Política

Lula na Time: ‘Ao invés de perguntar o que é que eu vou fazer, olhe o que eu fiz’, diz ex-presidente

04 maio 2022, 9:24 - atualizado em 04 maio 2022, 9:24
Lula é capa da revista Time
Lula é capa da revista Time (Time/Reprodução)

O ex-presidente e pré-candidato à presidência da República, Luiz Inácio Lula da Silva, é a capa da revista norte-americana Time divulgada nesta quarta-feira (4).

Em entrevista à publicação, Lula afirmou que “as pessoas não deveriam se preocupar com uma possível eleição sua, porque já foi presidente duas vezes”.

Segundo Lula, “a gente não discute política econômica antes de ganhar as eleições”. À Time, Lula ainda disse que “primeiro você precisa ganhar para depois saber com quem você vai compor e o que você vai fazer”.

“Quem tiver dúvida sobre mim olhe o que aconteceu nesse país quando eu fui presidente da República: o crescimento do mercado. O Brasil tinha dois IPOs. No meu governo fizemos 250 IPOs. O Brasil devia 30 bilhões, o Brasil passou a ser credor do FMI, porque emprestamos 15 bilhões. O Brasil não tinha um dólar de reserva internacional, o Brasil tem hoje 370 bilhões de dólares de reserva internacional. […] Então as pessoas precisam ter em conta o seguinte: ao invés de perguntar o que é que eu vou fazer, olhe o que eu fiz”, afirmou.

Durante a entrevista, Lula, que esteve preso por quatro anos, afirmou que “nunca desistiu da política”, mas que não pensava em ser candidato à presidência novamente.

“A política está em cada célula minha, a política está no meu sangue, está na minha cabeça. Porque o problema não é a política simplesmente, o problema é a causa que te leva à política. E eu tenho uma causa”, disse.

“Quando deixei a Presidência em 2010, efetivamente eu não pensava mais em ser candidato à Presidência da República. Entretanto, o que eu estou vendo, doze anos depois, é que tudo aquilo que foi política para beneficiar o povo pobre— todas as políticas de inclusão social, o que nós fizemos para melhorar a qualidade das universidades, das escolas técnicas, melhorar a qualidade do salário, melhorar a qualidade do emprego—, tudo isso foi destruído”, continuou.

Para Lula, os eventos que culminaram ao impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff (PT) foram um golpe de “pessoas que tinham o objetivo de destruir todas as conquistas que o povo brasileiro tinha obtido desde 1943”.

“Há uma expectativa de que eu volte a presidir o país porque as pessoas têm boas lembranças do tempo em que eu fui presidente. As pessoas trabalhavam, as pessoas tinham aumento de salário, os reajustes salariais eram acima da inflação. Então eu penso que as pessoas têm saudades disso e as pessoas querem isso melhorado”, afirmou.

O petista ainda disse à Time que “tem clareza de que pode resolver os problemas do Brasil” — como a polaridade política, a economia e o panorama internacional do país neste momento. Para ele, “esses problemas só serão resolvidos quando os pobres estiverem participando da economia, quando os pobres estiverem participando do orçamento, quando os pobres estiverem trabalhando, quando os pobres estiverem comendo”.

“Isso só é possível se você tiver um governo que tenha compromisso com as pessoas mais pobres”, disse.

Ainda durante a entrevista, Lula assumiu uma posição de não culpar especificamente a Rússia em relação à guerra na Ucrânia.

Para o ex-presidente, tanto os Estados Unidos, quanto o país comandado pelo russo Vladimir Putin e também a própria Ucrânia, têm culpa no assunto. Segundo ele, “Zelensky quis a guerra”.

