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Como a reindustrialização do Brasil abre oportunidades para os investidores

29 maio 2023, 13:32 - atualizado em 29 maio 2023, 13:32
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“Seja por meio de private equity ou de captações via debêntures, FIDCs, mercado acionário e outros instrumentos, o País já possui instrumentos, órgãos reguladores e um mercado suficientemente robusto para bancar” reindustrialização, diz Lucy Sousa (Imagem: Divulgação/ CNI)

Ao longo das últimas três décadas, muitas indústrias deixaram o Brasil em busca de condições de produção mais favoráveis em outros países, ao mesmo tempo que também aumentou o conteúdo importado da indústria remanescente.

Adicionalmente, por falta de investimento, a indústria local se distanciou da fronteira tecnológica e perdeu capacidade de competir no mercado global. O resultado disso é que o setor, que já representou quase a metade do Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro (46% em 1985), respondeu por 23,9% em 2022, segundo dados da Confederação Nacional da Indústria (CNI).

O resgate do setor industrial é fundamental para fortalecer a economia brasileira, pois além de gerar progresso tecnológico e empregos de maior qualidade, uma indústria forte e moderna tende a produzir bens de maior valor agregado, e assim, a aumentar a sua competitividade global.

Um setor industrial forte também ajuda a aumentar a autonomia do País em relação a outros mercados internacionais, pois reduz a dependência de importações. Esse é um problema que quase todos os países sentiram durante a pandemia, com a ruptura generalizada das redes de suprimentos.

Não por acaso, as cadeias logísticas globais passam por uma reorganização no cenário pós-pandemia. Essa pode ser uma janela de oportunidades para o País atrair indústrias novamente, sempre a partir de uma política industrial, de caráter horizontal, mas que, eventualmente, identifique subsetores da indústria nos quais o Brasil é naturalmente competitivo e permitindo que se desenvolva.

Mas, embora haja um consenso há vários anos de que é fundamental recuperar o setor industrial brasileiro, a iniciativa privada sozinha não é suficiente para levar a cabo essa missão; são necessárias medidas governamentais, pois o Brasil ainda tem como gargalos um ambiente regulatório bastante complexo e a educação – é preciso, afinal, capacitar a mão-de-obra. Além disso, é necessário baixar o custo do capital.

Reindustrialização mira economia de baixo carbono

Durante evento realizado pela ABDIB (Associação Brasileira da Infraestrutura e Indústrias de Base), em Brasília, na segunda semana de abril, com o tema “Avanços da Infraestrutura e Reindustrialização”, o vice-presidente da República e ministro da Indústria e Comércio, Geraldo Alckmin, destacou que para alavancar o setor industrial, é preciso reduzir os juros e implementar uma reforma tributária, que deve ser votada ainda no primeiro semestre deste ano pelo Congresso Nacional.

Em relação aos juros, Alckmin disse acreditar que as taxas irão cair diante da queda da inflação e do dólar – claro, é cedo para cravar quando esse movimento terá início, tendo em vista as condições inflacionárias. Alckmin ainda destacou que será lançado o Conselho Nacional do Desenvolvimento Industrial, que irá debater propostas com a cadeia produtiva e sociedade civil.

“O Brasil vai crescer com sustentabilidade. A pergunta sempre foi: onde fabrico bem e barato? Agora é onde fabrico bem, barato e consigo compensar emissão de carbono? No Brasil. O País é o grande protagonista desse momento de combate às mudanças climáticas e de avanço das energias renováveis”, ressaltou o ministro.

De acordo com ele, haverá planejamento e investimento na recuperação da infraestrutura brasileira e “neoindustrialização” – conceito que se refere a incentivos à digitalização, economia verde e agroindústria.

Nesse sentido, é de se destacar a participação no mesmo evento dos bancos estatais BNDES e CAIXA, além da IFC (International Finance Corporation, braço financeiro do Banco Mundial), que, do ponto de vista financeiro, apresentaram seus planos para o setor industrial e respectivas linhas de crédito.

Mercado financeiro robusto para bancar a neoindustrialização

Importante destacar que, mesmo com um importante apoio dessas instituições de fomento, o setor deve se desenvolver, sobretudo, apoiando-se em funding obtido por meio de um mercado de capitais forte e desenvolvido e o Brasil tem condições para isso. Seja por meio de private equity ou de captações via debêntures, FIDCs, mercado acionário e outros instrumentos, o País já possui instrumentos, órgãos reguladores e um mercado suficientemente robusto para bancar esse novo ciclo de neoindustrialização.

Segundo um levantamento da ABDIB, o Brasil conta atualmente com 432 novos projetos e iniciativas de infraestrutura, que representam R$ 544 bilhões em investimentos. Apenas 179 projetos devem receber R$ 179 bilhões dentro dos próximos cinco anos, o que ainda representa um grande leque de opções para os investidores, nas áreas de transporte e logística (que demandam investimentos da ordem de R$ 186 bilhões), saneamento (R$ 23 bilhões) e energia (R$ 14 bilhões).

Progressos no ambiente regulatório nos últimos anos podem ajudar a atrair novos investimentos, como Parcerias Público-Privadas (PPPs), novas concessões, manutenção da autonomia das agências reguladoras (como acabamos de mencionar), o marco legal do saneamento, além de mais diálogo entre os setores público e privado, visando a manter os avanços conquistados.

Por exemplo, o programa de participação privada para recuperação das estradas federais, mesmo com avanços, chegou a apenas 20% da malha, sendo que dificilmente deve passar de 30%. Portanto, esse é um segmento que também necessita de investimentos estatais. Assim como o das ferrovias, pois são projetos com retornos a longo prazo.

No saneamento, o novo marco regulatório possibilitou concessões como no Rio de Janeiro e em Estados do Norte e Nordeste, mas ainda há um grande espaço para o setor privado, assim como nos aeroportos e rodovias transferidos para a iniciativa privada.

Além dos investimentos em infraestrutura, na nova industrialização, o Brasil deve ser um player importante na transição energética, utilizando muito mais as fontes renováveis. O País sempre foi líder em energia produzida a partir das hidrelétricas; nos últimos anos, no entanto, têm ganhado espaço as fontes eólicas e, sobretudo, a geração solar, que já representa 13% de nossa matriz elétrica.

Não por acaso, o representante do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) no Brasil, afirmou, durante o evento da ABDIB, que, atualmente, o BID apoia 26 projetos de infraestrutura no país, mas destacou que a instituição está preparada para contribuir com o Brasil na expansão dos investimentos verdes que, segundo ele, podem chegar a cerca de US$ 1,3 trilhão, por meio das PPPs.

É hora de pensar na industrialização, mas na industrialização do futuro, com energias renováveis e matérias primas produzidas de forma sustentável e produção voltada para produtos altamente tecnológicos e/ou que sejam vocações do Brasil. Além de tudo, precisamos de um mercado de capitais engajado nessa retomada.

 

Presidente-executiva da Associação dos Analistas e Profissionais de Investimento do Mercado de Capitais do Brasil (Apimec Brasil)
Presidente-executiva da Associação dos Analistas e Profissionais de Investimento do Mercado de Capitais do Brasil (Apimec Brasil)
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