Money Times Entrevista

Os planos da Volkswagen para os R$ 16 bi investidos aqui no Brasil, segundo o CEO Ciro Possobom

26 fev 2024, 16:56 - atualizado em 28 fev 2024, 15:47
Ciro Possobom Volkswagen carros carro elétrico
Ciro Possobom, CEO da Volkswagen do Brasil, destaca que, apesar das dificuldades e do mercado mais contido, vê um cenário otimista e crescente para a setor automotivo. (Divulgação: Volkswagen)

Os últimos anos foram brutais para o setor automotivo: as empresas viram as vendas de carros caírem, enquanto os juros subiam. Além disso, houve uma redução no número de modelos disponíveis, demissões em massa e montadoras deixando o país.

Apesar da turbulência, agora, as companhias de carros vislumbram um cenário econômico melhor, tanto que a expectativa é de que Brasil recebe um total de R$ 41,4 bilhões em investimento da indústria automobilística até 2032.

Nesta lista está a Volkswagen. A empresa anunciou um investimento de R$ 16 bilhões no país até 2028 — dobrando o ciclo de investimentos atual, que era de R$ 7 bilhões entre 2022 a 2026.

O plano da montadora, que completou 70 anos no país, é modernizar as suas quatro plantas industriais e apostar nos veículos elétricos e híbridos. A previsão é de que 16 novos veículos sejam lançados no mercado nacional até 2028.

Em entrevista para o Money Times, Ciro Possobom, CEO da Volkswagen do Brasil, destaca que, apesar das dificuldades e do mercado mais contido, vê um cenário otimista e crescente para a setor automotivo.

“É um mercado que cresce, o que é muito positivo para o setor. E eu acredito muito que a Volkswagen vai crescer mais que o mercado, fruto dos lançamentos e competência comercial”, afirma.

Segundo o executivo, a tendência é de que a gente veja um aumento dos carros elétricos nos próximos anos, mas vale destacar que, aqui no Brasil, somente 5% do setor é eletrificado.

“Pessoalmente, eu acho que é uma boa solução urbana, só que é uma solução mais cara, dispendiosa. O custo dela é um pouco mais alto, tem toda a parte de infraestrutura e de recarga. Então, o Brasil ainda tem muito o que fazer para acompanhar outros países no mundo”.

Confira a entrevista completa de Ciro Possobom, da Volkswagen

Money Times: Os últimos anos foram difíceis para a indústria automotiva aqui no Brasil. Como a crise afetou a Volkswagen e o que a empresa fez para passar por esse período?

Ciro Possobom: Realmente, a gente teve anos bastante difíceis no passado, principalmente com a pandemia, falta de peças e semicondutores que afetou a indústria como um todo. O mercado não é tão grande e ele ainda caiu muito nos últimos 10 anos. Por exemplo, a previsão deste ano é de 2,3 milhões de carros.

Então, foi um ano bem difícil para indústria como um todo. Mas é legal ver o lado positivo da Volkswagen e da força que tem esse grupo. Nós conseguimos nos recuperar bem em termos de resultados de vendas e tivemos uma ofensiva gigantesca de produtos. Também lançamos 11 carros aqui no Brasil nos últimos três anos, então continuamos investindo muito forte.

E estamos trabalhando com diversidade, foco no cliente, como é que a gente desenvolve mais rentabilidade das concessionárias, a relação com fornecedor, além de todo o trabalho com as pessoas. Então, para coroar esse trabalho bem feito da marca aqui no Brasil, agora a gente tem esse anúncio recente dos R$ 16 bilhões, que mostra bem para onde a empresa quer ir.

MT: Desse carros lançados nos últimos anos, a empresa focou em algum segmento específico?

CP: O legal da Volkswagen é que a gente tem a maior gama das montadoras e lançamos  carro de tudo que é lado. Desde modelos de entrada, que é o Polo e Polo Track, até pickups e SUVs. Então teve o Nivus, o T-Cross, teve muita coisa que chegou nesses 11 carros. E essa é a nossa vantagem.

MT: O ano de 2024 começou diferente, com as vendas de carro subindo e a empresa anunciando um investimento de R$ 16 bilhões. Como você enxerga o mercado hoje?

