Ibovespa Seres humanos morrem; criptoativos, não
O que acontece com seus bitcoins e outros ativos quando você morre?
Essa é uma pergunta que todos querem evitar, já que não sabemos nem gostamos de pensar na nossa própria morte e preferimos pensar em coisas cem vezes mais divertidas — como alguma fofoca de celebridade nas redes sociais.
Porém, com ativos autocontrolados, ignorar nossa própria mortalidade tem um custo para nossos descendentes, dependentes, grupos de comunidade e causas políticas, pois nossas chaves e, consequentemente, o acesso aos ativos, podem morrer conosco.
Porém, não precisa ser dessa forma. Existem passos simples e fáceis para que você evite que isso aconteça.
Antes de entendermos “como”, vamos pensar no “porquê”
A resposta mais curta é que, ao planejar, você tem algumas escolhas. Você sabia que se você morrer sem um testamento, a lei pode decidir como seus ativos serão divididos?
O que você precisa saber é que grande parte das leis só reconhecem relações formais e legais, ou seja, por vínculo genético ou matrimonial.
Seu parceiro de longa data? Não. Seu melhor amigo desde a pré-escola? Não. Seus filhos dentro do casamento? Não. Um centro de caridade, centro comunitário ou uma causa política preferida? Não.
Mesmo se você não se preocupar sobre como seus ativos serão alocados, se você tem filhos, considere escrever um testamento para designar alguém que tome conta de seus filhos caso ambos os pais venham a falecer. Embora isso não tenha nada a ver com cripto, é algo que pais devem considerar.
Em relação a cripto, já que esses ativos não são controlados por um terceiro, não existe um terceiro para obedecer com uma ordem judicial para liberar os ativos a seus herdeiros.
Os ativos só estarão disponíveis para seus herdeiros se você se planejar, se der instruções do que você tem e de como acessar. Isso não significa que você tem de compartilhar suas chaves e planos antes de você morrer.
A moral da história é que o planejamento te dá controle. Com um plano, você consegue decidir se e como seus ativos serão distribuídos. Não é assim que deveria ser?
Se sabemos que devemos planejar, por que não o fazemos?
Existem alguns equívocos que nos impedem de planejar:
1º equívoco: tenho que contratar um advogado
Existem dois lados no planejamento de ativos que controlamos: o técnico (acesso às chaves) e o legal (leis locais, jurisdição). Sem acesso às chaves, os planos legais são inúteis. Assim, é melhor que grande parte das pessoas tenha um plano principal de acesso e acrescente um componente legal.
Grande parte dos advogados não fazem ideia do que é uma chave privada e não podem te ajudar a delinear um plano para assegurar seus ativos durante sua vida enquanto você ainda não precisa repassá-los até o momento de sua morte.
Isso não significa que você não precisa de um advogado para ajudar com a parte jurídica, como na escrita de seu testamento e na garantia de que suas vontades sejam cumpridas. A questão é que você não precisa esperar para contratar um advogado para criar sua estratégia de acesso às chaves.
2º equívoco: tenho que confiar em um terceiro
A questão de ativos controlados pelo dono é não dar seu poder aos outros. Existem formas criativas de criar planos de acesso às chaves que serão ativados no futuro, sem dar acesso imediato a todos.
Embora esses tipos de soluções sejam únicas, um exemplo de uma opção simples que você pode usar hoje é uma frase secreta em sua carteira Trezor. Dessa forma, as palavras aleatórias e a frase secreta são insuficientes para controlar as moedas.
3º equívoco: anotar tudo isso tornará minhas moedas menos seguras ou aumentar o risco de que alguém as encontrar e roubar tudo!
É bem mais provável que você perca suas moedas ao esquecer de realizar o backup de sua nova carteira, deixar o dinheiro em uma corretora, perder seu backup ou “paper wallet” ou esquecer sua senha/frases secretas.
Dito isso, não é seguro armazenar um único documento com todas as suas senhas, frases secretas, pontos de acesso, posses e quantias on-line ou em seu dispositivo conectado à internet.
Mas você é bem mais espero que isso. Você sabe escrever isso à mão e usar um gerenciador de senhas. Divida as informações em alguns locais seguros e diferentes.
4º equívoco: o valor dos meus criptoativos é muito baixo para que eu me importe com planejamento
Embora isso possa ser verdade para você hoje em dia, o valor desses ativos muda muito rápido. Quando o preço começa a aumentar, algumas pessoas percebem que suas “pequenas” posses eram significativas.
Você não sabe qual será o valor no futuro, mas agora você tem esses criptoativos por um motivo. É um motivo suficiente para planejar.
Embora as pessoas digam que são por esses motivos que elas não planejam, acreditamos que o verdadeiro motivo é a negação e o medo. Não gostamos de pensar na nossa mortalidade. Não é agradável focar na morte.
Evitando perda total: a importância
do planejamento sucessório de criptoativos
Planejar nossa própria morte nos força a pensar sobre ela por mais de um minuto. Parecemos acreditar que, se não pensarmos na morte, ela não acontecerá. Até parece que podemos impedir a morte ao evitá-la. Mas sabemos que isso não é verdade.
Alguns acreditam que temos a capacidade de reformular nossas experiências atuais simplesmente ao pensar diferente. Como humanos, temos a capacidade de mudar nossas perspectivas. Analise esta figura:
Você vê um pato? Você vê um coelho? Você consegue ver os dois? Você consegue alterar entre os dois?
