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Daniel Barbosa: Biden presidente e blindado com opções no S&P; o segredo é o plano B

09 nov 2020, 13:54 - atualizado em 09 nov 2020, 14:09
“Como num jogo de xadrez, saber as regras é apenas o básico do básico para aprendermos como o entrosamento entre elas pode ser explorado”, afirma o colunista  (Imagem: REUTERS/Kevin Lamarque)

Caro leitor,

Em nosso ultimo artigo “O importante nas eleições dos EUA é você ganhar. Saiba como blindar uma estratégia com o S&P” , discorremos sobre a eliminação progressiva do risco numa estratégia com opções. Descrevemos os ajustes feitos, as chamados Follow-Ups, e demonstramos como reajustar as opções nos strikes desenvolvidos de forma estratégica.

Não se preocupe se o tema ainda lhe parece novo e difícil de compreender, o assunto todo demanda amadurecimento. Como num jogo de xadrez, saber as regras é apenas o básico do básico para aprendermos como o entrosamento entre elas pode ser explorado da melhor maneira.

No nosso caso, conhecer bem a teoria das opções é o que lhe proporcionará uma vantagem essencial na hora de moldar sua estratégia ou de decidir quando e como fazer os Follow-Ups necessários.

Com certeza, também é sempre vantajoso conhecer as circunstancias em torno de uma determinada situação do mercado em questão.

Como sabemos pelos pela mídia, especialmente a americana, existe uma forte expectativa em torno de um novo estímulo financeiro que deveria ser concedido pelo governo americano.

No caso da nossa estratégia, me pareceu claro que, no âmbito de uma disputa tão feroz quanto a eleição do próximo presidente norte-americano, o partido democrata dos EUA não estaria disposto a conceder o acordo em torno do esperado estímulo financeiro nas últimas semanas antes do pleito.

Ou seja, até se em determinado Nancy Pelosi, líder dos democratas na câmara, acenou com uma possível surpresa positiva, neste caso um acordo sobre o estímulo, já se sabia que dificilmente isto aconteceria antes das eleições.

Afinal caso Joe Biden vencesse, seria muito melhor se ele, e não Trump, pudesse falar a respeito das medidas de estimulo à economia, não é mesmo?

Não havendo um acerto entre os partidos antes das eleições, o mercado, frustrado, reagiu com um sensível “sell-off” ao venderem, cada qual por suas razões, tudo que consideraram ser um peso desnecessário em seus portfólios. O resultado foi uma queda de quase 300 pontos no S&P.

Cumpriu-se o nosso cenário previsto. No artigo de hoje vamos falar do amadurecimento desta estratégia para as eleições. Porém, antes disso, duas atitudes são necessárias para o bom andamento de qualquer sistema envolvendo opções: a humildade (sim, ela!) e o famoso “Plano-B”.

A importância da humildade

Tenha cuidado se a sua prognose se cumprir. Obviamente, isso vai lhe provocar felicidade, porém é vital não se deixar levar pela euforia. A euforia turva o discernimento e, o mercado, como se fosse por alguma lei divina, simplesmente esmaga os arrogantes como insetos.

Euforia é falta de estabilidade, é falta de humildade. Humildade é o que lhe proporcionará solidez para atravessar os momentos difíceis, além de tranquilidade quando tudo estiver caminhando bem. Humildade mantém a adrenalina baixa. Todas as pessoas com boa experiência de mercado que conheço dizem a mesma coisa: “se você quer vencer na bolsa, ser humilde é imprescindível”.

Cultive a humildade perante as vitórias. “Cuide de suas perdas e ses lucros cuidarão de você”, ensina uma sabedoria antiga entre os atores do mercado.

Caso contrário, estará se arriscando a achar que tudo sempre dá certo e, uma hora, o mercado vai lhe ensinar quem é que tem razão. E, se isto acontecer, você estará feliz se tiver uma alternativa disponível, o chamado “Plano-B”.

Nunca saia de casa sem um plano B

O plano “B” é o que deve ser feito caso seu cenário principal se mostre inútil, em virtude do comportamento do mercado. Se a sua visão perdeu a validade, você deve deixar uma porta aberta para escapar da situação possivelmente ileso.

É simples: Melhor não ganhar nada ou pouco do que perder, até se perder pouco. Se uma perda for inevitável, que seja esta uma perda controlada e proporcionalmente aceitável em relação ao capital investido.

Perca a oportunidade, mas não perca o seu capital. Tomar seu tempo, é melhor que tomar na cara. Este é o nosso refrão, pois na bolsa ninguém pode saber sempre como a banda vai tocar.

Nossa estratégia em andamento

No artigo anterior a este (link acima), partimos de uma estratégia com oito opções (ou dois “broken wing condors” combinados), com nível de risco acima do aceitável. Através de reajustes na estratégia, praticamente eliminamos todo o risco. A perspectiva era que o curso do S&P cairia e o cenário se cumpriu atingindo nossa zona-alvo antes mesmo das eleições nos EUA.

A pergunta mais frequente é esta: “Quando tomar a decisão de fazer um follow-up para adaptar a estratégia?”. As circunstâncias, o conhecimento e a experiência lhe mostrarão o momento exato.

Vamos considerar o seguinte: Uma estratégia “simples” tem oito opções e custa em torno de $2150. Então, se o investidor tiver mais capital, poderia pensar em lançar uma estratégia com o triplo dos contratos por opção envolvida, num total de 24 opções envolvidas, nos oito strikes, no seu formato “simples”.

Com isso, agora temos uma estratégia mais pesada e podemos dizer que são três vezes a mesma estratégia-de-base empilhadas como se fossem 3 fatias de pão. Empilhadas formam um bloco, correto? Esta é a “estratégia gorda” ou “jumbo”.