CP: Eu vejo o mercado otimista e crescendo. Não vai crescer tanto, mas é um mercado que cresce, o que é muito positivo para o setor. E eu acredito muito que a Volkswagen vai crescer mais que o mercado, fruto dos lançamentos e competência comercial

Nós estamos muito focados no trabalho com os clientes, então a gente deve ter um bom ano em 2024. Deve ser positivo, com um cenário econômico um pouco melhor, principalmente no segundo semestre, como a queda de juros para cliente. Isso deve ajudar um pouco as vendas aqui no setor.

MT: Quais são os desafios da indústria automotiva aqui no Brasil?

CP: Acho que o principal desafio falando de Brasil seria o volume e crescimento. A gente precisa crescer, mas ainda temos um volume de mercado muito baixo em relação ao que foi o Brasil em 2012. Nós somos uma indústria e indústria precisa ter volume.

Ligado a isso, tem toda a parte econômica. Os juros altos, por exemplo, não ajudam a gente, não ajuda o setor, não ajuda a vender carro, não ajuda a vender geladeira, não ajuda a vender nada. Essa é a dificuldade que as indústrias têm passado

O segundo ponto que a gente fala muito é sobre isonomia entre as montadoras, sobre isonomia fiscal, incentivos, etc. O ideal é que possa ter uma regra clara para todos e que a gente possa jogar no mesmo jogo e que todo mundo venha, produza aqui e faça parte do desenvolvimento do Brasil, assim como a gente faz há 70 anos.

MT: E como a Volks pretende contornar esses desafios?

CP: Esse próprio anúncio dos investimentos já mostra como estamos trabalhando. A empresa está investindo, colocando dinheiro e lançando novos carros. Acho que essa ofensiva de produtos é a grande resposta que estamos dando para a competição. Tem gente anunciando que vai fazer R$ 2 bilhões, a Volkswagen vem e faz R$ 16 bi.

Isso que é legal e a gente não trabalha só em produto. Também estamos focando muito em serviços. Como é que a gente presta um serviço melhor para o nosso cliente? São quase 500 lojas no Brasil e estamos reformulando para um novo design e acolhimento para o cliente. Acho que isso tudo faz parte do nosso negócio.

Também estamos trabalhando muito com descarbonização. Então, estamos investindo muito em tecnologia, carros híbridos e estamos trazendo carros elétricos. Isso faz parte do nosso compromisso para ser mais competitivo e estar cada vez mais presente aqui no Brasil.

MT: Quais são os planos para esses R$ 16 bilhões? Vocês pensam em novidades para o parque fabril de vocês?

CP: Nós temos quatro plantas no Brasil, então estamos trazendo um novo motor ainda mais inovador e eficiente para veículos híbridos para a planta de São Carlos, carros novos para a planta da Anchieta, uma pickup nova para São José dos Pinhais e trazendo também um carro nova para Taubaté.

Ou seja, para todas as plantas, a gente está trazendo projetos novos, inclusive carros híbridos, uma nova plataforma inovadora, tecnológica, flexível e sustentável – o projeto MQB Hybrid – e um novo motor. E, como eu falei, várias iniciativas de descarbonização, de digitalização, de melhorias para o cliente, inteligência artificial.

A indústria tem grandes desafios, e um deles é essa transformação do combustão para eletrificação e como que a gente conduz isso com responsabilidade. Hoje, o mercado de eletrificação representa 4,5% do setor, ou seja, 95% é a combustão ainda. Então, como é que você faz essa transição dessa tecnologia? Isso faz parte dos investimentos que anunciamos.

MT: Sobre o mercado de carros elétricos: devemos ver uma expansão dos modelos no país?

CP: Eu acho que sim. Essa é uma tendência no mundo, principalmente China, Europa e um pouco nos Estados Unidos. Mas, ainda assim, a maior parte dos carros é a combustão, sendo que ainda está tendo uma pequena desaceleração no mundo.

