Coluna Robert Lawrence Kuhn

China olha para trás e para o futuro com boas-vindas do presidente Xi a 2023

02 jan 2023, 14:14 - atualizado em 02 jan 2023, 14:14
Xi Jinping
Presidente da China, Xi Jinping, profere tradicional discurso de ano-novo falando sobre o passado e também o futuro (Imagem: REUTERS/Florence Lo)

Em seu tradicional discurso de Ano Novo à nação, o presidente chinês Xi Jinping, como é seu costume, olha para o ano anterior, 2022, e olha também para o ano à frente, 2023. Para o público em geral, a estrutura, estilo e tópicos dos discursos anuais de Xi podem parecer semelhantes, não sendo fácil entender como o líder pensa e o que a China está planejando. 

Para tanto, deve-se justapor condições atuais e eventos recentes com frases específicas ou maneiras de falar. O que é enfatizado? E o que está subestimado?

Na mensagem de ano-novo, o destaque, como esperado, foi o 20º Congresso Nacional do Partido Comunista da China. O que chama a atenção aqui é como o próprio presidente Xi resume o evento histórico em apenas uma frase.

Na verdade, ele usa três frases abrangentes. A primeiro é “construir um país socialista moderno em todos os aspectos” – que é o objetivo ser construído.

A segunda é “o grande rejuvenescimento da nação chinesa” – qual é o objetivo final. E a terceiro é “um caminho chinês para a modernização” – que é o mecanismo para atingir o objetivo e a meta.

Portanto, o presidente Xi rotula todos os três objetivos de forma coletiva em um “projeto ambicioso”, que foi elucidado em uma mensagem metafórica, que fala que é “um toque de clarim dos tempos para avançar em um nova jornada.”

China olha para trás 

Olhando para trás, o presidente Xi revisa de forma concisa as principais áreas-chaves. Segundo ele, a economia da China está estabilizada e desenvolvendo-se bem.

Com isso, consolidar a redução da pobreza e promover a revitalização rural é uma questão crucial. Assim como promover a isenção de impostos e taxas para as empresas, facilitando os encargos.

Xi também faz menção às bem-sucedidas Olimpíadas de Inverno, ocorridas em fevereiro de 2022 em Pequim. Ele cita ainda as múltiplas missões espaciais realizadas no ano passado.

Outros temas tratam da construção de Exército forte ao marcar seu 95º aniversário. Na esfera geopolítica, o presidente chinês fala sobre a ordem restaurada em Hong Kong e da estreita ligação da China com o mundo, especialmente por meio do contato diplomático na própria pessoa do presidente Xi.

Alguns elementos que não eram necessariamente esperados, mas que se destacam como notáveis – e talvez perspicazes. São eles:

  • A segurança alimentar é priorizada, seguida da economia, o que realça a importância crítica de ambos.
  • A covid-19 ganhou uma seção substancial, perto do início. Nela, o presidente Xi enfatiza a abordagem baseada na ciência, adaptando-se à evolução da situação da doença para proteger a vida e a saúde das pessoas na medida do possível. Os profissionais médicos e agentes comunitários recebem uma menção especial, com uma mensagem de valorização nacional. Com palavras sugestivas como “esforços extraordinários” e “dificuldades sem precedentes”, Xi reconhece “uma nova fase da resposta contra a covid-19 uma vez que os desafios permanecem difíceis.” A mensagem é clara: depois de quase três anos de lockdowns, na China e no mundo, seguido de uma interrupção abrupta da maioria das medidas de controles e relatos de alta taxas de infecção e propagação exponencial (amplificada por rumores), muitos estão ansiosos e incertos. Xi elogia a “grande coragem” do povo, enfatizando que a “perseverança e solidariedade significam vitória.” Então, novamente, Xi reitera que “a adversidade torna as pessoas mais fortes”, “permanecendo em curso” para “fazer o trabalho”.
  • Sobre Taiwan, questão que sempre deve ser incluída, o presidente Xi fala de “unidade e uma mesma família”, sem a linguagem mais militante do discursos passados.
  • Na defesa, o lançamento do terceiro porta-aviões da China, o Fujian; e em tecnologia, a entrega da primeira grande aeronave de passageiros da China, o C919.
  • Nos assuntos globais, o presidente Xi vê as mudanças ocorrendo “em ritmo mais rapidamente”, e afirma, com moderação, que “o mundo não é um lugar tranquilo”. Enquanto a guerra entre Rússia e Ucrânia não é mencionada, não se perdeu o ponto quando Xi disse: “Prezamos a paz e desenvolver e valorizar amigos e parceiros como sempre fizemos”, acrescentando: “Estamos firmes no lado certo da história”.
  • O presidente Xi reconhece ainda que em um país grande, “é natural que diferentes pessoas tenham preocupações diferentes ou tenham opiniões diferentes sobre o mesmo questão” — e ele aconselha que o consenso pode ser construído por comunicação e consulta, formando uma unidade. Para ele, “nenhuma tarefa será impossível e nenhum dificuldade insuperável.”
  • É feita também uma homenagem ao ex-presidente Jiang Zemin, falecido em 2022, com graciosas palavras de elevada honra.
  • Para concluir, o presidente Xi esbanja elogios à juventude da China, enfatizando as expectativas do país e as responsabilidades dos jovens.

China olha para frente

Olhando para o futuro, o presidente Xi molda suas palavras para serem visionárias e edificantes, apreciando o “o suor e o labor” do povo chinês, além do sacrifício e da resiliência.

Ele destaca o “vigor e vitalidade” da China e prevê um futuro de prosperidade e harmonia, um país onde os sonhos se tornam realidade. Essa é a mensagem profunda do presidente Xi.

*Robert Lawrence Kuhn é consultor de longo prazo para líderes e corporações multinacionais da China. Ele recebeu a Medalha da Amizade da Reforma da China do presidente Xi Jinping.

Renomado especialista em China, estrategista corporativo internacional e banqueiro de investimentos que assessora corporações multinacionais sobre estratégias e negócios na China. Foi premiado com a “Medalha da Amizade da Reforma da China” do Presidente Xi Jinping, sendo um dos apenas dez estrangeiros homenageados por suas contribuições ao longo de 40 anos da Chin. Autor do livro “Como os Líderes Chineses Pensam”, publicado no Brasil pela Autonomia Literária.
Renomado especialista em China, estrategista corporativo internacional e banqueiro de investimentos que assessora corporações multinacionais sobre estratégias e negócios na China. Foi premiado com a “Medalha da Amizade da Reforma da China” do Presidente Xi Jinping, sendo um dos apenas dez estrangeiros homenageados por suas contribuições ao longo de 40 anos da Chin. Autor do livro “Como os Líderes Chineses Pensam”, publicado no Brasil pela Autonomia Literária.
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