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Colheita de grãos da Ucrânia deve ter quebra de mais de 15% em 2023; o que o mercado pode esperar?

28 mar 2023, 11:23 - atualizado em 28 mar 2023, 11:54
colheita de trigo na Ucrânia
A invasão da Rússia pela Ucrânia já completa pouco mais de 13 meses, e desde então, o cenário para a produção do país segue incerto (Imagem: REUTERS/Viacheslav Musiienko/File Photo)

A colheita de grãos da Ucrânia em 2023 deve cair para 44,3 milhões de toneladas. O volume representa uma redução de 16,57% na comparação com as 53,1 milhões de toneladas em 2022. Além disso, em 2021, houve uma colheita recorde de 86 milhões de toneladas de grãos.

A queda reflete uma redução de áreas semeadas no país do leste europeu devido à invasão russa, de acordo com previsão do Ministério da Agricultura ucraniano, publicada pela Reuters. Com resultado, a estimativa implica em uma redução de 20% em relação à média dos últimos cinco anos.

A Pasta disse que a área de semeadura de grãos deve totalizar 10,2 milhões de hectares,  o equivalente a 1,4 milhão de hectares a menos que no ano anterior. “A redução na área de plantio de grãos, juntamente com o declínio projetado nos rendimentos médios causados pelo aumento dos preços dos principais insumos, afetará os volumes da colheita”, disse o ministério, segundo a agência internacional.

Ucrânia: produtor e exportador

No total, a produção deve somar 16,6 milhões de toneladas de trigo, 21,7 milhões de toneladas de milho e 4,8 milhões de toneladas de cevada. Para se ter uma ideia, em 2022, a Ucrânia colheu 20,5 milhões de toneladas de trigo, 25,6 milhões de toneladas de milho e 5,6 milhões de toneladas de cevada.

Seja como for, a Ucrânia é um grande produtor e exportador global de grãos e oleaginosas. No entanto, a produção e as exportações caíram drasticamente depois que a Rússia ocupou uma faixa do território ucraniano e bloqueou os principais portos do Mar Negro na segunda metade da temporada passada.

No acumulado da safra 2022/2023, as exportações de grãos da Ucrânia caíram 17,7% até 27 de março. O desempenho reflete uma colheita menor e as dificuldades logísticas causadas pela invasão russa desde fevereiro do ano passado.

E o mercado?

Na avaliação do analista da Safras & Mercado, Elcio Bento, essa menor safra ucraniana e a redução do volume exportado pelo país, em função da guerra, implica em uma redução da participação da Ucrânia no mercado internacional de grãos, principalmente para o trigo.

Ele explica que no ciclo 2021/2022, a produção de trigo foi de 33 milhões de toneladas; Desse total, esperava-se a exportação de 21 milhões de toneladas devido a demanda interna do país. Porém, exportou-se apenas 18 milhões de toneladas, sendo que os 3 milhões de toneladas restantes ficaram para a safra 22/23.

Já na atual temporada, a produção foi de 21 milhões de toneladas. Com esse volume, é possível exportar 13,5 milhões de toneladas, uma redução de 3,5%.

Já na temporada 2023/2024, caso sejam confirmadas a estimativa de 16,6 milhões de toneladas do cereal, o saldo exportável do país teria mais uma vez uma redução. Assim, ficaria entre 9 e 10 milhões de toneladas.

“A Ucrânia vem de grandes reduções nas suas estimativas. A safra 2021/2022 enfrentou quatro meses de guerra, considerando junho de 2021 a maio de 2022, quando houve a explosão de preços. Com menos um fornecedor, que está com uma menor oferta, haverá maior dependência do que vai acontecer com outros fornecedores”, avalia Bento.

Por isso, o analista da Safras & Mercado afirma que ainda é cedo para dizer que somente o fator Ucrânia vai causar um grande impacto no mercado internacional de grãos. Segundo ele, ao mesmo tempo em que a produção ucraniana de trigo teve uma queda de quase 10 milhões no ciclo 22/23, outros países da região do Mar Negro, como Rússia e Cazaquistão, tiveram um aumento na produção do cereal na ordem de 17 milhões e 15 milhões de toneladas, respectivamente.

Portanto, apesar da guerra, houve um aumento na oferta da região, mesmo com a quebra ucraniana. “Não adianta olhar só para essa quebra na Ucrânia. É preciso esperar para ver o que vai acontecer em outros países, como a Argentina, que está com uma queda de 9 milhões de toneladas esse ano em função dos impactos climáticos”, pondera.

Ainda assim, Bento afirma que, em um cenário normal, a Argentina deve produzir muito mais. Para ele, a Índia também deve ter um aumento de 4 milhões de toneladas. “Então, existem outros mercados”, finaliza.

Fertilizantes

Já em relação aos fertilizantes, o analista de inteligência de mercado da Stone X, Felipe Sawaia, explica que a Ucrânia não está entre os grandes países consumidores e produtores. Com isso, não há um fator ucraniano sobre as cotações, seja pelo lado da demanda ou da oferta.

Porém, a Rússia é um país central no mercado dos insumos. O país é o terceiro maior produtor de nitrogênio (N), o quinto maior produtor de P2O5 (pentóxido de fósforo) e segundo maior produtor de K2O (óxido de potássio). Ou seja, caso a guerra se intensifique ainda mais e alguns países decidam embargar a produção russa, os preços devem entrar novamente em uma rota inflacionária, prevê Sawaia.

Com informações da Reuters

Repórter
Formado em Jornalismo pela Universidade São Judas Tadeu. Atua como repórter no Money Times desde março de 2023. Antes disso, trabalhou por pouco mais de 3 anos no Canal Rural, onde atuou como editor do Rural Notícias, programa de TV diário dedicado à cobertura do agronegócio. Por lá, participou da produção e reportagem do Projeto Soja Brasil, que cobre o ciclo da oleaginosa do plantio à colheita, e do Agro em Campo, programa exibido durante a Copa do Mundo do Catar e que buscava mostrar as conexões entre o futebol e o agronegócio.
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Formado em Jornalismo pela Universidade São Judas Tadeu. Atua como repórter no Money Times desde março de 2023. Antes disso, trabalhou por pouco mais de 3 anos no Canal Rural, onde atuou como editor do Rural Notícias, programa de TV diário dedicado à cobertura do agronegócio. Por lá, participou da produção e reportagem do Projeto Soja Brasil, que cobre o ciclo da oleaginosa do plantio à colheita, e do Agro em Campo, programa exibido durante a Copa do Mundo do Catar e que buscava mostrar as conexões entre o futebol e o agronegócio.
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