Economia

Por que o Copom vai manter a Selic em 13,75%?

21 jun 2023, 10:43 - atualizado em 21 jun 2023, 11:16
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A expectativa é de que a taxa básica de juros seja mantida em 13,75% ao ano e comece a cair só em agosto. (Imagem: Marcello Casal Jr/Agência Brasil)

Hoje, o Comitê de Política Monetária (Copom) se reúne para determinar o futuro da Selic. A expectativa é de que a taxa básica de juros seja mantida em 13,75% ao ano, seguindo o ciclo de manutenção que o Banco Central adotou em agosto do ano passado, após mais de um ano de aperto monetário.

No entanto, o mercado também projeta que o Copom sinalizará uma eventual mudança na Selic a partir de agosto. Na próxima reunião, o Banco Central pode confirmar uma redução de 0,25 ponto percentual nos juros.

Na avaliação geral, alguns fatores estão segurando a Selic no atual patamar, sendo que um deles é a meta de inflação. No semana que vem o Conselho Monetário Nacional (CMN), irá definir a meta de 2026 e debater sobre mudanças nas metas já determinadas de 3,25% para 2023 e 3% para 2024 e 2025, cada.

  • Hoje é dia de Copom e pode ser a última vez da Selic em 13,75%. A expectativa para agosto, próxima reunião, é de corte. Qual é o cenário para os FIIs? Assista ao Giro do Mercado de hoje (21) e veja a resposta do analista da Empiricus Research Caio Araújo. Inscreva-se no nosso canal e não perca o Giro do Mercado, de segunda a sexta-feira, às 12h

Em entrevista para o Estado de S. Paulo, José Julio Senna, chefe do Centro de Estudos Monetários do Instituto Brasileiro de Economia (Ibre) da Fundação Getúlio Vargas (FGV), destaca que o corte na Selic deve acontecer se as atuais metas forem mantidas.

Já Rafael Passos, analista da Ajax Capital, afirma que queda dos juros longos, a expressiva desaceleração da inflação, a percepção de eficácia do trabalho do BC e a recente melhora das expectativas de inflação devem criar esse ambiente propício para que a taxa Selic seja reduzida “à frente”.

Por outro lado, média dos núcleos do IPCA tem caído lentamente e permanece em nível alto, fazendo com que o início do ciclo de cortes da Selic seja administrado com muita cautela.

“O risco de cortes menores ou até mesmo pela manutenção da Selic está associado a eventuais problemas no Congresso, tanto em relação à votação final das novas regras fiscais como em relação ao avanço da reforma tributária”, afirma. “Já o risco dos cortes da Selic serem maiores está associado à velocidade de reancoragem das expectativas de inflação para os próximos anos, especialmente devido à esperada manutenção das metas de inflação em 3% para 2024 e os anos seguintes na reunião do CMN no final de junho”, completa.

Confira cinco pontos que o Banco Central vai avaliar antes de cortar a Selic

Inflação

O nível da inflação é o principal indicador econômico que o Banco Central acompanha, afinal, o seu papel principal é controlar a alta dos preços. Em maio, o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) subiu 0,23%, desacelerando-se em relação à alta de 0,61% apurada em abril.

Com isso, o indicador acumulada alta em 12 meses de +3,94%, de +4,18% no mês anterior e a inflação permanece dentro do teto da meta do Banco Central para 2023, de 4,75%, pelo terceiro mês consecutivo. Para o indicador de junho, a expectativa é de deflação.

Além disso, as projeções do mercado melhoraram. Segundo os dados do Relatório Focus, já são cinco semanas seguidas que os economistas revisam para baixo as expectativas do IPCA para final de 2023.

Por outro lado, Pedro Oliveira, tesoureiro do Paraná Banco Investimentos, aponta que a média dos núcleos de inflação segue pressionada, mas mostrou redução de 6,97% em abril para 6,45% em maio. Já a inflação de serviços, muito relevante na análise do BC, recuou de 7,49% para 6,52% no mesmo período.

