Veteranos do BTG e da 3G Capital usam sabedoria do surfe para criar nova gestora

Uma nova gestora do bairro carioca do Leblon conseguiu se recuperar de uma dolorosa perda da crise se apoiando na sabedoria do surfe.

A Mar Asset Management, fundada por um trio de veteranos da 3G Capital, Banco BTG Pactual e Opportunity, conseguiu reverter uma queda de mais de 26% no seu fundo multimercado para um resultado em 2020 melhor que a performance dos pares.

O fundo Mar Absoluto FIC FIM apagou as perdas e acumula retorno de 4,74% no ano, enquanto a performance média dos 184 maiores multimercados do país foi negativa em 0,4%, de acordo com dados compilados pela Bloomberg.

Os fundadores Bruno Coutinho, Philippe Perdigão e Luis Moura — que já viajaram juntos para surfar nas Maldivas no passado e fundaram a Mar em 2019 — creditam a virada a uma filosofia de investimentos aprimorada ao enfrentar grandes ondas e mares revoltos.

“A metáfora do mar funciona bem em tempos como estes”, disse Coutinho, 40, presidente da gestora. “Você pode ler o mar, mas não pode controlar o mar. Você tem que observar, reagir.”

Com a pandemia global provocando quarentenas e caos no mercado, a Mar teve que reduzir rapidamente as posições otimistas em ações do fundo em favor da renda fixa.

Alguns setores, como shopping centers, foram completamente abandonados, disse Perdigão. Apostar em juros brasileiros foi fundamental para a recuperação do fundo, acrescentou Coutinho.

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Coutinho e Perdigão foram apresentados por Moura, 50, anteriormente sócio fundador da 3G Capital de Jorge Paulo Lemann, que costumava organizar uma viagem anual às Maldivas com amigos surfistas. Mais tarde, eles começaram a compartilhar espaço de escritório no bairro do Leblon e administravam principalmente seu próprio dinheiro.

Coutinho passou 17 anos no BTG Pactual, fazendo carreira como operador de renda fixa com passagens pelo México e Argentina, onde foi um dos responsáveis por iniciar as operações do banco.

Perdigão, 34, estava saindo de 13 anos gerenciando carteiras de ações no Opportunity Asset Management do Brasil. Moura agora é membro do conselho.

Eles concederam entrevistas primeiro em sua sede no começo do ano e depois por videoconferência.

O escritório da Mar tem uma planta aberta, com uma mesa única de operações e várias peças que indicam o amor dos fundadores pelo surfe. Há um troféu com um surfista (Coutinho costumava surfar de forma competitiva), bem como uma cópia do livro “Princípios”, de Ray Dalio, lado a lado com “O Velho e o Mar”, de Ernest Hemingway.

Embora a gestora novata tenha apenas R$ 192 milhões em ativos sob gestão, com uma equipe de sete pessoas, deve chegar a R$ 1 bilhão até o final de 2021, disse Coutinho.

Desde o início, o multimercado da Mar retornou 30% usando uma combinação de estratégias macro e de ações long biased, em comparação com um retorno de 7,1% do CDI no mesmo período.

As posições acionárias da Mar agora favorecem empresas que emergirão mais fortes à medida que os brasileiros se isolam em casa, como a varejista de comércio eletrônico B2W e a fabricante de cosméticos Natura, ou que encontrarão menos concorrência quando tudo acabar, incluindo a operadora do Burger King Brasil, disse Perdigão.

“Para as empresas de comércio eletrônico”, disse Perdigão, “os últimos três meses foram como três anos”.

Ainda assim, mesmo com a recente recuperação, a Mar está com receio de aumentar muito mais o risco dos portfólios, dada a possibilidade de uma segunda onda de infecções por coronavírus, à medida que as medidas de distanciamento social são afrouxadas.

“Ainda é um cenário muito turvo para se ter um risco significativo no portfólio”, disse Moura. A empresa está focada em novos tratamentos para a doença, que podem provocar altas no mercado.

E quanto ao surfe? Com a restrição ao acesso às praias, Coutinho surfou apenas algumas vezes de manhã cedo, em Búzios.

“Você precisa ter uma válvula de escape para sobreviver”, disse ele. “Surfar acalma a mente, ajuda a pensar quando as coisas são muito intensas.”