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Pedro Serra: Qual o futuro do mercado de óleo e gás no Brasil?

11 fev 2021, 20:37 - atualizado em 11 fev 2021, 20:37
Petrobras
“Para iniciar nossa análise, vale lembrar que a última década foi marcada por desafios para a petrolífera, que conviveu com uma série de crises”, escreve o colunista (Imagem: REUTERS/Sergio Moraes)

Nesta semana, a Petrobras (PETR3;PETR4) esteve no centro das atenções devido a sua política de preços. Comentários e notícias sobre se a empresa modificou sua política quanto à paridade de preços com o mercado internacional, além de, claro, o grau de interferência do governo nas decisões da petrolífera, rondaram o mercado e os noticiários.

Para iniciar nossa análise, vale lembrar que a última década foi marcada por desafios para a petrolífera, que conviveu com uma série de crises que corroeram seu prestígio perante o mercado, aumentou seu endividamento e criou uma espécie de desconto natural nos múltiplos em que suas ações são transacionadas.

Para exemplificar a atual situação da companhia, e como isso pode impactar no futuro do segmento de petróleo e gás no Brasil, é interessante fazer uma análise sobre o avanço na venda da refinaria Landulpho Alves, na Bahia.

Ainda que o mercado discuta o preço arrematado pela refinaria, entender o contexto da empresa na nova cadeia de downstream do mercado de óleo e gás nacional é fundamental.

O passo dado na alienação da RLAM foi mais um sinal firme de que o negócio será sacramentado, porém este ainda não está garantido.

Ademais, no mesmo dia em que foi anunciado o avanço nas negociações no Nordeste, a companhia informou que precisará refazer o pleito para a REPAR, onde as propostas que chegaram não agradaram.

Aqui, vale reforçar, que os principais concorrentes da companhia, o Grupo Ultra (UGPA3) e a Raizen Energia, têm motivos para não seguir adiante na competição.

A mesma coisa se espera dos concorrentes estrangeiros, que enxergam no mercado brasileiro de refino muitas assimetrias para novos entrantes.

De certo, os eventos que vêm ocorrendo desde a última sexta-feira, em nada tem a ver com o desfecho das ocasiões citadas acima.

Todavia, é importante destacar que o processo de venda das refinarias continua e que, mesmo após seu término, a própria Petrobras será uma das principais interessadas no fomento de um ambiente saudável de preços e competição.

Mesmo se desfazendo de RLAM, REPAR, RNest, Regap, Refap, Reman, Lubnor e SIX, a companhia seguirá como price maker do mercado de refino do país.

Ou seja, o término do processo de desinvestimentos não finda sua ligação com o setor, muito menos a desobriga a manter práticas que a tornem mais rentável.

Ainda que sua atuação seja diferenciada, uma vez que será focada quase que exclusivamente no Sudeste, já que apenas um dos oito sítios restantes estará localizado fora desta região, o peso-morto do mercado será
proporcionalmente menor mediante a inexistência de assimetrias como as observadas esta semana.

3R Petroleum RRRP3
O caso da 3R é emblemático, pois após uma década de desventuras e registrar um único IPO, foi observado o nascimento quase que silencioso de um novo player (Imagem: Divulgação/3R Petroleum)

O que esperar para o futuro

Em relação ao futuro deste mercado, basta avaliarmos operações de alguns players do setor, como a PetroRio (PRIO3) e a 3R (RRRP3), exemplos positivos de como esse segmento pode seguir tendo um papel relevante na nossa economia.

O caso da 3R é emblemático, pois após uma década de desventuras e registrar um único IPO, foi observado o nascimento quase que silencioso de um novo player que, paulatinamente, vem mostrando que pode crescer no segmento.

Em pouco menos de quatro meses, a companhia é a mais ativa no processo de desinvestimentos da Petrobras, tendo adquirido nada menos que seis ativos da gigante nacional.

Possuindo um foco voltado à maior rentabilização de operações onshore, a companhia é o maior expoente quanto a possibilidade de existência de um futuro animador para o setor no país.

Já a PetroRio , assim como a Petrobras, surpreendeu o mercado por sua gestão de crise e fôlego para planejar seu crescimento diante de um cenário de Brent, em que a demanda e oferta global ainda eram erráticas. Vale pontuar que a operação da empresa envolve mais risco que a da 3R e até mesmo da Petrobras.

Após o sucesso no tempo de maturação dos campos de Polvo, Frade e mais recentemente Tubarão-Martelo, a empresa surpreendeu o mercado ao anunciar sua intenção em alienar os campos de Wahoo e Itaipú.

Se Wahoo realmente fornecer 40.000 barris/dia, 60% da produção da companhia virá de uma operação menos custosa, mais rentável e cujo sucesso pode motivá-la a seguir firme em sua estratégia de crescimento.

3R Petroleum
Implícita e inexoravelmente, o mercado está, novamente, conferindo o benefício da dúvida aos players do setor (Imagem: YouTube/ 3R Petroleum)

O impacto para o investidor

Sobretudo para Petrobras, o movimento de readequação interna para o futuro nos parece não ter sido totalmente precificado, ao contrário do que vemos em Petrorio e 3R, cujos recentes anúncios expansivos resultaram em igual crescimento em suas cotações na bolsa.

Implícita e inexoravelmente, o mercado está, novamente, conferindo o benefício da dúvida aos players do setor e cobrando um prêmio da companhia ainda mais aliado às práticas estatais.

Tal movimento nos ajuda a delimitar não somente a crença do mercado num futuro para o setor bem como as premissas necessárias para que ele prospere.

Se ações valem mais do que palavras, não faltam movimentações relevantes e recentes para provar a confiança de players com o futuro do setor no país.

É inegável que novos desafios virão à tona, tanto nas cadeias mais altas, que envolvem exploração e produção, como risco exploratório e demanda produtiva; assim como nas mais baixas, que, atualmente, levanta os seguintes questionamentos:

Qual será o futuro dos derivados de petróleo? Haverá mercado para eles em 2050? Como se dará a renovação da matriz energética mundial?

Além de outras questões importantes como a dinâmica tributária do setor; o preço da commodity; as formas de lidar com o gás extraído; e a maneira como as companhias administram os desafios ambientais, sociais e de governança, certamente ainda se farão presente para as empresas e investidores do setor.

Gerente de Research da Ativa Investimentos
Pedro Serra é gerente de Research da Ativa Investimentos e tem mais de dez anos de experiência no mercado financeiro, com passagens pela Petros e Fundação Real Grandeza. É formado em Economia pela Universidade Candido Mendes, tem MBA pelo Ibmec e possui certificação CNPI.
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Pedro Serra é gerente de Research da Ativa Investimentos e tem mais de dez anos de experiência no mercado financeiro, com passagens pela Petros e Fundação Real Grandeza. É formado em Economia pela Universidade Candido Mendes, tem MBA pelo Ibmec e possui certificação CNPI.
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