Política

Veja o que deve ser pauta no primeiro encontro entre Joe Biden e Jair Bolsonaro

08 jun 2022, 16:10 - atualizado em 08 jun 2022, 16:23
O presidente Joe Biden irá se encontrar com Jair Bolsonaro
O presidente Joe Biden irá se encontrar com Jair Bolsonaro  (Imagem: Reprodução/ TV Brasil)

O presidente da República Jair Bolsonaro (PL) deve encontrar o presidente dos EUA Joe Biden na quinta-feira (8), em primeira reunião bilateral realizada entre os líderes desde a posse do chefe do executivo americano.

O encontro ocorre durante a Cúpula das Américas, convenção que reúne governantes do continente em Los Angeles (EUA) e que, desde antes de seu início, já contava com turbulências. No início da semana, a decisão americana de não convidar a Venezuela, a Nicarágua e Cuba ao evento causou um mal-estar diplomático.

Como resultado, o México informou na segunda (6) que seu presidente, Andrés Manuel López Obrador, não iria à reuniões, mesmo após Biden ter despachado um representante diplomático para convencer a delegação mexicana do contrário.

Buscando salvar a Cúpula de uma frustração diplomática, a expectativa é que Biden corra atrás do prejuízo se relacionando com economias de peso no continente, como o Brasil.

Entretanto, o encontro entre o chefe do executivo brasileiro e o americano não está necessariamente previsto para ser amistoso.

Atenções estão no doméstico

Para Kai Enno Lehmann, professor de relações internacionais da USP, as expectativas para o encontro entre os dois presidentes e para a Cúpula como um todo são baixas, já que os líderes dos países participantes estão atualmente mais atentos a problemas internos de seus países.

“Bolsonaro está preocupado com as eleições e tem muito mais interesse nos preços do combustível do que qualquer outra coisa sobre a América. O presidente Joe Biden enfrentará eleições complicadas daqui 5 meses e tem que lutar por sua presidência, pois se perder as casas legislativas, seu mandato acaba”, diz.

O professor é descrente sobre a relevância dos encontros para a população, que enfrentam variados problemas econômicos em seu cotidiano.

“Política externa para os presidentes é muito boa quando as coisa em casa estão funcionando bem. Aí, eles gostam de mostrar para o mundo. Mas a maior parte da população das américas não se importa muito com isso, se importa com coisas concretas que impactam o seu sustento e o sustento de suas famílias”, afirma.

Lehmann também entende que o impasse diplomático envolvendo o México, uma das maiores economias do continente, diminui o potencial de deliberações importantes.

“Esse impasse tirou da Cúpula um dos países mais importantes da região”, diz.

“Mais complicadores do que simplificadores”

O cientista político e professor da USP Leonardo Trevisan acredita que Biden, no encontro com Bolsonaro, correrá atrás do atraso após ter sofrido o boicote mexicano.

“Quem mais precisa do encontro é o Biden, e não o Bolsonaro. Essa inversão que não é comum, mas, de fato, mostra que a diplomacia americana foi, de alguma forma, ambiciosa demais quanto às suas possibilidades com a América Latina na Cúpula”, diz

Para Trevisan, a ausência de uma das economias mais importantes do continente tornou a presença brasileira proporcionalmente mais relevante do que o usual, já que os EUA teriam perdido um de seus principais parceiros para o sucesso da cúpula.

“E é compreensível a postura de Biden, pois está em pleno processo eleitoral e tem a Flórida como um de seus estados mais importantes. Lá está uma grande comunidade de cubanos e de latinos.  Bolsonaro, como qualquer parceiro, aproveitou a situação e cobrou este encontro bilateral que, importante dizer, não estava proposto antes.”, diz.

Amazônia Desmatamento Meio Ambiente
O Brasil poderá ser cobrado por questões ambientais (Imagem: Reuters/Paulo Whitaker)

Amazônia e jornalista desaparecido podem ser cobrados

Ao final das edições da Cúpula, um comunicado oficial é tradicionalmente emitido contendo as principais deliberações e conclusões às quais chegaram os líderes durante as reuniões.

Para Trevisan, da USP, é possível que a abordagem de temas sensíveis à delegação brasileira, como o ambiental, deixe o Brasil de fora do comunicado e pressionem Bolsonaro no encontro com Biden.

“A diplomacia brasileira se retirou do trabalho de edição do comunicado final da cúpula, pois sabem que haverá uma atenção muito grande para a questão ambiental. Poderemos não ter a assinatura do Brasil neste comunicado e Biden muito provavelmente cobrará posicionamento sobre a Amazônia. O Brasil manterá a maior distância possível dessa questão”, afirma.

Além disso, o professor chama atenção ao recente desaparecimento do indigenista brasileiro Bruno Araújo Pereira e do jornalista britânico Dom Phillips na região do Vale do Javarí, na Amazônia, como um potencial assunto a ser cobrado por parte da delegação americana.

Os desparecidos foram vistos pela última vez no domingo (5), ao iniciarem uma travessia entre duas comunidades amazônicas, e não chegaram a seu destino.

Pereira, da Fundação Nacional do Índio (Funai), já havia sofrido ameaças por parte de madeireiros, garimpeiros e pescadores, devido a sua atuação, e o desaparecimento da dupla despertou choque e indignação da comunidade internacional.

A Marinha atualmente articula uma operação de buscas na região.

“É um complicador absolutamente inesperado para a questão da Amazônia. Temos um líder ativista e um jornalista do The Guardian provavelmente vítima dos mesmos problemas envolvendo garimpeiros, indígenas, tudo o que já era denunciado e já havia pressão em cima. Este aperto de mãos pode se tornar um puxão de orelha”, conclui.

Entre para o nosso Telegram!

Faça parte do grupo do Money Times no Telegram. Você acessa as notícias em tempo real e ainda pode participar de discussões relacionadas aos principais temas do Brasil e mundo. Entre agora para o nosso grupo no Telegram!

Estagiária
Graduanda em Administração Pública pela Fundação Getúlio Vargas, com enfoque acadêmico em Finanças Públicas. Tem experiência em empreendedorismo e novos negócios, tendo atuado na aceleradora de startups FGV Ventures. Participou da produção de podcasts sobre políticas públicas e atualidades, como "Dos dois lados da rua", "Rádio EPEP" e "Impacto FGV EAESP Pesquisa". Atuou como repórter na revista estudantil Gazeta Vargas.
Linkedin
Graduanda em Administração Pública pela Fundação Getúlio Vargas, com enfoque acadêmico em Finanças Públicas. Tem experiência em empreendedorismo e novos negócios, tendo atuado na aceleradora de startups FGV Ventures. Participou da produção de podcasts sobre políticas públicas e atualidades, como "Dos dois lados da rua", "Rádio EPEP" e "Impacto FGV EAESP Pesquisa". Atuou como repórter na revista estudantil Gazeta Vargas.
Linkedin
Giro da Semana

Receba as principais notícias e recomendações de investimento diretamente no seu e-mail. Tudo 100% gratuito. Inscreva-se no botão abaixo:

*Ao clicar no botão você autoriza o Money Times a utilizar os dados fornecidos para encaminhar conteúdos informativos e publicitários.