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Quem quer comprar a Marisa (AMAR3)? Veja como pode ser o futuro da varejista

24 fev 2023, 16:48 - atualizado em 24 fev 2023, 16:48
Loja da Marisa
Marisa voltou a ser um dos principais tópicos do mercado corporativo nas últimas semanas (Imagem: Money Times/Márcio Juliboni)

O mercado está ciente de que os problemas da Lojas Marisa (AMAR3) não são de hoje. Ao longo dos últimos anos, a companhia engatou diversos processos de reestruturação, levando a uma série de mudanças no quadro da diretoria executiva – movimento bem parecido com o que a varejista está vivendo atualmente.

A companhia voltou a ser um dos principais tópicos do mercado corporativo nas últimas semanas ao anunciar a renúncia de Adalberto Pereira dos Santos à presidência da empresa, além da saída de Marcelo Adriano Casarin como membro do conselho de administração.

Na ocasião, a Marisa também anunciou sua mais nova tentativa de reestruturação. A varejista de moda disse que contratou a BR Partners para assessorá-la no processo de renegociação de seu endividamento junto a credores e a Galeazzi Associados para apoiá-la no aperfeiçoamento da estrutura de custos.

No fim da última semana, a Marisa elegeu seu novo CEO, João Pinheiro Nogueira Batista, que também foi nomeado para ser o diretor de relações com investidores.

Em paralelo, a empresa nomeou Luis Paulo Rosenberg para assumir interinamente o cargo de presidente do conselho de administração e elegeu Roberta Ribeiro Leal para ocupar o cargo de diretora financeira, tendo sido aceita a renúncia de Renê Santiago dos Santos.

Com os anúncios recentes das demissões de executivos e membros do conselho de administração, a Marisa viu suas ações derreterem mais de 30%. Atualmente, os papéis são negociados na casa dos centavos.

Ricardo Brasil, fundador da Gava Investimentos, reforça que as trocas na diretoria são recorrentes e mostram quão complicada é a situação da Marisa.

“Tem muitos diretores que não querem continuar na Marisa. […] Tem gente que não quer entrar no conselho de administração da Marisa, porque já sabe o tamanho da bomba que vai ser”, comenta.

“O mercado não vê com bons olhos. Já não é a primeira troca. Você tem troca na gestão da Marisa o tempo inteiro. Essa é só mais uma – talvez agravada inclusive pela Americanas (AMER3)”, completa.

O buraco é mais embaixo

A Marisa tenta renegociar as dívidas que vão vencer em 2023, de R$ 200 milhões, junto a credores. Mas o histórico dos últimos 10 anos, com tentativas frustradas de reestruturação e sucessivos aumentos de capital, pavimenta um caminho tortuoso em direção ao alongamento de seus financiamentos.

Fernando Ferrer, analista da Empiricus Research, destaca que, enquanto as dívidas de curto prazo somam R$ 200 milhões, a posição de caixa da companhia é de aproximadamente R$ 183 milhões.

“Ou seja, a posição de caixa que ela tem atualmente não cobre as dívidas de curto prazo”, diz.

A Marisa não só não tem dinheiro para cobrir essas dívidas com vencimento em menos de um ano, como também continua queimando caixa. Segundo matéria publicada pelo Valor Econômico, o novo CEO da varejista, na primeira reunião presencial com a Galeazzi, quis mapear as lojas que estão dando prejuízo para ver quantas serão fechadas.

Na avaliação de Ferrer, a Marisa se encontra em situação “bem crítica”. Essa nova rodada de mudanças na administração acontece no momento em que a companhia tenta renegociar suas dívidas, mas é recebida com um pouco de ceticismo pelo mercado.

“O histórico nos mostra que as trocas do passado não surtiram o efeito desejado”, afirma o analista.

Ferrer também acredita que a Marisa encontrará resistência por parte dos acionistas. Ele acha difícil que aprovem mais um aumento de capital para tentar desafogar a empresa.

Vale lembrar que o último aumento de capital da Marisa foi aprovado no fim de 2021 e homologado no início de 2022, no valor de R$ 250 milhões.

A Marisa não deu sinais de que está preparando um pedido de recuperação judicial. Antes disso, a companhia recorrerá a uma nova reestruturação.

No entanto, a entrada em recuperação judicial não é descartada por Ferrer. Dada a posição difícil no curto prazo, é possível que a companhia entre em recuperação judicial para tentar equacionar seu endividamento, diz o analista da Empiricus.

Marisa
Varejista está em processo de turnaround há 10 anos e parece não conseguir resolver seus problemas, avalia analista (Imagem: Renan Dantas/Money Times)

Marisa pode ser comprada?

De acordo com Ferrer, a Marisa, que já chegou a ser um ativo de interesse de outros nomes do varejo (inclusive Americanas), tem dois potenciais geradores de valor para uma eventual compradora: seus créditos fiscais de mais de R$ 500 milhões e o prejuízo acumulado de cerca de R$ 740 milhões, que poderia ser usado para abater impostos.

Por outro lado, ressalta o analista, a varejista está em processo de turnaround há 10 anos e parece não conseguir resolver seus problemas.

“A situação é bem complexa para companhia, porque todos sabem que ela não tem fôlego para que a operação consiga rodar, sobreviver”, afirma.

Ferrer acrescenta que, com o mercado atualmente sob estresse, um possível comprador sabe que os papéis da Marisa podem sofrer novas quedas, enxugando o valor de mercado da companhia.

“Dado esse cenário, não consigo enxergar hoje um eventual comprador para a companhia, embora ela tenha esses dois ativos com potencial de geração de valor”, finaliza o analista.

O fundador da Gava diz que um potencial comprador da Marisa realizaria um movimento ruim ao adquirir uma “empresa quebrada”. Uma saída poderia ser a incorporação.

“O provável para mim não seria exatamente uma compra, e sim uma fusão por troca de ações”, diz Brasil. Ainda assim, a incorporação não seria um movimento tão provável.

“Estamos falando de uma combinação de negócios, teria que fazer sentido para outra empresa. Geralmente, isso aconteceria se a outra empresa achasse que os pontos [comerciais] da Marisa são bons. […] Resta saber se alguém teria interesse nos ativos da Marisa. Não os financeiros, porque a empresa como produto não parece ser muito boa”, conclui Brasil.

Editora-assistente
Formada em Jornalismo pela Universidade Presbiteriana Mackenzie. Atua como editora-assistente do Money Times há pouco mais de três anos cobrindo ações, finanças e investimentos. Antes do Money Times, era colaboradora na revista de Arquitetura, Urbanismo, Construção e Design de interiores Casa & Mercado.
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Formada em Jornalismo pela Universidade Presbiteriana Mackenzie. Atua como editora-assistente do Money Times há pouco mais de três anos cobrindo ações, finanças e investimentos. Antes do Money Times, era colaboradora na revista de Arquitetura, Urbanismo, Construção e Design de interiores Casa & Mercado.
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