Internacional

“Vale tudo” complica comércio global de suprimentos médicos

06 abr 2020, 16:11 - atualizado em 06 abr 2020, 16:11
Mascara, Coronavírus
As disputas mostram a vulnerabilidade do comércio mundial de suprimentos médicos à ação unilateral das nações (Imagem: Pixabay)

O vice-chanceler da Alemanha, Olaf Scholz, afirmou que a experiência compartilhada de combater o coronavírus pode levar a uma “nova era de solidariedade”.

No entanto, há poucos sinais de que a crise esteja unindo os países: da Índia à Europa, governos se apressam em garantir máscaras, respiradores, luvas e medicamentos num ambiente de vale tudo que alimenta tensões em um mundo já abalado pela globalização.

Países têm introduzido restrições às exportações, contribuindo para o que a Organização Mundial do Comércio chamou de “severa escassez” de material necessário para combater o coronavírus.

“Compreensivelmente, os governos estão tomando medidas de proteção para conter a pandemia”, disse a OMC em relatório publicado na sexta-feira.

No entanto, “algumas dessas medidas podem afetar inadvertidamente o fluxo de material médico essencial nos territórios”.

As disputas mostram a vulnerabilidade do comércio mundial de suprimentos médicos à ação unilateral das nações e como os países em desenvolvimento são dependentes do mundo mais rico para obter material médico básico para combater uma epidemia.

Tudo isso acontece em um clima de desconfiança, quando o presidente dos EUA, Donald Trump, defende sua agenda “America First”, com frequentes críticas às instituições globais e aliados de longa data, como Alemanha e França.

A disputa também reflete a crescente influência econômica da China e seu entrincheiramento nas cadeias de suprimentos globais.

A China é fornecedora de matérias-primas para material médico em muitos países ou a principal fonte de produtos acabados.

Neste ano, foram registradas 91 restrições à exportação implementadas por 69 jurisdições, a “grande maioria” promulgada em março (Imagem: Reuters/Paulo Whitaker)

Na Índia, o Partido do Congresso, principal legenda da oposição, repreendeu o governo do primeiro-ministro Narendra Modi por permitir a exportação de kits de teste até sábado, chamando a medida de “traição à Índia”.

A Índia também entrou em conflito com Trump no fim de semana, quando proibiu todas as exportações de hidroxicloroquina, um medicamento contra a malária que o presidente dos EUA tem defendido repetidamente na luta contra o Covid-19.

Trump disse no sábado que conversou com o primeiro-ministro indiano para conseguir a liberação de remessas que os EUA já encomendaram e que a Índia está avaliando seriamente seu pedido.

Restrições à exportação

Neste ano, foram registradas 91 restrições à exportação implementadas por 69 jurisdições, a “grande maioria” promulgada em março, quando o epicentro do vírus mudou para a Europa e depois para os EUA, de acordo com Simon Evenett, professor de comércio internacional e economia da Universidade de St. Gallen, na Suíça.

Isso tem provocado atritos no cenário internacional.

Autoridades na Alemanha e na França entraram em conflito com Washington sobre o que dizem serem tentativas dos EUA de obter injustamente material de segurança.

O ministro do interior da cidade-estado de Berlim, Andreas Geisel, culpou os EUA de confiscar 200 mil máscaras encomendadas a um fabricante nortea-americano quando estavam em trânsito em Bangkok. “Vemos isso como um ato de pirataria moderna”, disse Geisel.

A crise afeta suprimentos médicos essenciais avaliados em US$ 597 bilhões em 2019, de acordo com a OMC.

Nem todos os países produzem os materiais necessários, como sabonetes, álcool gel, seringas e óculos de proteção. Um exemplo: China, Alemanha e EUA exportam 40% dos produtos de proteção individual do mundo. Enquanto isso, a China é o maior exportador mundial de máscaras, com participação de 25%.

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