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Tatiana Pimenta: Burnout, as 6 dicas para manter o ambiente de trabalho mais saudável

14 nov 2019, 13:52 - atualizado em 14 nov 2019, 13:52
Muitos aceitam trabalhar expedientes longos, muitas vezes estabelecem uma régua absurdamente alta em busca de bônus, promoções ou ainda receando perdendo sua posição atual

Por Tatiana Pimenta, CEO e fundadora da Vittude

Burnout é um estado físico, emocional e mental de exaustão que afeta centenas de profissionais. Histórias de colegas e chefes afastados em razão do alto nível de estresse enfrentado no ambiente profissional estão, infelizmente, se tornando mais comuns. 

Um estudo da International Stress Management Association no Brasil (ISMA-BR) revelou que 72% dos brasileiros apresentam sequela resultante do estresse crônico

Com a crise econômica, funcionários passaram a desempenhar diversas atividades além de sua área de expertise. A sobrecarga de responsabilidades adicionou mais estresse à vida das pessoas, que já precisam fazer uma espécie de “malabarismo” para executar as tarefas dentro de suas funções originais.  

Além disso, a competitividade do mercado atual demanda resultados extraordinários dos profissionais. Precisamos estar atentos a tendências para podermos competir com os demais. São horas investidas em cursos e qualificações para chegar ao mesmo patamar de outros colegas. 

Muitos aceitam trabalhar expedientes longos, muitas vezes estabelecem uma régua absurdamente alta em busca de bônus, promoções ou ainda receando perdendo sua posição atual. 

Embora, em alguns casos, saibam que isto pode afetar o convívio social, o relacionamento com amigos e familiares e a saúde emocional, eles ultrapassam limites do próprio corpo. É comum que horas no escritório aumentem enquanto as resguardadas para a família e amigos diminuam. 

No entanto, todo o esforço para agradar e ser o melhor profissional pode, na verdade, prejudicar a nossa saúde. 

Normalmente, a Síndrome de Burnout afeta profissionais que trabalham sob constante pressão, que se dedicam ao cuidado do outro, como médicos, policiais e bombeiros. Porém, qualquer pessoa está sujeita a desenvolvê-la. 

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No entanto, todo o esforço para agradar e ser o melhor profissional pode, na verdade, prejudicar a  nossa saúde (Imagem: REUTERS/Monica Almeida)

Como a Síndrome de Burnout afeta os profissionais

A pressão para sempre ter um desempenho excelente no trabalho pode ter o efeito contrário: o esgotamento profissional. Em outras palavras, o estresse suga a nossa energia. Ele transforma o desejo que costumávamos ter para trabalhar em desinteresse, fadiga e desânimo. 

O absenteísmo – ausência ou atraso dos colaboradores nas empresas – pode aumentar se o ambiente de trabalho não for agradável. Ninguém gosta de frequentar um local onde se sentem sobrecarregados e sem energia. Funcionários desmotivados usam qualquer pretexto para encurtar seu tempo na organização. 

Além da vida profissional prejudicada, o indivíduo com Síndrome de Burnout apresenta dificuldades para manter as demais esferas de sua vida (família, vida social) em equilíbrio. A pessoa neste estado pode até mesmo desenvolver sintomas de depressão.

É evidente que as empresas precisam se preocupar com a saúde no trabalho e oferecer o devido suporte aos colaboradores doentes para não ser prejudicada. 

O lucro, objetivo da grande maioria das organizações, certamente ficará comprometido se os funcionários não estiverem bem para trabalhar. Ou seja, investir no bem-estar das pessoas é também benéfico para a empresa. De acordo com um estudo da KPMG, investir em saúde mental traz um ROI de 4x para as organizações. 

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Ambientes tóxicos, com constantes brigas e discussões, afetam a saúde mental dos colaboradores (Imagem: David ‘Dee’ Delgado/Bloomberg)

As empresas são responsáveis pelo ambiente

Valores humanos devem estar presentes na cultura organizacional das empresas para que possamos ver mudanças significativas no modelo de trabalho atual. O esforço para construir um ambiente de trabalho mais saudável e respeitoso deve partir de todos os departamentos, independente da hierarquia. 

Ambientes tóxicos, com constantes brigas e discussões, afetam a saúde mental dos colaboradores. Muitos se sentem frustrados por não conseguirem trabalhar direito ou intimidados por colegas prepotentes. Chefes e supervisores com gerenciamento inadequado podem sobrecarregar equipes e departamentos. 

