Economia

Reservas de US$ 340 bilhões blindam títulos contra rebaixamentos

08 maio 2020, 11:14 - atualizado em 08 maio 2020, 11:14
Bandeira do Brasil
Os títulos em dólar do Brasil são negociados em níveis semelhantes aos de grau de investimento, como os da Colômbia e México, cujas reservas equivalem à metade (Imagem:Flickr/Marcos Corrêa/PR)

As reservas internacionais de US$ 340 bilhões do Brasil ainda permitem aos investidores negociar títulos do país como se tivessem grau de investimento, mesmo sob o risco de serem rebaixados ainda mais em território junk.

As reservas em moeda estrangeira que equivalem a dois anos de importações, 18% do PIB ou metade da dívida externa do governo dão confiança aos investidores de que o país não terá problemas para cumprir suas obrigações.

Os títulos em dólar do Brasil são negociados em níveis semelhantes aos de grau de investimento, como os da Colômbia e México, cujas reservas equivalem à metade.

O Brasil tem rating BB-, três degraus abaixo do grau de investimento, em duas das principais agências de classificação.

Agora, a nota corre risco de cair para o nível B depois que a Fitch Ratings revisou a perspectiva para negativa nesta semana.

“O Brasil provavelmente continuará sendo negociado um pouco mais acima do que sua categoria de rating”, disse James Barrineau, chefe de dívida de mercados emergentes da Schroders, em Nova York. “As reservas fornecem um colchão muito grande.

Para investidores de títulos em dólar, isso é visto como um grande ativo, especialmente durante períodos de estresse.”

A ponta curta da curva de juros em dólar é particularmente baixa quando comparada aos pares. Títulos com vencimento em 2023 têm yield de 2,5%, abaixo da dívida do México e da Colômbia com prazo semelhante, apesar de seus ratings de grau de investimento. Títulos com vencimento em 2022 da Guatemala, também classificada como BB-, têm yield de 3,9%.

Para agências de classificação de risco, no entanto, há motivos de preocupação. A Fitch calcula que o déficit do governo deve aumentar para o dobro da mediana de países com rating semelhante neste ano, já que a pandemia bloqueou a agenda de reformas que deveria colocar a dívida pública em tendência de queda.

“As contas públicas do Brasil permanecem estruturalmente fracas e sofrerão ainda mais na atual crise”, disse Shelly Shetty, analista da Fitch responsável pelo rating do país, em relatório na terça-feira. A nova incerteza política complica ainda mais as perspectivas econômicas, disse.

Agências de rating e investidores concordam que uma forte queda das reservas internacionais não seria bem-vinda. Uma “erosão acentuada do colchão de reservas internacionais” foi destacada pela Fitch como um gatilho para um possível rebaixamento.

É algo para ser acompanhado, já que Banco Central tem usado as reservas para conter a alta do dólar que acumula valorização de cerca de 30% neste ano.

Desde janeiro, o BC gastou US$ 16,6 bilhões em leilões à vista para sustentar o real, a moeda com pior desempenho neste ano.

O ministro da Economia, Paulo Guedes, disse no fim de abril que o país poderia reduzir as reservas internacionais para cortar a dívida, mas não para financiar gastos com infraestrutura.

“O nível das reservas e como são usadas é algo a ser observado, porque essa é uma das âncoras do relativo bom desempenho dos títulos em dólar”, disse William Snead, analista do Banco Bilbao Vizcaya Argentaria, em Nova York. Ainda assim, “não é uma preocupação real por enquanto”.