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De olho no boi: Quando a virada no ciclo de preços deve favorecer os produtores?

08 set 2023, 11:00 - atualizado em 06 set 2023, 12:42
Boi Gordo Carnes Agronegócio
Segundo especialista, o varejo deve apresentar mudanças após a venda de frigoríficos da Marfrig para Minerva; o que mexe com o boi gordo? (Imagem: Reprodução/Embrapa)

A arroba do boi gordo tem apresentado um viés de queda ao longo de 2023, registrando recuo de 30%.

O cenário atual acontece muito em função do ciclo positivo do gado no Brasil, com maior oferta de animais, o que leva os preços do animal a recuarem.

No entanto, em virtude do cenário de oferta elevada e da queda nos valores, os pecuaristas têm apresentado margens ruins, aguardando por um melhor momento para negociar os seus animais.

Na última quarta-feira (6), o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) reportou um crescimento de 12% no abate de bovinos no terceiro trimestre de 2023 na comparação com o mesmo período do ano passado, números que explicam o cenário atual.

Quando os preços do boi gordo devem favorecer os pecuaristas?

Em conversa com o Agro Times, Wagner Yanaguizawa, analista econômico de proteína animal no Rabobank, ressalta que o cenário de aumento da oferta e preços menores, em função da inversão do ciclo pecuário, já era algo esperado pelo mercado.

“A surpresa veio por conta do consumo doméstico, que ainda se mantém fraco. Essa tem sido a maior variável de impacto negativo nos preços do boi gordo. Com relação ao curto prazo (setembro e outubro), acredito que serão meses onde a oportunidade para recuperação nos preços estará limitada, já que os frigoríficos têm sinalizado que estão bem posicionados nas escalas de abate”, explica.

Assim, Yanaguizawa acredita que ainda há espaço para uma maior pressão nos preços, mesmo enxergando um limite próximo, já que as cotações estão se aproximando dos patamares de 2018, algo que era visto como “superado” pelo mercado.

“Projetamos que a recuperação de preço deve ficar mais pro final do ano, com a recuperação sazonal do consumo doméstico acontecendo por conta das estações mais quentes e possíveis limitações de oferta com queda no animal ofertado no segundo giro do confinamento. Com a confirmação do El Niño, podemos projetar impactos negativos na qualidade das pastagens, atrasando a engorda do gado a pasto”, diz.

Oportunidade de investimentos para produtores

O analista do Rabobank explica que o bezerro foi comprado pelos pecuaristas a preços recordes em anos anteriores, enquanto o boi gordo agora é vendido por preços mais baixos.

“Ao mesmo tempo que é um momento desafiador aos pecuaristas, também existe a oportunidade de ele se posicionar nas compras de reposição, já que os preços do bezerro estão em queda e ele pode vislumbrar a vender esse animal com o preço maior quando o ciclo se inverter. Dessa forma, acredito que esse ciclo pecuário será menor do que os anteriores e, a partir do segundo semestre de 2024, devemos ver um movimento de retenção de fêmeas para abate, que deve se consolidar em 2025”, discorre.

Yanaguizawa enxerga o momento atual como ideal para investir e apostar na eficiência e produtividade, reduzindo os custos como forma de melhorar as margens.

“Pecuaristas que conseguiram se capitalizar nos últimos anos, com os patamares recordes de preços do boi gordo, têm investido parte em programas de gestão visando melhorar eficiência e minimizar os impactos nas margens”, conclui.

Exportações dos frigoríficos para China

Quanto ao cenário de queda nos preços de exportações para a China, o analista ressalta que a queda é reflexo basicamente da desvalorização do gado vivo no mercado interno, em meio à piora econômica do país asiático.

“Os importadores do Brasil, principalmente da China, sabem do momento que estamos passando e aproveitam para pressionar os preços de importação, em busca da melhor cotação possível. Entendo que existe espaço para maiores quedas nos preços de exportação, mas o momento em termos de demanda é mais positivo para o mercado externo do que para o mercado doméstico. Sazonalmente, o Brasil exporta mais no segundo semestre, o que também limita maiores quedas de preços”, avalia.

Varejo e atacado

Para Magno Cavalcante, gestor comercial de carnes, o momento atual é de equilíbrio na precificação, com altas e baixas nos preços de varejo.

“As exportações de carne bovina continuam com preços mais baixos, já que os importadores têm optado por produtos de menor valor agregado. Com isso, o Brasil tem ficado com produtos maiores, gerando até alguma oportunidade de negociação no varejo, com melhores preços para filé mignon e picanha”, explica.

Cavalcante diz que houve uma movimentação importante no mercado dos frigoríficos, após a Marfrig (MRFG3) acertar um contrato de venda com a Minerva (BEEF3) de R$ 7,5 bilhões envolvendo a alienação de 16 plantas e um centro de distribuição.

“O movimento deixa o mercado nacional com necessidade de nova organização, já que os compradores do varejo sentirão uma sensível alteração na disponibilidade de produtos pelas marcas envolvidas na negociação. Isso porque, se a Minerva seguir com sua estratégia de exportação, pode houver uma ruptura no mercado interno”, comenta.

Quanto ao atacado, segundo Fernando Iglesias, analista de proteína animal na Safras & Mercado, o mercado do boi está acomodado.

“Essa semana foi um pouco mais lenta em termos de comercialização para o boi gordo, assim como no atacado. A expectativa fica sobre o escoamento na primeira quinzena do mês, já que essa será uma variável fundamental para entendermos o ritmo de negócio”, comenta.

Para o analista, o mercado convive agora com mais propensão a reajustes, com mais capacidade de recuperação principalmente em São Paulo, Mato Grosso do Sul, Goiás e Minas Gerais.

“Esses quatro estados então na dianteira para uma potencial recuperação dos preços da arroba, mas ainda é cedo para afirmar isso”, conclui.

Repórter
Formado em Jornalismo pela Universidade São Judas Tadeu. Atua como repórter no Money Times desde março de 2023. Antes disso, trabalhou por pouco mais de 3 anos no Canal Rural, onde atuou como editor do Rural Notícias, programa de TV diário dedicado à cobertura do agronegócio. Por lá, participou da produção e reportagem do Projeto Soja Brasil, que cobre o ciclo da oleaginosa do plantio à colheita, e do Agro em Campo, programa exibido durante a Copa do Mundo do Catar e que buscava mostrar as conexões entre o futebol e o agronegócio.
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Formado em Jornalismo pela Universidade São Judas Tadeu. Atua como repórter no Money Times desde março de 2023. Antes disso, trabalhou por pouco mais de 3 anos no Canal Rural, onde atuou como editor do Rural Notícias, programa de TV diário dedicado à cobertura do agronegócio. Por lá, participou da produção e reportagem do Projeto Soja Brasil, que cobre o ciclo da oleaginosa do plantio à colheita, e do Agro em Campo, programa exibido durante a Copa do Mundo do Catar e que buscava mostrar as conexões entre o futebol e o agronegócio.
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