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Taurus (TASA4): ‘2023 é ano perdido para vendas no Brasil’, diz CEO

27 out 2023, 15:58 - atualizado em 27 out 2023, 15:58
A demora na regulamentação do setor frustraram as vendas da empresa. Mas o ano de 2024 deve trazer uma demanda reprimida dos consumidores; vendas nos EUA podem ter impulso no ano que vem
No entanto, o ano de 2024 deve trazer uma demanda reprimida dos consumidores, segundo Salesio Nuhs, CEO da Taurus; vendas nos EUA podem ter impulso no ano que vem, indica executivo (Imagem: Divulgação/Taurus)

O ano de 2023 é um ano perdido para as vendas da Taurus (TASA4) no Brasil, bem como para todo segmento de armas, segundo o CEO da fabricante gaúcha de armas, Salesio Nuhs, em entrevista ao Money Times.

“Acabamos vendendo praticamente só para as instituições policiais”, diz Salesio, a respeito dos negócios da empresa no Brasil em 2023. A conversa foi feita durante o Congresso Internacional de Operações Policiais – COP Internacional 2023.

O evento, realizado em São Paulo, começou na última quarta (25) e termina nesta sexta (27). O Money Times abordou tópicos como vendas nos EUA; Mercado Policial; Índia e Arábia Saudita. Confira mais abaixo.

2024 atenderá demanda reprimida

Apesar das vendas fracas no país neste ano, Salesio afirma que a Taurus se prepara para atender a uma demanda reprimida dos consumidores no ano que vem, com novos CACs (Caçador, Atirador ou Colecionador) no mercado, procurando a primeira arma, bem como a normalização das vendas para quem já é CAC. Há também uma possibilidade de impulso nas vendas nos EUA (entenda abaixo).

Sobre as expectativas positivas para o ano que vem no Brasil, o CEO diz que haverá grande espaço para vendas quando as autorizações para compras de armas, além dos documentos das armas (CRAFs), voltarem a ser emitidos pelo Exército.  “Tem vários CRs (Certificados de Registro -o documento que torna uma pessoa um CAC) sem arma registrada, além daquele que estão para sair. Haverá demanda”, afirma.

Exército e Polícia Federal estão com a bola da vez

O motivo da frustração em 2023 é a quase total suspensão das vendas da empresa para o mercado civil, por conta dos atrasos legislativos, como o decreto de armas de Lula, que saiu apenas em julho -ainda permitindo a compra de armas– mas que até hoje não foi regulamentado pelo Exército. A força armada discute as portarias com a Polícia Federal, que ano a ano passará a ter controle sobre os CACs, até ele ser totalmente transferido à instituição, em 2025.

O atraso na regularização, pelo decreto, impede a emissão de documentação para os consumidores obterem armas. O Money Times ouviu de vários líderes do setor de armas presente na COP Internacional, que as portarias regulamentando o setor e os níveis de CACs devem sair nas próximas semanas. O EB não confirmou a informação.

EUA: Inflação impacta setor, mas 2024 pode ter impulso

Para a Taurus, o mercado mais representativo nas vendas é o norte-americano, centralizado no público civil. Por lá são vendidas mais de 75% das armas produzias pela empresa.

“Com a inflação americana o comportamento dos distribuidores também mudou. Antes você podia trabalhar com três meses de estoque, uma média local, pois financiamento do seu giro era muito barato”, diz Salesio. O Índice de Preços para Gastos de Consumo Pessoal (PCE), divulgado nesta sexta (27), mostrou que a inflação anual está em 3,4% no país.

Ele explica que agora os distribuidores estão diminuindo os estoques para um mês, “pois ele quer que a venda dele financie o estoque, sem ter de recorrer aos bancos”, afirma.

“Tivemos de enxugar o mercado que estava com uma forte demanda e, por outro, aceitar essa redução de três meses para um mês nos estoques”, diz. Ele afirma, no entanto, que os resultados por lá estão ainda maiores que os da pré-pandemia.

No entanto, o CEO vislumbra uma grande demanda por armas em 2024. O motivo, explica, são as eleições americanas. Em 5 novembro do ano que vem, eleitores dos EUA escolherão um novo presidente.

“A cada 4 anos você tem um pico na intenção de compra do americano”, afirma, explicando que a possibilidade de qualquer mudança na legislação sobre armas aumenta a procura dos produtos nos EUA.

Taurus se prepara com novo calibre permitido

A fabricante gaúcha vem preparando lançamentos, como um novo calibre de pistolas, o.38 TPC, que será o mais forte dentro dos ‘permitidos‘, além de investir em tecnologias como nióbio e grafeno para a fabricação de novas armas, o que reduzirá o custo dos produtos.

A nova munição é desenvolvida e produzida pela CBC (Companhia Brasileira de Cartuchos), controladora da Taurus. A fabricante gaúcha vai relançar, nos próximos meses, armas de sucesso da companhia, no novo calibre. Entre elas, está a G2C, a pistola mais vendida no Brasil.

Mercado policial e militar também são alvos da empresa

O mercado tático e policial também faz parte do escopo de vendas da empresa, que em breve vai lançar uma submetralhadora inédita no mercado, com nióbio em sua composição.