Seguindo pela analogia, com as três fatias de pão empilhadas, temos uma estratégia “jumbo” que se divide em 3 camadas ou “layers”. A orientação da estratégia toda, seja na sua versão “simples” (básica) ou “jumbo”, é “short”. A expectativa era que o curso caísse. E caiu. Mas e agora?

Em conversa com Ken Rapoza, habituado a analisar a indústria chinesa para um Think Tank de Washington DC, ele me disse de NYC, confirmando nossa expectativa.

“Pensando alto, num cenário pós eleição: ou dá Biden, aí é vacina obrigatória (contra o Corona) e estímulo. Ou vence Trump e comemora-se o o fim do pânico e vem o estímulo!!!”. Ken estava contando com uma alta, sem importar quem fosse o vencedor.

Recapitulando, construímos uma estratégia que estava short, pois a expectativa era de baixa. Ok, o curso caiu. Ken confirmou o que estávamos pensando aqui na Alemanha: o resultado das eleições, como vimos nos últimos dias, puxou o curso para cima.

Embolsando os lucros

Voltando à nossa estratégia “jumbo”, um possível cenário seria arrecadar o lucro do primeiro “layer” quando o lucro estivesse em, por exemplo, 30%. Seria como comer a primeira fatia de pão da nossa pilha. Depois, um pouco mais adiante, colher os lucros e fechar o segundo layer quando este estivesse em 50% (como em 30/10).

Até aqui, lucro médio de 40% sobre a quantia total investida (3x cerca de $2150 por layer ou uns $6450 no total). E o que fazer com a última “camada” ou a última “fatia” da estratégia se o curso pode dar um salto depois de cair quase 300 pontos?

Das duas, uma: ou deixa tudo como está, afinal o lucro estava eliminado, ou fazemos a rolagem de alguns strikes e o que estava short agora ficou long como na figura abaixo. Se o curso virar, esta variante seria mais lucrativa.


Fig. 02 – a estratégia que, depois de dois reajustes, praticamente perdeu o risco e até 30/10 era “short”.

Fig 03 – a mesma estratégia depois da rolagem de alguns strikes, o terceiro e último reajuste, agora perdeu completamente o risco e ficou “long”.

Com isso, queremos falar um pouco sobre como conduzir uma estratégia para quem tem mais liquidez e sobre a versatilidade de transformar uma estratégia de baixa numa estratégia de alta somente através de reajustes, neste caso a rolagem dos strikes.

Parece interessante, porém complicado de entender? Vamos voltar a falar disso exaustivamente, não se preocupe.
Já falamos sobre automação, sobre a técnica de redução do risco e, hoje, o assunto foi o Plano B ou as técnicas de condução das estratégias.

Obviamente conforme descrito em 30 de outubro via Twitter, poderia ser formulada uma nova estratégia para nosso novo cenário, agora altista depois de atingida a meta do cenário original, caso não tenha sido realizado o reajuste como exposto acima.

Fig. 04 – cenário de 30/10 prevendo a alta postado sob

Esta nova estratégia é relativamente simples, apenas vendemos uma call perto do strike 3300 e compramos outras duas perto do strike 3400, todas com vencimento em 15/01/21.

Custo total em torno dos $300 e retorno por volta de pouco mais de $2800 (linha branca na figura abaixo), ou acima de 900%, transcorrida nem uma semana desde o seu início em 05 de novembro.

De novo os fatores de risco devem ser levados em consideração. Como primeira atenuante neste sentido, o lucro da operação anterior, objeto deste dois últimos artigos, teria permitido a manobra com maior tranquilidade. E, claro, repara que se o cenário tivesse falhado teríamos uma perda mínima em comparação à perda máxima e ao lucro possível ou “esperado” caso o cenário se confirmasse coo aconteceu.

Fig 05 – estratégia aplicada para o novo cenário, este altista, de 30/10. Custo $300 e liquidação em 05/11 uma vez atingida a zona-alvo.

Na próxima edição da coluna, queremos falar a respeito de certificados e nosso projeto com Morgan Stanley. Até lá, bons negócios e vamos acompanhar a evolução do curso do índice americano e as circunstâncias em torno dele.

Seja quem for o próximo presidente já lucramos com mais uma oportunidade e, se nossa expectativa se confirmar, talvez em breve veremos o S&P acima dos 3500 novamente. Se o estímulo financeiro vier, a alta muito provavelmente será maior ainda.

Analista de estratégias com opções da Vandermart Solutions
Nesta coluna com insights direto dos mercados em Frankfurt e NYC, Daniel discorre sobre oportunidades com foco em ativos de grande liquidez. Trader certificado (EUREX) e analista da Vandermart Solutions, Daniel é braço direito de Reinhold Fend no Brasil. Fend é autor do software Vandermart Tracker uma maiores referências dos países do DACH (Alemanha, Suíça e Áustria) quando o assunto são estratégias com opções. Junto com Ken Rapoza, BRICS-analyst da Forbes ex-WSJ do Brasil, assinam o “Options Jaguar”.
Nesta coluna com insights direto dos mercados em Frankfurt e NYC, Daniel discorre sobre oportunidades com foco em ativos de grande liquidez. Trader certificado (EUREX) e analista da Vandermart Solutions, Daniel é braço direito de Reinhold Fend no Brasil. Fend é autor do software Vandermart Tracker uma maiores referências dos países do DACH (Alemanha, Suíça e Áustria) quando o assunto são estratégias com opções. Junto com Ken Rapoza, BRICS-analyst da Forbes ex-WSJ do Brasil, assinam o “Options Jaguar”.
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