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Rodolfo Amstalden: Longo prazo? É disso que eu estou falando

05 out 2020, 15:55 - atualizado em 05 out 2020, 15:55
Rodolfo Amstalden
“Todo investidor de longo prazo é um investidor de curto prazo que deu errado”, diz o analista

Você encontra um velho amigo da faculdade na festa da Ritinha (ou melhor, no Zoom da Ritinh@), começam a falar de finanças, que o Fundo DI deu negativo, dólar não para de subir, coisa de louco, né?

Mas seu amigo está sorrindo, o tempo todo sorrindo.

Deve ter tomado um doce, você pensa. E se lembra quando, quinze anos atrás, ele levou duas semanas para voltar do TUSCA.

Aquele sorriso irritante, trinta e dois dentes claros, perfeitamente alinhados, vai crescendo na tela do seu note, até que você não aguenta mais.

Sério que você tá feliz, mano? Não conheço uma pessoa que não esteja encerrando este ano mais pobre do que começou. Qual é o seu segredo?

“Cara, deixa eu te falar: dragão acordando, risco fiscal, lenda cidadã, nada disso me abala. Me sinto meio que acima desses fatos comezinhos, saca? Por quê? Porque eu estou investindo para o longo prazo.”

Então, de repente, você entende tudo. Essa simples frase basta para despir qualquer aura de mistério. Seu amigo está claramente perdendo rios de dinheiro em 2020.

Todo investidor de longo prazo é um investidor de curto prazo que deu errado.

Afirmo isso com bastante tranquilidade, pois sou responsável aqui na Empiricus pelo Programa de Riqueza Permanente com foco em baixo giro e alto carregamento de posições.

Eu amo a paciência como instrumento de juros compostos. Todos os meus principais acertos como analista se deram em horizontes acima de um ano.

Contudo, só chegamos ao longo prazo ao compor, sucessivamente, uma vasta série de curtos prazos. O longo prazo nada mais é do que uma combinação de infinitos momentos, encadeados pela dependência de caminho.

Qualquer atitude blasé em relação ao curto prazo custa caro. Se não formos capazes de sobreviver hoje, não haverá amanhã.

Então, temos que fazer as duas coisas enquanto investidores:

(i) Aproveitar as oportunidades do contexto atual à luz de uma provável convergência futura.

(ii) Desconfiar de uma provável convergência futura em face aos riscos do contexto atual.

Só um desses exercícios não basta. Precisamos dos dois, ao mesmo tempo. Tudo ao mesmo tempo agora.

É claro que não é fácil. Investir em longo prazo não é fácil, e não depende apenas de paciência (embora a paciência ajude muito).

Frequentemente, você vai perder dinheiro. Às vezes, vai perder muito dinheiro na marcação a mercado.

Se você se conformar com essa perda, repetindo o mantra de que “está investindo para o longo prazo, então tudo bem”, corre um enorme risco de não ver esse longo prazo milionário chegar.

Penso nisso da seguinte forma:

Suponha que você saiba exatamente quando vai morrer, e de que forma. Sei lá, uma vidente te contou.

Hoje, muito antes de chegar àquela data terminal em 22 de fevereiro de 2063, você atravessa a rua de casa e nota um caminhão desgovernado cruzando o sinal vermelho e acelerando na sua direção.

O que fazer?

Você fica passivo, no meio da rua, já que sua hora ainda não chegou?

Ou dá um pulo para alcançar a calçada o mais rápido possível?

É disso que eu estou falando quando falo sobre o longo prazo.

Sócio-fundador da Empiricus
Sócio-fundador da Empiricus, é bacharel em Economia pela FEA-USP, em Jornalismo pela Cásper Líbero e mestre em Finanças pela FGV-EESP. É autor da newsletter Viva de Renda.
Sócio-fundador da Empiricus, é bacharel em Economia pela FEA-USP, em Jornalismo pela Cásper Líbero e mestre em Finanças pela FGV-EESP. É autor da newsletter Viva de Renda.
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