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BNDES quer atrair investidores para gasodutos que escoarão gás do pré-sal

14 out 2019, 18:04 - atualizado em 14 out 2019, 18:04
Outros potenciais investidores dificilmente se comprometeriam com esses vultosos desembolsos sem garantias de receita ou mesmo da existência de um mercado para todo o volume de gás previsto (Imagem: Reuters/Sergio Moraes)

O Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) pretende liderar a estruturação de um modelo que viabilize a construção de gasodutos para escoar a produção futura de gás de campos do pré-sal, o que além do financiamento das obras incluirá a busca por investidores para os empreendimentos, disse à Reuters uma superintendente do banco.

A estatal Empresa de Pesquisa Energética (EPE) realizou estudo segundo o qual estão em avaliação ao menos sete alternativas para três rotas de gasodutos vistos como necessários para levar o gás à costa após 2026, quando estima-se que a oferta superará a capacidade da infraestrutura existente.

Os projetos listados pela EPE demandariam mais de 9 bilhões de reais, mas especialistas têm levantado dúvidas sobre quem realizaria os aportes, em meio a uma visão de que empresas de óleo e gás provavelmente prefeririam concentrar recursos e esforços na mais lucrativa exploração de óleo e gás.

Além disso, outros potenciais investidores dificilmente se comprometeriam com esses vultosos desembolsos sem garantias de receita ou mesmo da existência de um mercado para todo o volume de gás previsto.

“Estamos discutindo com vários atores, de maneira que a gente consiga chegar a um modelo ideal. O perfil desse investidor, quem será esse investidor, ou investidores, é exatamente o que está em pauta”, disse a superintendente da área de energia do BNDES, Carla Primavera.

“Até hoje essas infraestruturas foram realizadas pela Petrobras, e entendemos que, dentro da abertura do mercado, é pertinente a gente fomentar a estruturação de um projeto que tenha uma infraestrutura de gás compartilhada”, acrescentou ela, em referência ao programa Novo Mercado de Gás, do governo federal, que visa fomentar a oferta e a competição no setor para reduzir preços.

No momento, o banco de fomento tem discutido a ideia com diversos agentes, incluindo empresas de óleo e gás, investidores institucionais e outras empresas, como grandes consumidores do combustível.

Com isso, o BNDES espera chegar à composição de um grupo que possa construir e operar os gasodutos, por meio de uma Sociedade de Propósito Específico (SPE).

“Nossa ideia é atrair capital privado e múltiplos investidores para esses projetos”, disse Carla.

“Entendemos que, se o estudo for bem feito, o financiamento pode vir não só do BNDES, como de diversos outros atores. É um investimento de grande porte, então a gente entende que tem capacidade inclusive de atrair mercado privado para o financiamento dessa infraestrutura, e o banco pode ancorar esse financiamento”, explicou.

Ela não apontou quantos gasodutos estão previstos ou o investimento avaliado como necessário, mas disse que o estudo da EPE sobre as alternativas de escoamento está entre os materiais levados em consideração nas discussões.

Segundo Carla Primavera, a recepção de agentes do setor aos planos do BNDES tem sido boa.

“A gente tem sentido muito interesse. Acho que o mercado de gás tem atraído muito interesse e essa é uma bela oportunidade de potencializar investimentos no país”, disse, sem detalhar eventuais interessados.

Os gasodutos necessários para escoar a oferta de gás de campos em áreas do pré-sal das bacias de Santos e Campos teriam entre 120 quilômetros e 370 quilômetros de extensão cada, segundo as rotas apontadas no estudo da EPE.

A superintendente do banco não quis detalhar o cronograma previsto para a estruturação do projeto para os gasodutos.

Âncoras

Um dos pontos cruciais para definir a rota ideal dos gasodutos e viabilizá-los é o próprio destino a ser dado ao gás natural, uma vez que será preciso criar mercados para a enorme oferta esperada do insumo de forma a atrair investidores para a infraestrutura de transporte.

Muitos analistas têm defendido que a construção de termelétricas a gás seria essa âncora necessária, uma vez que as usinas poderiam fechar a compra do combustível em contratos de longo prazo, mas essa saída precisaria estar alinhada ao planejamento energético do país, destacou Carla.

“Realmente, é uma demanda potencial, mas entendemos que esse tema das térmicas tem que conversar muito bem com a política energética do país e todo o planejamento do regulador em relação a isso”, afirmou.

Em paralelo, o BNDES tem estudado ainda outros setores que poderiam absorver a oferta de gás.

“Existe uma demanda já bem mapeada pelo banco, que é industrial e veicular”, disse a superintendente, que citou como exemplo os segmentos químico, petroquímico, de fertilizantes e siderurgia.

A mineradora Vale, por exemplo, poderia investir em um projeto para fabricação de um produto para siderurgia que permite redução de emissões caso o plano do governo para o gás de fato reduza significativamente os custos do insumo, disseram à Reuters fontes com conhecimento da estratégia.

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