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CryptoTimes

Rudá Pellini: afinal, faz sentido minerar bitcoins?

07 abr 2021, 11:16 - atualizado em 07 abr 2021, 12:45
A mineração de criptomoedas é um processo que garante a segurança da rede, em que grandes grupos de validadores são responsáveis por transmitir transações ao blockchain e ganham recompensas por seu trabalho (Imagem: Pixabay/InstagramFOTOGRAFIN)

No texto de hoje, resolvi falar sobre mineração (ou “mining”) de bitcoin (BTC). Para conseguir explicar a mineração de um jeito que todos os leitores entendam, antes preciso tratar alguns conceitos básicos com relação justamente à definição do que é bitcoin.

Uma das questões mais difíceis é definir e enquadrar o bitcoin em uma “caixa”.

Ele nasceu para ser um “Sistema de Dinheiro Eletrônico Ponto-a-Ponto”, que é muito mais do que uma moeda criptografada. Na prática, ainda não possui todas as características fundamentais para ser considerado uma moeda.

Por ser algo extremamente novo, tanto o bitcoin quanto os outros criptoativos podem possuir diversas características e utilizações que não seriam nem imagináveis em 2009, ano em que a moeda começou a funcionar.

Gosto muito de pensar no ativo como uma commodity digital, já que possui características semelhantes ao ouro e à prata, mas é naturalmente digital.

Em uma definição simplista, commodities são mercadorias e correspondem a produtos de qualidade e características uniformes, que não são diferenciadas de acordo com quem os produziu ou de sua origem, tendo seu preço determinado pela oferta e demanda internacional.

Para tentar provar essa tese e observar se faz sentido chamar o bitcoin de commodity, analisamos, na Wise&Trust, uma série de características gerais das commodities e comparamos ao bitcoin. De doze características que elencamos, o ativo apresentou possuir nove delas, sendo as outras três questionáveis.

Ressalto que, dentre as commodities (metais, agrícolas, minerais etc.), nem todas apresentam características gerais.

O ativo apresenta fungibilidade, ou seja, um bitcoin é igualmente equivalente a outro, facilmente negociável em diversos segmentos de mercado, possui liquidez e uma curva de oferta previsível.

Como o bitcoin é produzido?

Em um evento chamado “halving”, o protocolo reduz a recompensa por bloco cedida a mineradores a cada quatro anos; atualmente, a recompensa é de 6,25 BTC (Imagem: Freepik/macrovector)

Assumindo que ele é uma commodity, temos, neste mercado, as “produtoras” destes ativos, que são as mineradoras. Na prática, a atividade dos mineradores é uma prestação de serviços de processamento de transações para a rede do bitcoin.

A recompensa desse serviço são taxas de transação mais o direito de emitir novos bitcoins, atuando, então, como uma Casa da Moeda.

Talvez uma das maiores diferenças em relação às outras commodities seja a curva de oferta. Sabemos que existe um limite de ouro a ser garimpado no mundo, por exemplo.

Ocorre que, com o aumento do preço, garimpos que não eram operacionais, em função do alto custo, passam a ser rentáveis novamente, aumentando, consequentemente, a oferta de ouro no mercado.

No caso do bitcoin, a quantidade a ser emitida é determinada pelo protocolo, que é feito para que um bloco seja sempre emitido a cada dez minutos.

A recompensa por bloco também é definida no protocolo e sofre uma redução de 50% a cada quatro anos. Em relação ao preço, o aumento do valor também é um incentivo para a entrada de novos players.

O grande consumo de energia

Energia Elétrica
Muitos críticos afirmam que a energia elétrica gasta no processamento de criptomoedas é maior do que o consumo de muitos países (Imagem: Pixabay)

Quando o tema é mineração e energia, surgem diversos argumentos contrários que sugerem que a atividade seria um desperdício de energia e que a rede Bitcoin já consome mais energia do que países como a Argentina.

Fazendo um comparativo para entender o tamanho da rede em processamento, que hoje é de 165 EH/s, seria como se cada um dos sete bilhões de seres humanos tivessem cerca de duas mil unidades da última versão do Macbook Pro da Apple, usados exclusivamente para processar a rede Bitcoin.

Em uma recente pesquisa publicada pela Coinshares Research, foi identificado que cerca de 74% da rede utiliza energia advinda de fontes renováveis e muitas dessas operações estão localizadas em regiões onde a energia é sub-utilizada, consumindo o excedente energético produzido localmente.

Qual o cenário atual do mercado?

Gosto de fazer uma analogia no mercado das mineradoras com o que aconteceu nos anos 1990 com os provedores de internet.

Aqueles anos foram marcados pelo surgimento da internet para o público de massa e também com consolidação do setor. Um exemplo: entre 1995 e 2014, cerca de 43 empresas de provedores de internet nos EUA foram consolidadas em apenas 4: Comcast, Time Warner Cable, Charter e Cox. Essa realidade ocorreu também no Brasil e no mundo.

Basicamente, o processo ocorreu em três fases, semelhante ao que está ocorrendo no mercado de mineração:

1. os primeiros entrantes são muito mais voltados para a parte tecnológica do que para a parte econômica e visão de negócio;

2. os novos entrantes vêm com uma visão mais profissional e abrem caminho para um amadurecimento da indústria;

3. começa a fase de consolidação, onde temos os maiores ou mais “profissionais” da fase II, consolidando suas operações através de fusões e aquisições (M&As), e novos entrantes com muito acesso a capital e uma visão de crescimento e consolidação de longo prazo.

Cabe ressaltar que a indústria de mineração de bitcoin e criptoativos está diretamente relacionada e dependente da indústria de semicondutores.

Atualmente, as maiores fornecedoras de semicondutores para o mercado de mineração são a TSMC e a Samsung Electronics. No início de março, a Samsung anunciou um investimento de US$ 17 bilhões em uma nova fábrica de chips nos EUA.

Com a profissionalização e o crescimento desta indústria, é natural que outros grandes players passem a enxergar o potencial deste mercado, movimento que impulsionou a demanda por placas de vídeo (GPUs) da Nvidia para mineração de outros criptoativos, fazendo com que as ações da empresa saltassem de US$ 103 parra US$ 598 em quatro anos, uma valorização de cerca de 480% no período.

Na linha da consolidação deste mercado, hoje já temos sete mineradoras de bitcoin com ações listadas em bolsa, além de empresas listadas que já estão começando a investir nesta atividade.

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Cofundador da Wise & Trust
É cofundador e responsável pela área de novos negócios da Wise&Trust, fintech americana que aplica inteligência artificial e blockchain para desenvolver produtos financeiros com ativos digitais. Abriu seu primeiro negócio aos 14 anos e, desde então, vem ensinando e impactando milhões de pessoas positivamente. Seu primeiro contato com o Bitcoin aconteceu no fim de 2015 e, no ano seguinte, decidiu estudar e se aprofundar no tema. Em 2020, lançou o seu livro intitulado "O Futuro do Dinheiro", que está disponível nas principais livrarias do país.
ruda.pellini@moneytimes.com.br
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É cofundador e responsável pela área de novos negócios da Wise&Trust, fintech americana que aplica inteligência artificial e blockchain para desenvolver produtos financeiros com ativos digitais. Abriu seu primeiro negócio aos 14 anos e, desde então, vem ensinando e impactando milhões de pessoas positivamente. Seu primeiro contato com o Bitcoin aconteceu no fim de 2015 e, no ano seguinte, decidiu estudar e se aprofundar no tema. Em 2020, lançou o seu livro intitulado "O Futuro do Dinheiro", que está disponível nas principais livrarias do país.
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