Salesio conta que as armas da companhia são ‘testadas’ diretamente com as polícias e militares, durante cursos ministrados pelas forças para seus soldados.

“Se é um produto voltado ao esporte, busco os melhores atiradores do Brasil e dos EUA para testarem. Se é um produto voltado ao uso militar, trago grupos especiais das polícias, das forças armadas brasileiras e de outros países”, afirma o CEO.

Ele usa como exemplo as Filipinas. “O país adotou a marca Taurus como padrão, tanto do Exército quanto da Polícia Nacional das Filipinas”, diz.

Mas forças de segurança locais também são parceiras da empresa. “A brigada militar do Rio Grande do Sul é para nós um “laboratório” muito grande”, diz Salesio. Ele conta que todos os grupos que se formaram no GATE (Grupo de Ações Táticas Especiais) do Rio Grande do Sul, recebem armamentos da empresa.

“No último curso, policiais treinaram durante todo o período de formação com 100 fuzis T4 da Taurus. “No final, avaliamos essas 100 armas”, diz. Um dos lançamentos recentes da Taurus, o fuzil T10, também está sendo testado por policiais. “Agora vai ter um curso de sniper no Bope. Vamos doar 6 rifles T-10 para o grupo. Vão usar do início ao final do curso, e isso serve para nós como um ‘laboratório”, afirma.

Índia pode ser divisor de águas, avalia CEO

Uma das grandes disputas da Taurus no momento, em relação a licitações, é com o governo indiano, que há alguns anos abriu processo para uma compra bilionária de 420 mil fuzis. A fabricante gaúcha é uma das concorrentes.

São 5 anos para fornecer todo o volume de armas, que devem ter ao menos 60% das partes produzidas na Índia. A empresa já tem uma fábrica no país, em parceria com Jindal Group, está pronta e montada para operação no país. “Só falta o documento”, diz. Ele cita que uma das vantagens do Brasil nessa tramitação é justamente o conhecimento de mecanismos burocráticos, presentes em nosso país. “Um país que não sabe conviver com a burocracia não consegue competir com a Índia”, afirma.

Segundo Salesio, a vitória na disputa pode ser um divisor de águas para a Taurus, mais pelo desafio superado do que pelo resultado financeiro. “Numa licitação você não tem margens grandes, pois você ‘briga’ com outros concorrentes pelo melhor preço”, diz Salesio.

“Mas é um divisor no que diz respeito a essa questão de transferência de tecnologia. Montarmos uma fábrica num país ‘hiper-burocrático’ e complicado como a Índia, que tem um conceito de agilidade muito diferente do Brasil, é um divisor de águas”, afirma.

A fabricante gaúcha está praticamente na parte final do processo, com um teste físico dos fuzis da empresa. A data dos testes, que seriam realizados neste mês, foi alterada para dezembro. Segundo Salesio, o adiamento foi feito para que a temperatura ficasse ainda mais baixa para os testes, que serão realizados nas montanhas do Himalaia. Depois dele, são feitos os relatórios sobre as armas, e então divulgado o resultado do vencedor.

O CEO diz também que tudo que está sendo feita na Índia pavimenta um caminho para outro país que a Taurus está de olho: “É importante demais para o processo que estamos fazendo para a Arábia Saudita, pois é uma ‘escola’ para nós”, afirma Salesio.

Fábrica na Arábia Saudita em avaliação

“Estamos mapeando o tamanho do mercado do Oriente Médio junto a nosso parceiro local”, diz Salesio. A parceria, no caso, é com a Scopa Defense Trading, empresa saudita com que a Taurus assinou um Mou (memorando de entendimento) para a constituição de uma joint-venture local.

O acordo faz vêm no âmbito do Saudi Vision 2030, estratégia política dos sauditas para diminuir a dependência em petróleo, com investimentos em várias áreas, incluindo defesa. O público alvo das empresas é o setor militar e policial de toda a região, mas o civil também é “uma possibilidade”, segundo Salesio.

“Em Riad (capital saudita) tem um clube de tiro. Lá, 90% das armas do clube são da Taurus”, afirma. “Estamos considerando montar a primeira franquia AMTT [loja conceito da Taurus, com unidades em Brasília e em São Paulo] fora do país em Riad, se esse projeto da joint-venture for encaminhado”, diz.

Salesio diz que um dos grandes problemas encontrados é em relação aos funcionários que a fábrica terá de encontrar. “O grande problema da Arábia Saudita é a mão de obra qualificada”, afirma Salesio. “Isso será um grande desafio”, diz. Segundo ele, será necessária ter grande volume na demanda para que o investimento local valha a pena.

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Repórter formado pela PUC-SP, com passagem pelo Poder360, Estadão e Investidor Institucional. Tem pós-graduação em jornalismo econômico pela FGV-SP, através do programa Foca Econômico 2022, do grupo Estado. No Money Times, cobre política, mercados e também a indústria de armas leves no Brasil.
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Repórter formado pela PUC-SP, com passagem pelo Poder360, Estadão e Investidor Institucional. Tem pós-graduação em jornalismo econômico pela FGV-SP, através do programa Foca Econômico 2022, do grupo Estado. No Money Times, cobre política, mercados e também a indústria de armas leves no Brasil.
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