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Deflação dos alimentos: Queda do IPCA implica em melhores preços ao produtor e consumidor final? Entenda

13 jul 2023, 10:51 - atualizado em 13 jul 2023, 10:51
FAO, Índice de preços dos Alimentos IPCA
Maior safra de grãos da história e queda do câmbio são alguns dos fatores que favorecem a queda dos preços dos alimentos (Imagem: REUTERS/Toby Melville)

Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), que mede a inflação oficial do país, recuou 0,08% em junho, desacelerando-se em relação à alta de 0,23% apurada em maio. Essa é a primeira deflação mensal desde outubro do ano passado.

No mês passado, quatro dos nove grupos pesquisados no IPCA apresentaram queda, mas o recuo do indicador foi influenciado principalmente pelo setor de alimentos, que recuou 0,66%.

Dessa forma, conversamos com Felippe Cauê Serigati, professor da Escola de Economia de São Paulo da Fundação Getulio Vargas (FGV EESP) e pesquisador do Centro de Agronegócios da FGV (FGV Agro), e perguntamos se essa queda no preços do alimentos implica em menores preços ao consumidor final e menores custos ao produtor rural.

Visão do pesquisador para a deflação do IPCA

Desaceleração dos alimentos

O pesquisador da FGV destaca a queda acelerada nos preços do setor de alimentos, sendo o grupo “alimentação no domicílio” o que mais contribui para a redução da inflação no Brasil.

“Por vezes, no IPCA, nos enganamos quando vemos a queda no grupo de alimentos e não lembramos que existe a alimentação fora e dentro do domicílio, que é justamente o recuo que temos observado. A alimentação fora do domicílio está mais atrelada ao setor de serviços, que é preço que o consumidor paga em uma lanchonete ou restaurante”, diz.

Dessa forma, Serigati explica que a deflação dos alimentos está ligada principalmente a dois fatores: maior safra de grãos e queda do câmbio.

Nesta quinta-feira (13), a Companhia Nacional de Abastecimento estimou a produção brasileira de grãos na safra 2022/2023 em 317,571 milhões de toneladas, um crescimento de 16,5% ou 44,9 milhões de toneladas acima da safra 21/22, consolidando as previsões anteriores como a maior já produzida no país.

Além disso, ontem, a moeda norte-americana fechou em R$ 4,817. Desde 1º de janeiro, o dólar caiu cerca de 9,45%, um recuo expressivo, com a moeda consolidando um patamar abaixo dos US$ 5.

“Ainda que tenhamos visto uma safra de cana razoável, vemos uma grande safra de grãos e volume elevado de animais abatidos, por melhoria na qualidade das pastagens, aumentando a disponibilidade de alimentos e reduzindo preços. No entanto, não é apenas isso, como as commodities estão intrinsicamente ligadas ao dólar, quando a moeda fica mais barata frente ao real, essas commodities tendem a cair”, analisa.

O que muda para o produtor?

Serigati ressalta que ao mesmo tempo que a queda nos preços do alimentos é benéfica ao consumidor, ela não é necessariamente positiva ao produtor rural.

“Certamente, houve uma compressão nas margens dos produtores, já que a safra atual teve os seus custos associados aos eventos de 2022, ou seja, pra gente colher a safra no primeiro trimestre desse ano, é preciso lembrar que plantamos a oleaginosa com fertilizantes adquiridos de forma tardia, em julho do ano passado, quando os preços estavam ainda em patamares mais agudos, em função dos reflexos da Guerra da Ucrânia, que envolve importantes países fornecedores de fertilizantes e grãos,” explica.

Dessa forma, a safra 22/23 foi composta a partir de custos muito elevados na comparação histórica.

“Para alguns produtores, a conta ainda fecha, mas, nós temos exemplos que a conta não fechou para outros. O milho, por exemplo, nós estamos colhendo uma ótima safra, e como já colhemos uma elevada safra de soja, temos um cenário de armazenagem limitado, ou seja, o grão colhido tem basicamente a necessidade de ser comercializado de forma imediata, e o comprador sabe disso, e com isso, ele tem um maior poder de barganha sobre o produtor”, discorre.

Assim, Serigati explica que a saca de milho de 60 quilos que está sendo negociada hoje em Mato Grosso entre R$ 25 e R$ 30, sendo que há 12 meses era vendida entre R$ 70 e R$ 90.

“Qual será o efeito disso? O produtor continuará produzindo, mas devemos ver na safra 23/24 uma redução na área plantada com milho e uma expansão de outro produto, talvez soja, talvez outro grão. A lógica é essa, mesmo com o preço mais baixo ao consumidor, isso significa margem mais apertada ao produtor”, finaliza.

Repórter
Formado em Jornalismo pela Universidade São Judas Tadeu. Atua como repórter no Money Times desde março de 2023. Antes disso, trabalhou por pouco mais de 3 anos no Canal Rural, onde atuou como editor do Rural Notícias, programa de TV diário dedicado à cobertura do agronegócio. Por lá, participou da produção e reportagem do Projeto Soja Brasil, que cobre o ciclo da oleaginosa do plantio à colheita, e do Agro em Campo, programa exibido durante a Copa do Mundo do Catar e que buscava mostrar as conexões entre o futebol e o agronegócio.
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Formado em Jornalismo pela Universidade São Judas Tadeu. Atua como repórter no Money Times desde março de 2023. Antes disso, trabalhou por pouco mais de 3 anos no Canal Rural, onde atuou como editor do Rural Notícias, programa de TV diário dedicado à cobertura do agronegócio. Por lá, participou da produção e reportagem do Projeto Soja Brasil, que cobre o ciclo da oleaginosa do plantio à colheita, e do Agro em Campo, programa exibido durante a Copa do Mundo do Catar e que buscava mostrar as conexões entre o futebol e o agronegócio.
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