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Baixa eficácia de vacinas chinesas desafia imunização global

12 abr 2021, 19:57 - atualizado em 12 abr 2021, 19:57
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Pesquisa divulgada no domingo mostrou que a taxa de eficácia da Coronavac da Sinovac Biotech – usada na Indonésia e no Brasil – ficou pouco acima de 50% (Imagem: REUTERS/Amanda Perobelli)

Cresce a preocupação de que as vacinas da China sejam menos eficazes para proteger contra a Covid-19, levantando questões sobre países como Brasil e Hungria que dependem desses imunizantes, assim como a gigante campanha de imunização do país asiático.

Enquanto vacinas desenvolvidas pela Pfizer, Moderna e até mesmo a Sputnik da Rússia tenham proporcionado taxas de proteção acima de 90%, no geral, as candidatas chinesas mostraram eficácia muito mais baixa.

Pesquisa divulgada no domingo mostrou que a taxa de eficácia da Coronavac da Sinovac Biotech – usada na Indonésia e no Brasil – ficou pouco acima de 50%, muito perto da proteção mínima para vacinas contra a Covid exigida pelos principais reguladores globais de medicamentos. Outras vacinas chinesas mostraram taxas de eficácia entre 66% e 79%.

A ansiedade em relação a essa disparidade veio à tona no fim de semana, quando George Fu Gao, diretor do Centro de Prevenção e Controle de Doenças da China, disse em fórum que algo precisava ser feito para abordar o baixo índice de proteção das vacinas chinesas, segundo o jornal chinês The Paper.

A declaração atípica de uma autoridade se tornou viral nas redes sociais, mas censores da China entraram em ação, e postagens e reportagens na mídia com os comentários de Gao foram editados ou removidos rapidamente. Gao então retrocedeu, dizendo ao jornal estatal Global Times no domingo que suas observações foram mal interpretadas e que pretendiam apenas sugerir maneiras de melhorar a eficácia das vacinas.

Gao sugeriu que doses de reforço após as vacinações e combinar diferentes tipos de vacinas poderiam ajudar a resolver o problema de eficácia, de acordo com o Global Times.

As preocupações atingem uma ampla faixa da campanha global de imunização, particularmente no mundo em desenvolvimento, pois nos países mais ricos predominam as vacinas de RNA mensageiro, altamente eficazes. Com isso, países como Turquia e Indonésia recorrem às vacinas da China.

O governo chinês, que também tem doado vacinas para alguns países, acelera sua própria campanha de vacinação. O objetivo é imunizar 40% da população da China – ou 560 milhões de pessoas – até o fim de junho, um esforço ambicioso que exigirá o dobro do ritmo dos Estados Unidos.

“Eles mesmo não confiam” nas vacinas, disse Therese Hesketh, especialista em sistema de saúde da University College London. “Realmente fizeram um trabalho apressado na vacina, e os ensaios clínicos nunca foram devidamente examinados. Sei por colegas na China que há uma grande hesitação em relação às vacinas de qualquer maneira.”

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As preocupações atingem uma ampla faixa da campanha global de imunização, particularmente no mundo em desenvolvimento (Imagem: REUTERS/Thomas Peter)

Desenvolvedores de vacinas chinesas têm sido repetidamente criticados pela falta de transparência e estão atrasados em relação a empresas estrangeiras na publicação de dados completos de ensaios em revistas médicas revisadas por pares.

O estudo divulgado no fim de semana sobre o ensaio de estágio final da Sinovac no Brasil foi publicado três meses após as primeiras análises de eficácia, enquanto a estatal Sinopharm ainda não publicou os dados completos dos ensaios de fase III para suas duas vacinas inativadas contra a Covid.

Um dos motivos da baixa eficácia do ensaio da Sinovac no Brasil, segundo os pesquisadores do estudo, foi que as duas doses da vacina foram administradas em um curto intervalo de 14 dias. Pesquisadores observaram “uma tendência de maior eficácia” entre um número limitado de participantes que receberam a segunda dose após um intervalo de no mínimo 21 dias.

Embora a China trabalhe em vacinas mais eficazes, como as que usam a tecnologia de RNA mensageiro, deve continuar a aplicar as que foram aprovadas até o momento, disse Benjamin Cowling, chefe de epidemiologia e bioestatística da Universidade de Hong Kong.

“Elas podem fornecer um alto nível de proteção, especialmente contra Covid grave”, disse.

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