Assim como o pato/coelho, vejamos três alternativas de analisar o planejamento de herança — não enfrentando a mortalidade, mas como algo diferente.
Um presente. Imagine que você recebeu um presente em bitcoin ou outra criptomoeda. Você ficará empolgado, não é? Pense em como outros irão se sentir ao receber esse tipo de presente.
Pense na diferença que você faria no financiamento de desenvolvimento de código aberto ou causas políticas com as quais você se importa. Essa seria uma oportunidade de dar presentes maravilhosos a pessoas e causas importantes para você.
Repaginada na segurança. Se você é mais prático e menos interessado em dar presentes, pense agora como uma oportunidade de dar uma completa repaginada na segurança.
Você precisará identificar todos os seus ativos (incluindo aquela oferta inicial de moeda — ICO — que você comprou e não disse pra ninguém), seus backups e atualizar toda a sua segurança. É algo que você pode fazer por si só e que irá beneficiar outros a longo prazo.
A missão da máquina do tempo. Sua missão, caso você a aceite, será criar um cache secreto que seus entes queridos irão encontrar em algum momento no futuro. Com ele, eles poderão desbloquear essas riquezas escondidas!
O lado técnico (de acesso às chaves)
Por onde começar? Existem recursos gratuitos que podem te ajudar. Existe um padrão chamado Letter to Loved Ones (Carta aos Entes Queridos), para deixar às pessoas que sabem que você tem criptoativos e como acessá-los.
Pode ser customizável por cada pessoa, então você pode escolher o que quiser. Além disso, existe um artigo chamado Sete passos para planejar seu inventário de bitcoin que explica, em detalhes, o que você pode fazer para se preparar. Agora, analisaremos essas etapas.
Inventário
Desenvolva um inventário do que você tem e de como acessá-lo. Este é um requisito mínimo para o acesso às chaves. Se você não contar a alguém o que você tem e como acessá-lo, é provável que se perca para sempre. Você não deve incluir a quantidade ou o valor dos ativos no inventário.
Em sua forma mais simples, o inventário deve ser escrito à mão e listar o ativo, a localização das chaves e o software: “bitcoin, acesso pelo meu celular, uso da Samourai Wallet” ou “ether, acesso pelo meu computador e pelo dispositivo Trezor usando MyEtherWallet”.
Autoauditoria de segurança
Pergunte-se: como posso melhorar minha segurança? Tenho todos os backups? Tenho carteiras antigas as quais não acesso há muito tempo? Devo colocar meus ativos em armazenamento frio ou movimentá-los para uma carteira de hardware?
Também é a hora de você se certificar que está usando um gerenciador de senhas e implementou uma autenticação de dois fatores (2FA) para cada conta importante.
Também é uma ótima hora de remover SMS (seu número de celular) como um recurso de recuperação de todas as suas contas, já que você não é dono de seu número, e sim a operadora de telefonia.
Mensagem da máquina do tempo
O que precisará ser feito se você não estiver mais aqui? Para assegurar que alguém poderá desbloquear sua fortuna, você precisa certificar que está fornecendo instruções detalhadas sobre o que, onde e como acessar seus criptoativos.
Após você ter escrito a mensagem, teste. Finja que você não é você e não saiba de nada. Siga as mensagens passo a passo e veja se você consegue desbloquear a fortuna. Se sim, você fez tudo certo!
O lado jurídico
Embora isso seja tudo o que você precisa fazer para planejar seu inventário, neste momento, você também pode considerar a parte jurídica.
Você pode incorporar, por exemplo, seu plano de acesso às chaves ao seu testamento, mas não torná-lo parte de seu testamentos, já que são registros públicos em diversos países.
Esses ativos farão parte de seu inventário em grande parte dos países e estarão sujeitos à lei local, incluindo taxas, quer você queira ou não. Essa é a realidade do sistema atual.
Se você realmente quer controlar seus acessos e mantê-los fora de seu inventário, considere a criação de um truste jurídico, que é como se fosse uma holding que existe de forma independente e não é sujeita às leis tradicionais de inventário.
Lembre-se que trustes têm suas próprias leis fiscais e podem ser boas ou não para você.
Detonador automático
Que tal uma solução de software, um detonador automático?
Quando se fala em inventário, essa pergunta surge. Existem vários projetos que estão tentando desenvolver uma solução de software para problemas de inventário.
Porém, a tecnologia ainda é muito nova para ser confiável em soluções a longo prazo, como inventário. Ainda há bugs em contratos autônomos que custam milhões.
Além disso, soluções de software assumem acesso constante ou quase constante à rede. Porém, quando desastres naturais acontecem, a energia pode ser interrompida por dias, meses, anos.
Um detonador automático (do inglês “dead man’s switch”) também pode encorajar alguns a intencionalmente evitarem que você acesse a rede.
Resumindo, acesso fácil nunca é garantido. Por fim, transferências automáticas de ativos podem causar uma infinidade de problemas jurídicos para as pessoas que os receberão. Podem estar sujeitos a processos judiciais se a pessoa não tiver “direito legal” ao ativo.
Mesmo com a solução de software, planejamentos jurídicos também são necessários para evitar resultados inesperados e batalhas judiciais.
Cinco soluções de custódia para pessoas e empresas
Seres humanos morrem; criptoativos, não
Seus bitcoins e outros criptoativos não precisam ir com você; eles podem levar seus entes queridos à lua*!
Comece seu planejamento hoje.
* “to the moon” (para a lua) é uma exclamação usada quando o preço de criptoativos aumenta bastante.
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