editor-assistente do Money Times. Antes, atuou na assessoria de imprensa do Ministério Público do Trabalho e como repórter do portal Suno Notícias, da Suno Research.
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Formado pela Universidade Presbiteriana Mackenzie, cobre mercados desde 2018. Ficou entre os 50 jornalistas +Admirados da Imprensa de Economia e Finanças das edições de 2022 e 2023. É editor-assistente do Money Times. Antes, atuou na assessoria de imprensa do Ministério Público do Trabalho e como repórter do portal Suno Notícias, da Suno Research.
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