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5G e o agro: ‘Tecnologia deve viabilizar automação do setor no Brasil’

05 maio 2023, 9:34 - atualizado em 05 maio 2023, 10:55
Anatel 5G
O leilão do 5G, realizado em 2021, permite que o 4G conte com uma maior cobertura no país; especialista vê trabalhos acelerados no país (Imagem: Pixabay/torstensimon)

Nesta sexta-feira (5) é comemorado o Dia do Campo, data que surge para homenagear e conscientizar sobre sua importância econômica e social, com o futuro do campo no Brasil passando pelo avanço tecnológico do agro.

Com isso, o Agro Times conversou com Mauro Periquito, diretor e especialista de prática na Kyndryl, empresa provedora de serviços de infraestrutura de tecnologia da informação, sobre como a tecnologia 5G deve ser uma ferramenta capaz de impulsionar o agronegócio nas esferas sociais, produtivas e de sustentabilidade.

O que é o 5G?

O 5G é a nova geração da internet sem fio e começou a ser implantado no mundo em 2018. A tecnologia conta com três características que a diferencia das outras redes, são elas:

  • Maior velocidade
  • Baixa latência
  • Capacidade de conectar uma maior quantidade de aparelhos em uma só rede

Em novembro de 2021, foi realizado pelo Ministério das Comunicações (MCom) e Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) o Leilão do 5G no Brasil.

A licitação estabeleceu diversos compromissos de abrangência para as empresas vencedoras do leilão, entre as principais estão:

  • Atender todas as 5.570 sedes municipais brasileiras com 5G até 2029
  • Atender 7.430 localidades com 4G ou tecnologia superior até 2025
  • Atender 2.349 trechos de rodovias federais com 4G até 2029
  • Implantar backhaul de fibra óptica em 530 sedes municipais
  • Investir R$ 3,1 bilhões para conectividade das escolas públicas

O saldo do leilão do 5G do Brasil foi de R$ 46,7 bilhões movimentados por dez operadoras ganhadoras.

Agro Times: Como o 5G tem avançado no Brasil?

Mauro Periquito: Em novembro de 2021, nós tivemos o Leilão do 5G, mas a implantação começou entre junho e julho do ano passado. Não temos nem 1 ano de redes pública, essa implantação ainda está no início, mas já estamos colhendo os benefícios de ter a rede 5G no Brasil e passamos recentemente a marca de 100 cidades cobertas com a rede.

Uma das obrigações do leilão é a cobertura de todos os municípios, ou seja, todas as sedes dos 5570 municípios precisam ter 4G. Essa soma de obrigações do 4G e do 5G, além da questão de redes privadas, deve levar com que o Brasil tenha uma expansão de cobertura muito grande, beneficiando o agronegócio diretamente.

Agro Times: Como o 5G pode ser importante para o agronegócio?

Mauro Periquito: A chegada do 5G no Brasil permite que áreas que não contam com a cobertura do 4G possam ser contempladas com o sinal. Com a chegada do 5G nós conseguimos mais velocidade, menor atraso no envio dos pacotes e maior confiabilidade.

Esse pacote de melhorias que o 5G traz para a nossa comunicação é muito importante para casos robustos, que precisam de grande volume de dados transmitidos, como, por exemplo, entre uma estação meteorológica ou uma máquina agrícola.

Quando falamos da criação de animais ou de trabalhos na lavoura, você há infraestrutura no campo para passar cabeamento, seja de energia quanto de dados, entre os sensores que estão lá na ponta e a sede da fazenda onde estão os equipamentos. Dessa forma, o 4G e 5G tem um papel fundamental para que essa comunicação sem fio ocorra de maneira confiável, com uma amplitude boa o suficiente para que vários pontos da propriedade consigam produzir e extrair dados.

Há outra questão que eu gostaria de destacar sobre o 4G é que hoje. Atualmente, a maioria dos casos (voltados para o agro) que nós temos são bem endereçados pelo 4G. Os casos que temos de medição de sensores, atuação em campo, análise de imagens de baixa e média qualidade não demandam um volume de dados tão grande, então o 4G com a sua velocidade de 100MB já atende muito bem.

Agro Times: Como o 5G pode ser um aliado do produtor nos trabalhos dentro da lavoura?

Mauro Periquito: Quando falamos de agricultura de precisão e monitoramento das lavouras em tempo real, você precisa trazer essas informações de maneira rápida e segura para que a sede onde você possui essa infraestrutura possa realizar esse processamento e devolva o comando para o campo.

Por exemplo, em algum horário do dia, por questões de relevo, existe uma área que está muito seca e é preciso realizar a irrigação naquele momento. Assim, é importante ter essa comunicação sem fio com bastante confiabilidade para que isso ocorra imediatamente, sem atraso e automaticamente.