Para que o Burnout seja prevenido é preciso fazer um esforço em conjunto, começando pelos gestores. Investimentos na qualidade de vida dos colaboradores são indispensáveis para evitar que eles adoeçam e para reduzir o turnover, fenômeno extremamente prejudicial para a eficiência financeira das corporações. 

Seja como for o modelo administrativo nas empresas, humanização é o conceito que deve estar sempre presente. Assim, a consideração pela vida social e pessoal dos funcionários, bem como seu conforto no ambiente profissional também estará presente nas estratégias que conduzem empresas a atingirem seus objetivos.  

Como criar um ambiente de trabalho saudável

Se a Síndrome de Burnout é resultado do estresse crônico, é preciso pensar em soluções para reduzi-lo o máximo possível. Sobretudo, é necessário reduzir momentos de tensão, conflitos e situações que deixam os funcionários desconfortáveis.

Porém, nem todas estão relacionadas com atitudes da empresa. Profissionais que interagem com clientes frequentemente ou que têm o emocional impactado devido a um ambiente turbulento não podem evitar as circunstâncias desgastantes de seus trabalhos. 

As empresas, no entanto, podem balancear os efeitos negativos com iniciativas para promover o bem-estar dos colaboradores. 

Passar muitas horas sentado diante do computador é prejudicial para a postura (Imagem: Pixabay)

1. Promover momentos de descontração

Intervalos entre as atividades ou para tomar um café com os colegas na copa ajudam a liberar o estresse acumulado durante o dia. Desse modo, retornamos ao trabalho com a mente revigorada para os desafios pendentes.  

É também importante para saúde física do corpo! Passar muitas horas sentado diante do computador é prejudicial para a postura. Movimentar-se a cada hora promove a circulação do sangue e o alongamento dos músculos. 

2. Investir em Saúde Mental como um Benefício Corporativo

As empresas devem, sim, ser responsáveis pela saúde mental dos colaboradores. Elas precisam ser as primeiras a endereçar a questão da saúde mental. E isso não depende da “origem do problema”. 

Já vi muito RH tentando justificar que a empresa não é a causadora do adoecimento, tentando se esquivar o cuidado que deve ter com o seu colaborador. Independente do motivo pelo qual um indivíduo adoece mentalmente, é importante lembrarmos, que se ele não estiver bem e não se sentir acolhido, a organização também vai sofrer e será impactada por custos e mais custos. 

Gestores, portanto, devem reconhecer o mérito de cada um quando necessário e não diminuir o outro diante do sucesso alheio

Serviços inovadores, como o oferecimento de plataformas de terapia online, passam a ser fundamentais nos dias atuais. O engajamento do time nesse tipo de benefício chega a ser 5x maior do que nos tradicionais programas de EAP, que focam mais no atendimento emergencial, através de canais telefônicos 0800. 

3. Dar crédito onde o crédito é válido

Cada membro de uma equipe desenvolve um trabalho que beneficia, direta ou indiretamente, a todos. Gestores, portanto, devem reconhecer o mérito de cada um quando necessário e não diminuir o outro diante do sucesso alheio. As pessoas gostam de saber que seus esforços são apreciados e reconhecidos. 

Caso contrário, poderão ir além de seus limites para alcançar os resultados desejados e bater suas metas individuais. Esses colaboradores têm maior predisposição para desenvolver o Burnout.

4. Construir relacionamentos na base da confiança 

A confiança é a chave para manter bons relacionamentos. Os funcionários devem sentir que podem contar com a empresa até mesmo durante períodos de crise, seja essa pessoal ou profissional. 

Objetivos, visões e valores devem ser compartilhados com os colaboradores. Dessa forma, eles poderão se sentir seguros para apostar no crescimento da empresa. Sem dúvida, a transparência é o caminho para conquistá-los.

Afinal, se não confiamos em alguém, não o levamos a sério e ignoramos o que tem para nos dizer, certo? 

Mas apenas comunicar suas intenções não é o bastante. A empresa precisa se comprometer com ações e mostrar resultados. Por exemplo, ao desenvolver um projeto para integrar os funcionários na cultura da empresa, a empresa deve demonstrar genuíno interesse e coerência em suas ações. 

Assim, os funcionários levarão a sério o trabalho e não o verão apenas como uma obrigação.  

Muitos funcionários têm receio de compartilhar suas opiniões. Eles apenas comunicam seus pensamentos quando se sentem seguros na empresa (Imagem: Pixabay)

5. Estar aberta ao feedback dos funcionários

Se o desempenho está decaindo, a empresa deve agir com honestidade para identificar o que está causando a baixa performance. Feedbacks podem resultar em mudanças positivas e oportunidades mal aproveitadas ou ignoradas pela empresa. 