“Como ambos os índices continuam em patamares acima de 6%, o Banco Central deve ser cauteloso e começar o ciclo de corte com 0,25 p.p. em agosto, podendo ser ajustado para maior, caso esses indicadores recuem com maior velocidade”, afirma.

Atividade econômica

No primeiro trimestre, o Produto Interno Bruto (PIB) pegou o mercado de surpresa ao avançar  1,2%. Apesar de puxado pelo crescimento expressivo na Agropecuária (21,6%), os dados mostram para uma economia resiliente, mesmo com a política monetária contracionista.

“Em linhas gerais, a resiliência da atividade econômica surpreendeu, enquanto, do lado dos preços, houve continuidade do processo gradual de desinflação”, aponta Mario Mesquita, economista-chefe do Itaú.

Ele lembra que, além do PIB, os indicadores de atividade referentes a março vieram acima das expectativas, com crescimento mensal de 1,1% da produção industrial, 0,9% do volume real do setor de serviços e 0,8% das vendas no varejo restrito.

Por outro lado, os dados de atividade de abril mostraram desaceleração econômica, com recuo de 0,6% da produção industrial, queda de 1,6% do volume real de serviços e estabilidade (+0,1%) das vendas no varejo restrito.

Já no mercado de trabalho, o Caged de abril apontou para a criação de 180 mil empregos formais. A taxa de
desemprego sem ajuste sazonal recuou de 8,8% em março para 8,5% em abril, mostrando um mercado de trabalho
ainda forte.

Meta da inflação

Também está no radar uma eventual mudança na meta de inflação, que será discutida pelo Conselho Monetário Nacional (CMN) no final do mês. No início do seu mandato, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva sugeriu uma revisão para cima na meta, a fim de acelerar os cortes na Selic.

A decisão deve recair sobre a manutenção da meta de 3%, podendo adotar o sistema de “metas contínuas”, sem datas definidas. Atualmente, as metas de inflação para 2023, 2024 e 2025 são de 3,25%, 3% e 3%, respectivamente.

“Uma mudança no horizonte para o cumprimento da meta e/ou ampliação da banda de tolerância em torno dela seriam negativas. A decisão do CMN deve impactar a formação de expectativas de inflação e, em última instância, a condução da política monetária”, afirma Mesquita, do Itaú.

Rating 

Na semana passada, a agência de classificação de risco S&P Global Ratings revisou a perspectiva de rating do Brasil de estável para positiva, reafirmando o rating “BB-”. Essa classificação positiva na nota de crédito brasileira não acontecia desde 2019.

Segundo a agência de classificação de risco, o país ganhou pontos após apresentar maior certeza sobre políticas fiscais e monetárias estáveis que podem beneficiar as atuais perspectivas de baixo crescimento do PIB do Brasil.

Alexandre Augusto Gaino, professor de economia da ESPM, destaca que essa revisão da nota de crédito brasileira, somada à manutenção temporária dos juros americanos pelo Federal Reserve, contribuíram para uma eventual descida dos juros.

“A classificação positiva para o país não acontecia desde 2019. A avaliação da classificação de risco significa na percepção da agência a capacidade de o país honrar suas dívidas e os fundos de investimento buscam países com as melhores notas”, diz.

Contas públicos

Na nossa leitura, os sinais fiscais também são bem positivos. O arcabouço fiscal deve ser votado nesta terça-feira (20), na Comissão de Assuntos Econômicos do Senado. Como foram feitas mudanças na proposta, o texto voltará à Câmara, para ser debatido.

“As autoridades monetárias avaliaram que a apresentação de uma proposta de arcabouço contribuiu para reduzir parte da incerteza da política fiscal, afastando cenários extremos de crescimento da dívida pública. No entanto, voltaram a alertar que não há relação mecânica entre a aprovação do arcabouço fiscal e a convergência da inflação”, afirma Mesquita.

Editora-chefe
Formada em Jornalismo pela PUC-SP, tem especialização em Jornalismo Internacional. Atua como editora-chefe no Money Times e já trabalhou nas redações do InfoMoney, Você S/A, Você RH, Olhar Digital e Editora Trip.
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