Mercados

Não é só o Ibovespa: Como a China virou o olho da nova tempestade financeira global

15 ago 2023, 16:18 - atualizado em 15 ago 2023, 16:18
Ações, carteira recomendada China Ibovespa
China está se arrastando para o buraco (Imagem: REUTERS/Amanda Perobelli)

Pode parecer estranho, mas bastou que o Copom anunciasse o primeiro corte na taxa Selic em três anos para que o Ibovespa engatasse uma verdadeira marcha ré.

A Bolsa brasileira está a caminho de colecionar 11 pregões consecutivos de queda, a pior sequência em quatro décadas, afastando-se do que está se provando uma super resistência aos 121 mil pontos. Embora o cenário interno tenha sua parcela de culpa na dinâmica em curso, analistas do mercado concordam que as principais raízes do mau humor estão a milhares de quilômetros do Brasil.

Desde o início de agosto, o pior momento para a economia da China em dois anos — que, vale lembrar, é o principal parceiro comercial do Brasil —  tem fortalecido o dólar americano como “rota de escape” contra incertezas no horizonte.

A combinação é desfavorável para o Ibovespa, mas não se restringe ao índice local. Na Europa, os últimos 15 dias foram marcados por quedas nas principais Bolsas: em Londres (FTSE100), queda de 3,71%; em Paris (CAC), 1,87%; em Frankturt (DAX), 4,13%.

Nos Estados Unidos, os índices acionários Dow Jones Industrial Average (DJIA) e S&P 500 (SPX) caem, respectivamente, 1,77% e 2,81%. Apenas o Nasdaq se salva marginalmente, tendo subido 0,14% no período.

Nos mercados emergentes, os ruídos vindos da China fizeram o MSCI Emerging Markets Index, índice que reúne mais de 1.200 ativos de 25 países emergentes, cair 5,86% nos últimos dias.

A crise de valor na China

A segunda maior potência do mundo está atolada em uma crise deflacionária, um cenário frontalmente oposto ao que se esperava no início do ano, quando se ensaiava a reabertura econômica do país.

Nas últimas semanas, pegaram o mercado de surpresa os índices de preços ao consumidor (CPI, na sigla em inglês) e ao produtor (PPI, na sigla em inglês) para o mês de julho. Enquanto o CPI mostrou uma deflação de 0,3% em 12 meses, fato não visto desde 2021, o PPI deflacionou ainda mais: 4,4% no confronto anual.

Dados de investimento, vendas do varejo, desemprego e produção industrial divulgados hoje sobre o mês de julho complementaram o cenário de desaceleração da economia, a qual o governo tem respondido com cortes nas taxas de empréstimo.

Ainda hoje, o Banco Popular da China (PBoC, na sigla em inglês) executou o segundo corte em dois meses, desta vez de 0,15 ponto percentual, na taxa de juros referente a empréstimos de 12 meses. À marca de 2.5%, a taxa de referência de médio-prazo se encontra no menor nível desde 2020, o primeiro ano da pandemia de covid-19

Até aqui, as autoridades chinesas tem hesitado em tomar passos mais ousados para estimular a economia, dado o impacto que pacotes fiscais de larga escala podem causar ao já desvalorizado yuan/reinmibi chinês.

Na última segunda-feira, o yuan internacional (offshore) alcançou a mínima do ano, sendo negociado a US$ 7,30.

Os cortes de juros se mostram inócuos para ressuscitar o problemático mercado doméstico. Desdobramentos recentes mostram que a crise do setor imobiliário, que vem dando sinais de esgotamento desde 2021, começam se espraiar para o setor financeiro.

Nesta semana, um conglomerados financeiro do país com valor superior a US$ 130 bilhões,  o Zhongzhi Enterprise Group, pode estar com problemas devido à alta exposição de seus produtos de investimento em empreendimentos imobiliários que perderam muito mercado nos últimos anos.

Estagiário
Jorge Fofano é estudante de jornalismo pela Escola de Comunicações e Artes da USP. No Money Times, cobre os mercados acionários internacionais e de petróleo.
Jorge Fofano é estudante de jornalismo pela Escola de Comunicações e Artes da USP. No Money Times, cobre os mercados acionários internacionais e de petróleo.
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