Muitos funcionários têm receio de compartilhar suas opiniões. Eles apenas comunicam seus pensamentos quando se sentem seguros na empresa. Por isso, comunicação aberta e sincera deve ser um fator imperativo no local de trabalho. 

6. Melhorar o espaço físico

Construir um espaço físico com móveis, iluminação e climatização adequada para trabalhar      é benéfico para o rendimento dos funcionários. 

Não é possível executar as tarefas em um ambiente desorganizado ou se sentir bem em instalações sujas e mal construídas. Locais pequenos onde as pessoas ficam amontoadas e tem pouca privacidade transmitem uma mensagem de descaso para os funcionários. 

Ambientes físicos agradáveis, no entanto, atraem as pessoas e ainda promovem estreitamento de laços entre os funcionários. 

Por fim, reforça-se a importância da comunicação como instrumento nesses cenários (Imagem: Pixabay)

7. Respeitar os limites dos funcionários

Ainda é comum que chefes peçam para os funcionários trabalharem além do expediente ou modificarem seu período de férias para beneficiar a empresa. Essas atitudes obrigam as pessoas a forçarem seus limites. 

Alguns conseguem administrar diversos projetos sem deixar que o estresse tome conta enquanto outros ficam exaustos. Cada indivíduo é diferente. Em virtude disso, é dever dos gestores estarem atentos às limitações individuais dos colaboradores. 

Por fim, reforça-se a importância da comunicação como instrumento nesses cenários. Colaboradores podem manter segredo sobre suas verdadeiras condições, por isso, devem ser incentivados a se expressarem abertamente. 

Percebeu que vários aspectos contribuem para o esgotamento profissional? A síndrome de Burnout não está apenas relacionada à carga de trabalho, mas ao meio em que os colaboradores estão inseridos. O ambiente organizacional exerce grande influência na qualidade de vida dos colaboradores. 

O que os colaboradores podem fazer

Embora seja dever das empresas oferecerem um bom ambiente, pessoas que suspeitam ter Síndrome de Burnout também podem se ajudar. Se você está constantemente exausto, ansioso, irritado e sem vontade para se socializar, confira algumas dicas para tornar a sua vida mais alegre.

Em primeiro lugar, identifique horários vagos em sua agenda e reserve-os para atividades prazerosas, como exercícios físicos, uma boa leitura e encontrar os amigos. Por mais que sua rotina seja caótica, é possível encontrar, pelo menos, 30 minutos para desestressar. 

Outra dica é desconectar-se. O objetivo das atividades de lazer é voltar revigorado à rotina. O celular atrapalha porque rouba o foco do relaxamento. 

É importante ter consciência de que não é preciso sofrer para trabalhar. Se você sente que seu trabalho o deixa mais estressado do que realizado, faça uma avaliação de sua carreira. Às vezes, é mais benéfico mudar do que insistir em algo que não está dando certo. 

Alguns chefes podem interferir em nossa vida pessoal e monopolizar o tempo reservado para o nosso descanso, podendo até mesmo ser abusivos. Aprenda a dizer não sem se sentir culpado. A sua saúde é, no fim do dia, mais importante. 

CEO da Vittude
Tatiana Pimenta é CEO e fundadora da Vittude. Engenheira que se apaixonou pela Psicologia, pelo estudo constante do comportamento humano e da felicidade. Com mais de 15 anos de experiência profissional, foi executiva de sucesso em empresas de grande porte como Votorantim Cimentos e Arauco. Única brasileira finalista da premiação internacional Cartier Women's Initiative Awards em 2019. Faz terapia há mais de 8 anos, é maratonista amadora e praticante de Mindfulness. Encontrou na corrida de rua e na meditação fontes de disciplina, foco, felicidade e produtividade. É colunista dos portais Money Times, Startupi e Superela
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Tatiana Pimenta é CEO e fundadora da Vittude. Engenheira que se apaixonou pela Psicologia, pelo estudo constante do comportamento humano e da felicidade. Com mais de 15 anos de experiência profissional, foi executiva de sucesso em empresas de grande porte como Votorantim Cimentos e Arauco. Única brasileira finalista da premiação internacional Cartier Women's Initiative Awards em 2019. Faz terapia há mais de 8 anos, é maratonista amadora e praticante de Mindfulness. Encontrou na corrida de rua e na meditação fontes de disciplina, foco, felicidade e produtividade. É colunista dos portais Money Times, Startupi e Superela
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