Mas o Brasil vai entrar nisso e a Volkswagen é um dos grandes players do mundo hoje em carros elétricos. Pessoalmente, eu acho que é uma boa solução urbana, só que é uma solução mais cara, dispendiosa. O custo dela é um pouco mais alto, tem toda a parte de infraestrutura e de recarga. Então, o Brasil ainda tem muito o que fazer para acompanhar outros países no mundo.

MT: O preço dos carros elétricos ainda é algo que pesa para o consumidor. Como a Volks pretende trabalhar para deixar os modelos mais acessíveis?

CP: Esse também é um grande desafio das montadoras, porque, no final, também somos uma empresa de alta tecnologia. E os carros cada vez mais com mais tecnologia, tem muito componente; e o carro elétrico tem muita tecnologia embarcada.

Não adianta continuar produzindo carros híbridos e elétricos trazendo coisa de fora. Para conseguir baratear, você precisa desenvolver essa tecnologia aqui no Brasil. Com isso o carro fica competitivo em relação aos modelos a combustão.

Você também precisa estimular essa cadeia de fornecimento aqui dentro, então é isso que a gente tem feito: a gente investe também no nosso parque de fornecedores, só na Volkswagen são mais de 3 mil fornecedores que realmente estão com a gente participando desse desenvolvimento.

MT: Como é isso do ponto de vista de mão de obra? Um carro elétrico demanda de especialista especial especializada do que um carro a combustão?

CP: Sim, acho que tudo que requer uma nova tecnologia, os colaboradores também vão precisar se adaptar a essas novas chegadas. Então, quando a gente vai montar um carro híbrido, a gente não olha só os componentes do carro, mas principalmente o desenvolvimento. Ou seja, nós olhamos muito para a equipe de engenharia e software.

Hoje, o carro tem ganhado cada vez mais tecnologia: é radar, freia sozinho, acelera sozinho e o airbag. Tudo isso é bastante complexo, então a gente investe muito no treinamento da engenharia, tanto que a Volkswagen está aumentando a quantidade de engenheiros aqui no Brasil para poder produzir esses carros.

Além disso, a nossa linha de montagem também passa por treinamentos. E não podemos esquecer do cliente: ele vai comprar um carro híbrido, então ele precisa ser bem atendido e passar pela manutenção da empresa não imposta se estão em São Paulo, Rio Grande do Sul ou Bahia.

MT: Nós temos uma nova geração de consumidores que estão optando por não ter carro próprio. Como você enxerga isso e o crescimento do segmento de aluguel de carros?

CP: A sociedade claro evolui, muda, mas é o que eu digo sempre: a necessidade de mobilidade vai sempre continuar existindo. Por mais que você não queira comprar um carro e opte por usar o Uber, tudo bem. O Uber precisa de um carro e eu também vendo o carro para o Uber, para locadoras, para taxistas. Os canais vão mudando, mas o cliente continua tendo a necessidade de mobilidade.

Então, a gente se adapta a esse cliente. Por exemplo, a Volkswagen tem o Sign&Drive, que você pode alugar um carro por um valor mensal e você tem tudo, manutenção, seguro… Nós estamos trazendo outros modelos de negócio para realmente nos adaptarmos para esse cliente.

MT: Para os próximos anos quais são os carros que vocês estão planejando

CP: O que eu posso dizer é nós vamos lançar 16 carros até 2028. Essa é nossa ofensiva recente de veículos.

MT: Você percebeu uma mudança do gosto do consumidor motorista brasileiro ao longo dos últimos anos?

CP: Sim, mudou muito o comportamento do consumidor. As SUVs cresceram não só no Brasil, mas no mundo inteiro, e já representam 45% das vendas no Brasil. Isso é recorde. Antigamente, o carro mais popular aqui era o hatch, como Gol. As pessoas compravam os carros menores e o mercado mudou.

Acho que a gente acertou na parte de inteligência da Volkswagen de mudar o lineup também para se adaptar a isso. O consumidor está mudando e a gente tem que adaptar os nossos carros de acordo com essa necessidade dele.

Editora-chefe
Formada em Jornalismo pela PUC-SP, tem especialização em Jornalismo Internacional. Atua como editora-chefe no Money Times e já trabalhou nas redações do InfoMoney, Você S/A, Você RH, Olhar Digital e Editora Trip.
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