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Ao mirar TikTok, Trump abre nova frente em disputa com China

03 ago 2020, 10:11 - atualizado em 03 ago 2020, 10:11
Mesmo que as operações do TikTok nos EUA sejam compradas pela Microsoft, isso seria a culminação de uma bifurcação da Internet iniciada quando a China cercou sua própria esfera online anos atrás (Imagem: Unsplash/@konkarampelas)

Ao investir contra o TikTok, os Estados Unidos expandem a batalha com Pequim por meio de restrições no estilo chinês para empresas de tecnologia, em uma medida que poderia ter enormes consequências para as maiores economias do mundo.

A ameaça do governo Trump de banir o fenômeno viral de vídeos curtos da ByteDance e outros aplicativos de propriedade chinesa pode dificultar significativamente o acesso dessas empresas a dados globais de usuários, que são recursos imensamente valiosos na economia moderna da Internet.

Qualquer decisão dos EUA, que segundo o secretário de Estado Michael Pompeo viria “em breve”, deve ser seguida por uma campanha de pressão semelhante que levou alguns aliados a banirem a Huawei Technologies das redes 5G.

Mesmo que as operações do TikTok nos EUA sejam compradas pela Microsoft, isso seria a culminação de uma bifurcação da Internet iniciada quando a China cercou sua própria esfera online anos atrás, criando um universo alternativo no qual Tencent e Alibaba fizeram frente ao Facebook  (FB) e à Amazon.com.(AMZN).

Também divide muitos no setor: alguns criticam a traição de valores como liberdade de expressão e capitalismo, enquanto outros defendem o que for preciso para subjugar um rival geopolítico e sua principal indústria de tecnologia.

“Isso cria um precedente perigoso para os EUA”, disse Samm Sacks, pesquisador de política de segurança cibernética e economia digital da China no think tank da New America. “Estamos a caminho do tecno-nacionalismo.”

As medidas do governo de Washington destacam a rapidez com que o conceito de dissociação da Internet se torna realidade, mesmo quando as consequências ainda são incertas.

A Índia, por exemplo, baniu dezenas de aplicativos móveis chineses, incluindo o TikTok e o WeChat, da Tencent, enquanto a Austrália e o Japão supostamente estudariam opções semelhantes.

O problema é quem controla os dados – desde detalhes particulares, como localização e e-mails, até informações sofisticadas como perfis pessoais e comportamento online.

Como a Índia, o governo dos EUA teme que o TikTok possa transferir essas informações para o governo de Pequim, potencialmente minando a segurança nacional ao criar bancos de dados sobre seus cidadãos.

Preocupante para o governo de Pequim, não está claro onde os EUA traçariam a linha, considerando a extensão em que os dados são essenciais para as empresas atualmente.

Embora a restrição dos EUA contra a Huawei possa ter alguns motivos em termos de segurança nacional, o argumento para proibir o TikTok é “muito fraco”, de acordo com Yik Chan Chin, que pesquisa política global de mídia e comunicação na Universidade Xi’an Jiaotong-Liverpool, em Suzhou, uma cidade nos arredores de Xangai.

“Não é um argumento razoável – é como uma proibição geral às empresas chinesas”, disse a pesquisadora. “Como as empresas chinesas podem fazer negócios na América?”

O presidente Xi Jinping pode ser o culpado. Há muito tempo a China defende a cibersoberania, tendo fechado serviços como o Twitter e obrigado empresas estrangeiras a trabalharem com parceiros e distribuidores locais em diversas áreas, como jogos para celular a serviços em nuvem, ou restringindo o investimento em segmentos como banco online. A ferramenta de busca Bing e a rede social de empregos LinkedIn, da Microsoft, que censuram o conteúdo na China, ainda são as únicas autorizadas a operar na China.

Agora, a China quer que o mundo abrace suas empresas e evite interpretações excessivamente abrangentes sobre segurança nacional.

O porta-voz do Ministério de Relações Exteriores da China, Wang Wenbin, disse na segunda-feira que o governo Trump “ampliou o conceito de segurança nacional sem nenhuma evidência e apenas com base na presunção de culpa”, e pediu “um ambiente aberto, justo e não discriminatório para empresas de todos os países”.

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