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Max Bohm: Não há outra alternativa

05 jun 2020, 11:44 - atualizado em 05 jun 2020, 11:44
max_bohm
“Será que o investidor estrangeiro viu a Bolsa em moeda estrangeira a preço de banana e se motivou a comprar?” pergunta o colunista

Até para os mais otimistas, a pujança desta recuperação nos preços dos ativos está sendo surpreendente. E eu me incluo nesse grupo.

O movimento foi muito rápido. No dia 1º de abril, a Bolsa estava nos 70 mil pontos. Em dois meses, ela rompeu os 90 mil, uma valorização de mais de 28%. Bela retomada, não é mesmo?

Essa alta foi acompanhada pela queda do dólar em relação a várias moedas de países emergentes, inclusive o nosso real, que, após bater o patamar de R$ 5,80, desceu de elevador até os R$ 5,00.

A combinação desses dois vetores resultou em uma Bolsa que bateu 12.400 pontos em dólares para uma escalada brusca de mais de 45% até os 18 mil pontos em dólares.

Será que o investidor estrangeiro viu a Bolsa em moeda estrangeira a preço de banana e se motivou a comprar? Não é o que o fluxo de recursos nas últimas semanas demonstra. Os gringos pararam de vender, mas ainda não acionaram as compras.

A realidade é que, apesar de os bancos estrangeiros estarem sendo mais vocais sobre a Bolsa brasileira estar barata, ainda acho cedo para o gringo aportar recursos por aqui com afinco. A instabilidade política é uma barreira para o dinheiro estrangeiro.

Os fundos macro (hedge funds) ainda estão bem cautelosos em entrar de cabeça em renda variável; os fundos de ações já haviam reforçado suas posições quando a Bolsa se aproximou dos 60 mil pontos e, nas últimas semanas, já estavam com caixa mais limitado.

Será que os fundos de pensão, que detêm bilhões de reais sob gestão, começaram a aumentar a sua alocação em Bolsa?

Não sei. Prefiro ficar com a opinião de um amigo que é private banker em Wall Street: “Max, esse fluxo comprador está vindo da pessoa física. Aqui [nos EUA] muita gente ganhou US$ 1.200 do governo nesta crise e está comprando ações em meio à quarentena; no Brasil, os investidores individuais se deram conta que precisam ir para mais risco para ter mais retorno. Ninguém quer ficar na renda fixa a 2%”.

Será que nós, pessoas físicas, estamos tendo toda essa força?

No Brasil, o CDI baixo empurra o investidor para ativos de risco. Um processo que está se mostrando estrutural e não conjuntural. Vamos ter que nos acostumar com juros em patamares baixos por muito tempo e isso é muito bom para o mercado de renda variável.

Nos EUA, mesmo com os índices acionários voltando para suas máximas históricas, os investidores ainda veem atratividade diante de ações que lhe entreguem de 1,5% a 2,0% de dividend yield ao ano mais o potencial de valorização das ações.

Sabe qual é o nome disso que estamos presenciando?

É o famoso TINA (“There Is No Alternative”). Ou, em português: “não há outra alternativa”.

Esse acrônimo é perfeito para explicar este momento do mercado, quando vemos uma devastação econômica mundial — no entanto, as ações continuam subindo com força. Diante de taxas de juros muito baixas ou negativas, a Bolsa é o principal refúgio para os investidores.

Não há alternativa a não ser investir em ativos de risco. É o que vem dando o tom dos mercados nos dias de hoje.

Mas aí eu faço um contraponto. Há exatos 13 meses, o Ibovespa estava no mesmo patamar atual. Você lembra qual era o cenário naquele momento?

Confiança do consumidor e do empresário subindo; expectativa do PIB brasileiro crescendo 2,5%; o mercado financeiro empolgado com as reformas estruturantes em vias de serem aprovadas no Congresso e, depois, colocadas em prática.

Hoje não temos nada disso e a esse ambiente somam-se a tensão econômica entre China e EUA, manifestações socioculturais no mundo todo, falta de visibilidade sobre a recuperação econômica global e uma turbulência política aqui dentro.

E com tudo isso, a Bolsa está nos mesmos 90 mil pontos. Será que já está tudo no preço? Estamos presenciando um excesso de otimismo?

O mercado costuma exagerar para cima e para baixo. Os 63 mil pontos de março podem ter sido um exagero, mas será que os 93 mil pontos de hoje também não o são?

Cabe a reflexão. Não tenho a resposta.

Veremos se o TINA tem esse poder todo para suportar esta alta dos mercados. Por ora, esteja posicionado em ações e calibre sempre suas posições.

E tenha sempre em mente as sábias palavras da vovó Helga: dinheiro bom é dinheiro no bolso.

 

 

 

 

Equity Research, CNPI, CGA
Graduado em Ciências Econômicas pela UFRJ e pós-graduado em finanças pela FGV-RJ, Max Bohm acumulou experiência como analista e gestor de ações em grandes instituições como Valia e Grupo Icatu Seguros. Atualmente, é sócio da Empiricus, responsável pelas séries Microcap Alert e As Melhores Ações da Bolsa.
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Graduado em Ciências Econômicas pela UFRJ e pós-graduado em finanças pela FGV-RJ, Max Bohm acumulou experiência como analista e gestor de ações em grandes instituições como Valia e Grupo Icatu Seguros. Atualmente, é sócio da Empiricus, responsável pelas séries Microcap Alert e As Melhores Ações da Bolsa.
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