Coluna do Hsia Hua Sheng

Já pensou em investir em ações de empresas resilientes da China? É hora de pensar

10 abr 2024, 15:04 - atualizado em 10 abr 2024, 15:04
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“No médio prazo, empresas como a Huawei, com produtos como relógios inteligentes, gerarão retornos consistentes aos seus acionistas”, afirma Hsia Hua Sheng

Algumas das empresas de tecnologias da China que sofreram sanções dos Estados Unidos, nos últimos anos, não apenas sobreviveram, mas também estão dando um show de inovação e rentabilidade em relação às concorrentes americanas.

Essa resiliência é o que mundo acabou de conhecer como uma das características das “novas forças produtivas de alta qualidade”, e foi incorporada como uma das novas metas da política de desenvolvimento econômico da China.

O que são as empresas resilientes da China?

Uma empresa resiliente é aquela com os seguintes atributos: preparadas, adaptáveis, confiáveis, colaborativas, responsáveis. Com esses atributos, as empresas chinesas, tais como Huawei e DJI Tecnológica, têm superado as adversidades provocadas pelas sanções americanas cada vez mais severas, sem desistir de fazer o que acreditam. Com isso, estão saindo mais fortalecidas dessas crises.

A DJI Tecnologia, maior fabricante de drones no mundo, vem sofrendo restrições para acessar os componentes produzidos por qualquer empresa com capital americano desde 2020. Após três anos, a DJI ainda domina 75% de mercado global de drones, e continua líder absoluta no mercado global de drones, com produtos de alta qualidade e baixo preço, respeitando todas sanções impostas pelos Estados Unidos, como, por exemplo, produzir só modelos comerciais, e não modelos de uso militar.

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Outra empresa resiliente é a gigante da tecnologia, Huawei. Ela anunciou, em 29 de março, seu resultado anual de 2023. Sua receita alcançou US$ 102 bilhões, um aumento de 9,6 % em relação ao ano anterior. Seu lucro líquido anual aumentou mais de 40%, para US$ 12 bilhões.

Esse lucro, inclusive, foi maior que o de anos anteriores ao início das sanções. Em 2019, por exemplo, foi de US$ 9 bilhões; em 2020, somou USD$ 9,2 bilhões. Este foi, também, o maior salto no lucro da empresa, desde que a Huawei começou a divulgar números comparáveis em 2006.

O que essas empresas chinesas resilientes têm feito para se superar dessas adversidades?

A) Investir continuamente em tecnologia de ponta. Mesmo com muita dificuldade, enfrentando uma queda de receita de 40% logo após as sanções, a Huawei nunca parou de investir na inovação tecnológica. Ela hoje é a maior detentora de patente de tecnologia de 5G e 6G.

Em 2023, por exemplo, a Huawei gastou em torno de 23% da sua receita líquida anual para pesquisa e desenvolvimento (P&D), enquanto a média de outras empresas do mesmo setor é de menos de 10% da receita. A Huawei ocupa o topo do ranking das empresas que mais registram patentes no mundo.

B) Distribuir resultados entre seus funcionários. O fundador tem uma participação acionária muito pequena na Huawei. A maioria de ações é distribuída entre seus funcionários. Uma grande parte dos lucros também é retribuída aos colaboradores por conquistas de metas tecnológicas e esforços colaborativos para desenvolver aplicações comerciais das invenções. Essa preocupação e os incentivos aos seus funcionários compõem a cultura de negócio da Huawei.

C) Pesquisar e desenvolver em parceria com fornecedores para integrar a cadeia produtiva nacional chinesa. Após as sanções americanas cortarem seu acesso ao fornecimento de componentes, a Huawei teve de usar todo seu P&D para redesenhar seus equipamentos e aparelhos celulares para poder usar os componentes produzidos pela indústria nacional da China. Um exemplo é parceria com a Semiconductor Manufacturing International Corporation (SMIC) para desenvolver a tecnologia de 7 nm no ano passado, e de 5 nm neste ano. Além disso, Huawei também produz sua própria bateria.

