Coluna Robert Lawrence Kuhn

China: Conheça a iniciativa do gigante asiático para a segurança global

05 fev 2024, 14:11 - atualizado em 05 fev 2024, 14:11
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A China possui a Iniciativa de Segurança Global (GSI), que é baseada na adaptação às profundas mudanças internacionais. (Foto: glaborde7/ Pixabay)

Na minha última coluna, falei sobre a iniciativa da China para o desenvolvimento global. Agora, irei falar em detalhes sobre um outro aspecto da visão global do governo chinês que orienta a política externa de Pequim.

Trata-se da questão da segurança, que a China chama de Iniciativa de Segurança Global, ou GSI (na sigla em inglês).

A abordagem é baseada na adaptação às profundas mudanças internacionais, abordando os riscos e desafios, tradicionais ou não, à segurança, com uma mentalidade de ganha-ganha.

As aplicações do GSI, segundo a China, incluem o histórico acordo entre o Irã e a Arábia Saudita, antagonistas de longa data e que contou com a intermediação de Pequim para restabelecer as relações diplomáticas; além dos 12 pontos apresentados pela China para uma resolução da guerra entre Rússia e Ucrânia.

Porém, enquanto o primeiro é elogiado quase universalmente, o último permanece controverso, visto pelo menos pela Europa, como pró-Moscou.

Nas entrelinhas: Entenda o Iniciativa de Segurança Global da China

A China afirma que o GSI cria um novo caminho para a segurança, com a proposta de diálogo, em vez de confronto; parceria, em vez de aliança, e resultados ganha-ganha em jogos de soma zero. Nas entrelinhas, é um contraste implícito com a política externa de Washington. Esse é o significado geopolítico crescente e profundo.

O GSI, diz a China, é um bem público internacional, que reflete a crescente consciência de Pequim sobre o seu dever de ajudar a manter a paz no mundo e salvaguardar a segurança global.

Como exemplo mais lembrado, a China se diz comprometida em lidar com disputas territoriais de soberania e direitos e interesses marítimos através da negociação. Nas entrelinhas, alguns analistas estrangeiros dizem que Pequim prefere negociar essas questões controversas de forma bilateral, um a um, e não sob as regras multilaterais ou em fóruns multilaterais

Como funciona o GSI na prática

Para se ter uma ideia de como o GSI funciona na prática, os seis compromissos do GSI:

  • assegurar uma abordagem abrangente e sustentável de segurança
  • respeitar a Carta da ONU, rejeitando a mentalidade de Guerra Fria
  • tomar as preocupações de segurança de todos os países com seriedade
  • arquitetar a segurança de eficaz e sustentável;
  • resolver diferenças e disputas pacificamente e através do diálogo
  • ampliar o conceito de segurança em domínios tradicionais e não tradicionais, como terrorismo, alterações climáticas, cibersegurança e biossegurança.

Entre os princípios desses seis compromissos, estão: respeitar a soberania e a integridade territorial de todos os países; defender a não interferência nos assuntos internos de terceiros; e respeitar as escolhas independentes de caminhos de desenvolvimento e sistemas sociais feitos pelo povo em diferentes países.

Para alguns analistas estrangeiros, o GSI é uma alternativa à ordem atual da política de assuntos internacionais, “baseada em regras” lideradas pelos Estados Unidos e seus parceiros na Europa e no Pacífico.

Porém, como a China é o segundo maior contribuinte para o orçamento regular da Organização das Nações Unidas (ONU) e pela manutenção da paz mundial, o GSI adota o conceito de “segurança indivisível”, o que, para a China, significa “tomar a segurança uma legítima preocupação de todos os países”.

Embora muitos elementos do GSI não sejam novos, a iniciativa forma um conjunto coerente e emerge como a grande visão da China de uma nova ordem mundial para a governança global, o que, com o tempo, melhoraria a capacidade da China influenciar o mundo e diminuir a influência dos EUA.

Portanto, combinadas, as três iniciativas globais da China, envolvendo desenvolvimento, segurança e civilização, são de agora em diante a principal forma de envolvimento do país com o mundo, moldando, talvez, a governança global.

GSI da China: e o Brasil?

Eu poderia escrever vários comentários sobre cada uma dessas três iniciativas e, especificamente, sobre cada um dos seis aspectos em torno da segurança global. Mas pode dizer que, certamente, a China considera o Brics, agora em expansão, como um elemento essencial da sua estratégia, tanto do GDI quanto do GSI.

A China também reconhece a crescente importância do Brasil e seu papel especial no Brics. Como único membro do Brics no Ocidente e como o maior país da América Latina, o Brasil é especialmente importante para a China.

Da perspectiva chinesa, cada país tem seus problemas, mas a China está empenhada em cumprir o seu papel como um grande país responsável no mundo, pressionando para resolver problemas internacionais e de focos regionais.

Renomado especialista em China, estrategista corporativo internacional e banqueiro de investimentos que assessora corporações multinacionais sobre estratégias e negócios na China. Foi premiado com a “Medalha da Amizade da Reforma da China” do Presidente Xi Jinping, sendo um dos apenas dez estrangeiros homenageados por suas contribuições ao longo de 40 anos da Chin. Autor do livro “Como os Líderes Chineses Pensam”, publicado no Brasil pela Autonomia Literária.
Renomado especialista em China, estrategista corporativo internacional e banqueiro de investimentos que assessora corporações multinacionais sobre estratégias e negócios na China. Foi premiado com a “Medalha da Amizade da Reforma da China” do Presidente Xi Jinping, sendo um dos apenas dez estrangeiros homenageados por suas contribuições ao longo de 40 anos da Chin. Autor do livro “Como os Líderes Chineses Pensam”, publicado no Brasil pela Autonomia Literária.
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