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Chama o Max: Um olho no peixe e outro no gato

12 mar 2021, 17:06 - atualizado em 12 mar 2021, 17:06
“Já não deveríamos estar acostumados com o Brasil?”, questiona o colunista

Fala para mim. Quem nas últimas semanas não ficou com vergonha de ser brasileiro?

Quem não teve vontade de vender todas as ações e investir tudo nos EUA?

Confesso que fui uma dessas pessoas. Cheguei até a dar graças a Deus por ter cidadania alemã.

Recebemos bordoada de todos os lados nos últimos dias. Uma atrás da outra. Sem dó.

A pandemia piorou severamente aqui no Brasil com números recordes de mortos e falta de leitos para absorver contaminados; enquanto isso, não há vacina disponível no curto prazo para acelerarmos o plano de imunização.

Tivemos que aguentar a intervenção do presidente Bolsonaro no comando da Petrobras e a ameaça de maior ingerência política nas demais estatais.

Como se não bastasse o caldeirão fervendo, jogou-se mais lenha na fogueira: as condenações do ex-presidente Lula foram anuladas e com isso ele poderá ser candidato na eleição presidencial de 2022.

Todos esses fatos culminaram no mesmo desfecho: juros abrindo, dólar subindo e Bolsa despencando. Sim, a vida do investidor no Brasil não é nada fácil.

Por outro lado, sempre que acontece uma enxurrada de fatores negativos que geram movimentos bruscos e exagerados nos ativos, gosto de olhar sob outro prisma, apesar de internamente ficar triste e desiludido.

Penso que: já não deveríamos estar acostumados com o Brasil? Aqui é sempre assim, já sabemos como funciona. O Brasil é um grande carrinho de bate-bate — aquele brinquedo que todos nós já tivemos o prazer de dirigir em parques de diversões.

Quando estamos flertando com o abismo e pensamos seriamente em desistir do país, subitamente há uma melhora no ambiente político e econômico e voltamos à nossa mediocridade (posição mediana). Da mesma forma, quando sentimos de perto que o céu está de brigadeiro, rapidamente uma força contrária nos traz de volta para a realidade, não deixando nos esquecer de quem somos.

Este cenário de carrinho de bate-bate é desafiador para o investidor, porque justamente temos que controlar as nossas emoções e nos movimentarmos contra a maré. E isso requer disciplina, paciência e, principalmente, calo nas mãos (experiência).

A primeira coisa que vem à sua cabeça quando vemos intervenção governamental nas empresas e Lula voltando ao jogo e polarizando ainda mais o ambiente político (que deve mostrar contornos mais populistas neste momento) é comprar dólar e investir lá fora.

Essa é sua primeira reação como investidor e não posso negar: você está certo. Quando o balanço de riscos muda por aqui, você deve proteger seu portfólio e reduzir sua exposição ao Brasil.

No entanto, ao mesmo tempo, você se depara com ações brasileiras sendo negociadas a preços muito convidativos, outras voltando aos preços do IPO e empresas anunciando recompra de ações por acharem suas ações demasiadamente baratas. A Bolsa está mais barata em dólar, e as nossas empresas de tecnologia estão negociando com um desconto absurdo em relação aos seus pares internacionais.

Temos que ter sempre em mente que o mercado nem sempre está certo e ele olha para ambos os lados.

Agora o dólar é R$ 6,00, muitos disseram. Não foi o que vimos nos últimos dias. Uma valorização do real frente ao dólar com grande dose de ajuda do Banco Central, que atuou para estabilizar a moeda americana.

Vamos ver a Bolsa “beijar” os 100 mil pontos, outros comentaram. Encostou nos 110 mil pontos e cá estamos novamente felizes ao ver o Ibovespa perto dos 115 mil pontos.

Mercado de Ações
As chacoalhadas do mercado servem para pensarmos se o nosso portfólio está bem equilibrado e diversificado, diz Max Bohm (Imagem: Pixabay)

Nessa montanha-russa de acontecimentos e sentimentos, que mais parece aquela figura do anjo e do diabo falando no seu ouvido, querendo te desestabilizar, como devemos nos posicionar?

Essas chacoalhadas do mercado servem para pensarmos se o nosso portfólio está bem equilibrado e diversificado.

Pois bem. Acho que o dólar continuará valorizado frente ao real, permanecendo ao redor de R$ 5,50. Neste cenário, é importante você ter posições em exportadoras e empresas que possuem receita dolarizada. Em paralelo, petróleo e minério de ferro estão em tendência de alta, portanto vejo Vale (VALE3), Weg (WEGE3), Gerdau (GOAU4) e 3R Petroleum (RRRP3).

Mas, Max, e as techs? Será que continuam pressionadas com os juros americanos subindo? Acredito que os juros americanos de dez anos vão se estabilizar ao redor de 1,5% ao ano, sem movimentos bruscos como vimos nas últimas semanas. Nesse sentido, vejo as techs em ótimo ponto de entrada. Minhas preferidas são Totvs (TOTS3), Neogrid (NGRD3), Sinqia (SQIA3) e Mosaico (MOSI3).

As empresas mais ligadas à economia doméstica continuarão pressionadas no curto prazo, na minha opinião, mas há boas opções para quem tem paciência e horizonte de longo prazo. Há barganhas em shoppings, construtoras e varejo premium.

E não podemos nos esquecer de investir lá fora, meus amigos. Penso que todo brasileiro deve ter uma parcela do seu patrimônio alocado fora do Brasil. Podem ser ações de qualidade nos EUA (Google, Apple, Microsoft…) ou ações de empresas de canabidiol, que é um mercado super promissor. Gosto também do IVVB11, negociado aqui na B3 e que segue uma carteira de ações americanas, e o XINA11, que segue as ações chinesas. Ambos podem ser comprados na B3.

Portanto, meu caro, é um olho no peixe e outro no gato. A volatilidade e a incerteza atuais requerem que estejamos espertos e antenados com o nosso patrimônio.

Se a situação piorar por aqui, migre recursos para fora, mas, ao mesmo tempo, aproveite as oportunidades que aparecem aqui também.

Tenha em mente que é importante descorrelacionar renda de patrimônio. Se você trabalha e ganha a sua renda aqui no Brasil, faz sentido alocar parte da sua poupança em ativos internacionais. Diversificação “na veia”.

Grande abraço!

Equity Research, CNPI, CGA
Graduado em Ciências Econômicas pela UFRJ e pós-graduado em finanças pela FGV-RJ, Max Bohm acumulou experiência como analista e gestor de ações em grandes instituições como Valia e Grupo Icatu Seguros. Atualmente, é sócio da Empiricus, responsável pelas séries Microcap Alert e As Melhores Ações da Bolsa.
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Graduado em Ciências Econômicas pela UFRJ e pós-graduado em finanças pela FGV-RJ, Max Bohm acumulou experiência como analista e gestor de ações em grandes instituições como Valia e Grupo Icatu Seguros. Atualmente, é sócio da Empiricus, responsável pelas séries Microcap Alert e As Melhores Ações da Bolsa.
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