Biocombustível

Oferta guiará mistura em leilão 76 de biodiesel; Ubrabio defende matéria-prima importada

29 set 2020, 17:07 - atualizado em 29 set 2020, 17:07
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No 75º leilão de biodiesel, realizado em agosto para atender a demanda em setembro e outubro (Imagem: REUTERS/Jamil Bittar)

A oferta de biodiesel a ser apresentada em leilão em 5 de outubro será o fator determinante do percentual da mistura do combustível ao diesel no último bimestre do ano no Brasil, de acordo com associações de produtores, enquanto parte do setor avalia que seria fundamental a liberação temporária do uso de matéria-prima importada em cenário de baixa oferta.

Depois de uma forte alta de preços do biodiesel nos últimos leilões, com o mercado sendo desorganizado em um primeiro momento pela pandemia de coronavírus e devido a uma baixa oferta de soja para a produção do biocombustível após exportações aquecidas, o governo e a reguladora ANP decidiram reduzir provisoriamente a mistura de 12% para 10% entre setembro e outubro.

Para novembro e dezembro, a ideia é que o leilão vise inicialmente a mistura regulamentar de 12% de 2020, mas ela poderia ser reduzida dependendo da oferta verificada no certame, disseram as entidades do setor.

Segundo a Associação dos Produtores de Biocombustíveis do Brasil (Aprobio), ao final da fase 1 da Etapa 2 do leilão, a ANP vai avaliar, com base no volume ofertado, a capacidade de atendimento da mistura de 12%.

“Caso a agência considere necessária a redução da mistura, o início da fase 2 da Etapa 2 será suspenso e retomado conforme cronograma a ser publicado no site do leilão”, disse a Aprobio.

A oferta, argumenta a associação, pode atender a demanda da mistura mínima B12, ainda que o consumo nacional de diesel no país continue relativamente elevado, podendo aumentar 3,3% no último bimestre ante o mesmo período do ano passado.

Mas essa demanda pode ser atendida desde que o Preço Máximo de Referência (PMR) no leilão de biodiesel “reflita as condições de custo das matérias-primas”, reiterou a Aprobio, em comunicado enviado à Reuters.

Já a Associação Brasileira das Indústrias de Óleos Vegetais (Abiove), que reúne também tradings de soja, além de processadores da oleaginosa, afirmou que o Ministério de Minas e Energia e a ANP “estão conduzindo um processo de entendimento de forma muito profissional entre produtores de biodiesel e distribuidores visando garantir que a mistura em novembro e dezembro seja definida em função da oferta e da demanda”.

Procurado, o Ministério de Minas e Energia não comentou de imediato.

Uso do Importado

Embora a Abiove e a Aprobio afirmem que o abastecimento de biodiesel está garantido nos próximos meses, uma outra associação do setor, a Ubrabio avalia que a excessiva exportação de soja, que responde por mais de 70% da matéria-prima do biocombustível, tem gerado um aperto de oferta neste momento de entressafra.

Por isso, ela avalia que o governo deveria autorizar temporariamente o uso de matérias-primas importadas para a produção de biodiesel, algo proibido no momento considerando as características do programa nacional, que entre outros objetivos foi desenvolvido para gerar uma demanda para produtores familiares.

“A produção de óleo de soja nacional está insuficiente para cumprir o planejado para o final do ano”, disse à Reuters o presidente da Ubrabio, Juan Diego Ferrés.

Segundo ele, bastaria uma resolução do Ministério de Minas e Energia autorizando o uso de matérias-primas importadas, o que poderia beneficiar, por exemplo, parceiros comerciais do Mercosul. A flexibilização poderia atingir soja também, não apenas o óleo.

“Com isso, o mercado todo poderia usar sem qualquer restrição o óleo importado para regularizar a oferta e até diminuir o custo elevado do biodiesel, que está sendo questionado por vários agentes e gera um desconforto para o governo”, afirmou ele.

No 75º leilão de biodiesel, realizado em agosto para atender a demanda em setembro e outubro, o preço médio subiu 43,6% ante o certame para atender o bimestre anterior, apesar de o evento ter sido realizado para uma mistura menor do que a regulamentar.

Segundo ele, a importação de óleo de soja e gorduras é algo normal, e está ocorrendo, mas não é possível utilizar essa matéria-prima para a produção de biodiesel.

A associação é contra, contudo, a liberação da importação de biodiesel.

Segundo ele, o Brasil já tem importado cerca de 100 mil toneladas de óleo, e uma flexibilização para o uso como matéria-prima de biodiesel poderia elevar as compras no exterior em cerca de 50 mil toneladas por mês.

“O maior resultado é no volume da oferta… tirando o setor do estresse com essa oferta menor que a demanda…, quanto aos preços está havendo exagero especulativo dos fornecedores que têm eventualmente disponibilidade de matéria-prima”, disse ele, defendendo a flexibilização do uso de importação também para o leilão que vai atender o primeiro bimestre de 2021, até a chegada da nova safra de soja do Brasil.

Ferrés afirmou ainda que o óleo de soja importado pode chegar ao porto brasileiro 50 dólares por tonelada mais barato que o nacional, atualmente cotado em torno de 900 dólares por tonelada.

Na quarta-feira, o setor deve se reunir com representantes do Ministério de Minas e Energia, quando o assunto deverá ser abordado.