Eu diria que o 5G, aliado ao 4G, vem para viabilizar toda automação no agro. As soluções de automação já existem. No entanto, se você não conta com uma comunicação sem fio, acaba dependendo de uma capilaridade de rede física de cabeamento para fazer essa atuação, seja na irrigação, lançamento do defensivo ou até de pessoas, tendo que posicionar pessoas em determinados momentos do dia, em locais diferentes da propriedade para fazer essas atuações.

A chegada do 4G e 5G no campo permite que todas essas decisões sejam programadas com antecedência.

Agro Times: Existe uma previsão para implementação do 5G em grande escala no Brasil?

Mauro Periquito: Estamos com um ritmo de implantação 1,5x mais rápido do que era o 4G nos seus primeiros 8 meses, estamos indo bem, andando à frente do cronograma. O cronograma de obrigações da Anatel vai até 2029, mas se você pegar o ponto onde estamos hoje, era para estarmos em 27 cidades e nós já estamos em mais de 100.

A minha visão é que o mercado vem demandando cada vez mais conectividade e as operadoras vem respondendo colocando infraestrutura no campo de maneira acelerada. Nos próximos 2-3 anos devemos ver uma expansão muito grande da cobertura do 5G e das obrigações do 4G que caminham junto ao leilão.

Agro Times: Como o 5G pode ser um aliado para uma produção agropecuária com maior sustentabilidade?

Mauro Periquito: Não só o 4G e o 5G, como todo o ferramental de automação é você usar a quantidade de defensivos correta, tomar decisões de irrigar a plantação apenas no momento certo para fazer um uso mais eficiente da água.

Todas essas questões do uso de máquinas somente no momento necessário, na hora que aquela ferramenta de análise de dados te dá um cenário que você precisa ir para campo, só é possível se tem lá na ponta todos esses instrumentos de medição. Essas informações sendo trafegada até as fazendas, até os servidores que estão as aplicações por meio de tecnologias sem fio. 

Sendo assim, o 4G e 5G tem um papel muito importante na parte de eficiência energética, economia de água e uso adequado de defensivos.

Agro Times: Com a expansão da tecnologia, há chance de vermos novas gerações optando por ficar ou se mudar para o campo? O 5G pode provocar um êxodo urbano?

Mauro Periquito: Nas últimas décadas, vimos um êxodo rural das gerações mais novas em busca de oportunidades de trabalho que fossem menos manuais. Com o avanço da tecnologia no agronegócio, do agro 4.0, com toda questão de automação, algoritmos de inteligência artificial nos ajudando a tomar decisões melhores, temos visto muitas pessoas voltando das cidades para o campo, fazendo esse movimento inverso.

Pensando no cunho social da conectividade, o que tenho comentado muito é que a digitalização da informação faz com que uma pessoa que está em uma propriedade no meio do Mato Grosso ou da Amazônia, tenha a mesma conectividade, o mesmo acesso à informação do que eu aqui em São Paulo.

A conectividade e digitalização fizeram com que a informação fosse de fácil acesso para mais pessoas, então eu vejo que socialmente essa conexão do campo pode trazer muito mais conhecimento do que as pessoas têm hoje, sem o prejuízo ir até a cidade em busca de aprendizado.

Atualmente, vemos máquinas que trabalham de forma independente, com precisão de milímetros, algo fundamental para agricultura de precisão, e esse avanço tecnológico desperta um interesse das novas gerações.

Repórter
Formado em Jornalismo pela Universidade São Judas Tadeu. Atua como repórter no Money Times desde março de 2023. Antes disso, trabalhou por pouco mais de 3 anos no Canal Rural, onde atuou como editor do Rural Notícias, programa de TV diário dedicado à cobertura do agronegócio. Por lá, participou da produção e reportagem do Projeto Soja Brasil, que cobre o ciclo da oleaginosa do plantio à colheita, e do Agro em Campo, programa exibido durante a Copa do Mundo do Catar e que buscava mostrar as conexões entre o futebol e o agronegócio.
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Formado em Jornalismo pela Universidade São Judas Tadeu. Atua como repórter no Money Times desde março de 2023. Antes disso, trabalhou por pouco mais de 3 anos no Canal Rural, onde atuou como editor do Rural Notícias, programa de TV diário dedicado à cobertura do agronegócio. Por lá, participou da produção e reportagem do Projeto Soja Brasil, que cobre o ciclo da oleaginosa do plantio à colheita, e do Agro em Campo, programa exibido durante a Copa do Mundo do Catar e que buscava mostrar as conexões entre o futebol e o agronegócio.
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