D) Ter acesso ao mercado doméstico chinês e promover a abertura de novos mercado globais. O acesso ao mercado doméstico permite que a Huawei adote estratégias de produção integrada para aproveitar as vantagens da economia de escala para competir com outras empresas chinesas do mesmo setor na própria China. Isso prepara as empresas chinesas para o mercado global, como, por exemplo, os países participantes de Belt & Road Initiative (conhecida como  Nova Rota da Seda).

E) Focar em desenvolvimento de um ecossistema de produtos e serviços inovadores. A estratégia da Huawei não é focar na inovação de produtos isolados, como a criação de um novo celular. Seu foco abrange todo o ecossistema de produtos e serviços que podem ser interligados aos celulares, por meio de Inteligência Artificial. Essas inovações não são dirigidas apenas a consumidores (B2C), mas também a empresas que fornecem esses mesmos produtos e serviços para os consumidores (B2B).

Por exemplo, o celular é parte do ecossistema de facilidades e conveniência que, por meio de celulares, conecta consumidores a carros e eletrodomésticos inteligentes. O sistema HarmonyOS, desenvolvido pela Huawei, utiliza inteligência artificial para otimizar a internet das coisas.

Como o Brasil poderia aproveitar essas oportunidades?

As empresas chinesas resilientes podem ser boas escolhas para as próximas alocações de recursos, por parte de gestores de fundos brasileiros. Com a integração da cadeia produtiva, muitas dessas companhias ganharão destaque no mercado financeiro global nos próximos anos. Com base na teoria do mercado eficiente, sabemos que essas empresas ganharão visibilidade e valorização das ações no futuro.

Com a saída forçada de capital e da fuga de investimentos americanos no mercado acionário chinês, os preços das ações chinesas têm sofridos com as vendas concentradas em um curto espaço de tempo. Mas, no médio prazo, essas empresas, gradualmente, vão gerar retornos consistentes para seus acionistas, baseados em lucros também consistentes.

As demonstrações financeiras das companhias resilientes mostram que elas estão contribuindo para o crescimento e as exportações da China. Neste primeiro trimestre de 2024, não só as empresas de alta tecnologia, mas também empresas tradicionais de têxteis, calçados e eletrodomésticos tiveram crescimentos significativos. Uma oportunidade para todo gestor de ativos globais começar a olhar para China de novo!

*As análises e opiniões são de responsabilidade exclusiva do autor e não representam uma visão das instituições das quais o autor pertence.

Hsia Hua Sheng é vice-presidente do Bank of China (Brasil) S.A. e professor associado de finanças na Fundação Getulio Vargas (FGV- EAESP). Ele é economista pela Universidade de São Paulo (FEA - USP), doutor e mestre em administração em finanças pela Fundação Getulio Vargas (FGV – EAESP). Foi pesquisador visitante na NYU Stern School of Business e na Shanghai University of Finance and Economics (SHUFE). É especialista em finanças internacionais com foco em mercados emergentes, com larga experiência profissional em multinacionais e possui várias publicações em revistas acadêmicas e profissionais de excelências internacionais e nacionais.
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Hsia Hua Sheng é vice-presidente do Bank of China (Brasil) S.A. e professor associado de finanças na Fundação Getulio Vargas (FGV- EAESP). Ele é economista pela Universidade de São Paulo (FEA - USP), doutor e mestre em administração em finanças pela Fundação Getulio Vargas (FGV – EAESP). Foi pesquisador visitante na NYU Stern School of Business e na Shanghai University of Finance and Economics (SHUFE). É especialista em finanças internacionais com foco em mercados emergentes, com larga experiência profissional em multinacionais e possui várias publicações em revistas acadêmicas e profissionais de excelências internacionais e nacionais.
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