“Se ele [não] quisesse a guerra, ele teria negociado um pouco mais. É assim. Eu fiz uma crítica ao Putin quando estava na Cidade do México, dizendo que foi errado invadir. Mas eu acho que ninguém está procurando contribuir para ter paz. As pessoas estão estimulando o ódio contra o Putin. Isso não vai resolver! É preciso estimular um acordo. Mas há um estímulo [ao confronto]! Você fica estimulando o cara [Zelensky] e ele fica se achando o máximo. Ele fica se achando o rei da cocada, quando na verdade deveriam ter tido conversa mais séria com ele: ‘Ô, cara, você é um bom artista, você é um bom comediante, mas não vamos fazer uma guerra para você aparecer’. E dizer para o Putin: ‘Ô, Putin, você tem muita arma, mas não precisa utilizar arma contra a Ucrânia. Vamos conversar!’”, disse.

“Nós, políticos, colhemos aquilo que nós plantamos. Se eu planto fraternidade, solidariedade, concórdia, eu vou colher coisa boa. Mas se eu planto discórdia, eu vou colher desavenças. Putin não deveria ter invadido a Ucrânia. Mas não é só o Putin que é culpado, são culpados os Estados Unidos e é culpada a União Europeia. Qual é a razão da invasão da Ucrânia? É a OTAN? Os Estados Unidos e a Europa poderiam ter dito: ‘A Ucrânia não vai entrar na OTAN’. Estaria resolvido o problema”, afirmou.

Lula continua sua tese afirmando que “os europeus poderiam ter resolvido e dito: ‘Não, não é o momento de a Ucrânia entrar na União Europeia, vamos esperar’. Eles não precisariam fomentar o confronto”.

“Se você quer paz, você tem que ter paciência”, disse ele sobre o conflito e o que ele considera como uma falta de conversas diplomática sobre a invasão do território ucraniano.

“Eu, se fosse presidente hoje, teria ligado para o [Joe] Biden, teria ligado para o Putin, para a Alemanha, para o [Emmanuel] Macron, porque a guerra não é saída. Eu acho que o problema é que, se a gente não tentar, a gente não resolve. É preciso tentar”, continuou.

O ex-presidente ainda afirmou que faltou, por parte do presidente norte-americano, Joe Biden, uma posição mais firme contra a guerra.

“Os Estados Unidos têm um peso muito grande e ele poderia evitar isso, e não estimular. Poderia ter falado mais, poderia ter participado mais, o Biden poderia ter pegado um avião e descido em Moscou para conversar com o Putin. É esta atitude que se espera de um líder. Que ele tenha interferência para que as coisas não aconteçam de forma atabalhoada. E eu acho que ele não fez”, disse.

Para ele, a resposta, no entanto, não estaria em concessões feitas a Putin e à Rússia. Lula diz que “da mesma forma que os americanos convenceram os russos a não colocar mísseis em Cuba em 1961, o Biden poderia falar: ‘Vamos conversar um pouco mais. Nós não queremos a Ucrânia na OTAN, ponto’”.

“Não é concessão. Deixa eu lhe contar uma coisa: se eu fosse presidente da República e me oferecessem ‘o Brasil pode entrar na OTAN’, eu não ia querer”, afirmou.

Segundo Lula, ele negaria a entrada na OTAN porque “o Brasil não tem contencioso nem com os Estados Unidos, nem com a China, nem com a Rússia, nem com a Bolívia, nem com a Argentina, nem com o México”.

E o petista continua. “E é o fato de o Brasil ser um país de paz que vai lhe fazer restabelecer a relação que nós criamos de 2003 a 2010. O Brasil vai virar protagonista internacional, porque a gente vai provar que é possível ter um mundo melhor”, disse.

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Jornalista formada pela Faculdade Paulus de Comunicação (FAPCOM) e editora do Money Times, já passou por redações como Exame, CNN Brasil Business, VOCÊ S/A e VOCÊ RH. Já trabalhou como social media e homeira e cobriu temas como tecnologia, ciência, negócios, finanças e mercados, atuando tanto na mídia digital quanto na impressa.
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