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Dólar abaixo de R$ 5 é realidade? 4 pontos que podem fazer a moeda romper marca

01 fev 2023, 9:00 - atualizado em 01 fev 2023, 6:57
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Dólar fechou janeiro no patamar de R$ 5,07 e forte desvalorização com a entrada de investidor estrangeiro na B3. Mas vai chegar a R$ 5,00? (Imagem: REUTERS/Dado Ruvic)

O dólar à vista exibiu um desempenho negativo em relação ao real em janeiro, levando a moeda a encerrar o primeiro mês de 2023 com a maior queda desde outubro do ano passado. À época, o então candidato Luiz Inácio Lula da Silva ganhou a terceira eleição para presidente da República.

Diante da desvalorização perto de 3,8% no mês passado, analistas comentam que os “ventos foram favoráveis” para mercados de países emergentes, enfraquecendo o dólar ante essas moedas. Tanto favoreceu que houve uma entrada de fluxo estrangeiro de quase R$ 11 bilhões no mercado secundário da Bolsa brasileira, até 27 de janeiro, segundo dados da B3.

O cenário mudou no meio do mês. Com o gringo ávido pelas ações brasileiras e comprando o risco Brasil, o real exibiu a melhor performance no acumulado de janeiro entre as 16 moedas mais negociadas, conforme mostra abaixo o gráfico da Bloomberg.

dólar real moedas

Por que o dólar caiu quase 4%?

Apesar do montante estar abaixo do volume registrado em janeiro de 2022, o analista de investimentos da Empiricus Research, João Piccioni, lista fatores que vêm corroborando para a queda da moeda. Isso depois de atingir as máximas de R$ 5,48 no início do ano.

“Estamos vendo a reabertura da economia da China e isso ajuda a impulsionar os mercados emergentes. Além disso, os preços das commodities voltaram a subir. Tudo isso ajuda a segurar a moeda nesse patamar [abaixo dos R$ 5,15]”, diz. 

A taxa de juros atual, em 13,75% ao ano, também contribui para a valorização do real, segundo ele. “Nosso juro real está bem mais atrativo do que outros mercados”, comenta. 

O gerente da mesa de operações de câmbio da StoneX, Marcio Riauba, destaca que, entre os fatores que corroboraram para a desvalorização do dólar, está a leitura de que os juros devem continuar em patamares altos por um período mais longo no mercado doméstico. 

“A expectativa, uma vez que a meta de inflação não foi cumprida no ano passado, é que também não se cumpra este ano dada a situação fiscal indefinida”, acrescenta.

Juros altos não apenas no mercado local como também nos Estados Unidos. Entretanto, os dois analistas comentam que a perspectiva é de que o Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano) está perto de encerrar o ciclo de alta de juros, iniciado em março de 2022.

O que favorece investidores com ‘carry trade’ [diferencial de juros entre os países] mais atrativo, tirando um pouco da pressão do dólar no Brasil”, observa Riauba.

Piccioni, porém, avalia que os investidores talvez não estejam colocando no preço os motivos pelos quais o Fed deverá parar de aumentar juros. Ele acredita que os EUA ainda estejam caminhando para uma recessão econômica. “Entre o terceiro e quarto trimestre deste ano”, comenta.

O que impede o dólar a cair abaixo de R$ 5

Enquanto a moeda americana vem exibindo enfraquecimento ante seus pares globais, aqui, há uma forte volatilidade, que deve seguir sendo observada nos próximos meses. Contudo, nos últimos dias, o dólar ensaiou beliscar os R$ 5,05.

Tal proximidade esquenta o debate do mercado de quando o dólar poderá romper a importante marca de R$ 5, nível em que está desde junho do ano passado.

O analista da Empiricus reforça que o dólar chegou a esse patamar meses atrás justamente pela alta de juros no mercado local. No mês seguinte, porém, os Estados Unidos elevaram o tom em relação aos juros e iniciou um aperto monetário mais duro, o que fortaleceu a moeda americana globalmente, com o euro chegando a perder a paridade de um para um.

  • Volatilidade: A costumeira oscilação do dólar deve perdurar ao longo de 2023, assim como esteve presente nos últimos seis meses, pontua Piccioni, em meio à alta de juros nas principais economias globais e com as eleições presidenciais no Brasil.

Agora, ele destaca, o movimento da moeda tem forte influência da política doméstica.

  • Cenário fiscal: Parte dessa influência política vem da situação fiscal do país, diz o gerente de câmbio da StoneX. Para ele, esse foi um dos principais fatores que ainda “segura” a moeda acima dos R$ 5,00. “Não sabemos ainda os planos do novo governo quanto ao arcabouço fiscal”, diz.

O analista da Empiricus acrescenta que o Ministério da Fazenda “precisa dar um direcionamento melhor” em relações às pautas econômicas e fiscais.

  • Política local: O Congresso Nacional retoma os trabalhos hoje (1) e, para Riauba, a pauta política ficará no centro das atenções para o mercado financeiro. “Os debates vão reacender”, diz.

Já Piccioni lembra que a eleição do presidente do Senado e da Câmara dos Deputados será importante para definir como será a atuação das Casas. “Vamos ver de que lado o Congresso vai atuar, se do governo ou não. As propostas que serão debatidas, o que vai ser praticado ou não”.

  • Exterior: Mesmo que o dólar esteja enfraquecido no exterior, os efeitos globais devem ser considerados. Os dois analistas reforçam que o desempenho da economia global segue no radar, com a China dando indícios de retomada, enquanto investidores acompanham com lupa os sinais que os EUA dão para uma recessão econômica ou não.

Além disso, as decisões e tons adotados por bancos centrais seguem na pauta do mercado.

Entretanto, para a gestora de ativos americana AllianceBernstein, o real pode repetir a predominância entre pares emergentes ao longo deste ano, mesmo que a moeda esteja combalida por ruídos do governo Lula. Segundo a gestora, o dólar deve encerrar 2023 a R$ 5,00.

Para alcançar um patamar abaixo disso, a instituição acredita que não bastariam os juros reais bastante positivos, mas “todas as condições certas”, inclusive vindas do exterior. “O ambiente global parece estar apontando para a fraqueza do dólar. Então, isso deve ajudar”, ressaltou a AllianceBernstein.

Repórter
Jornalista mineira com experiência em TV, rádio, agência de notícias e sites na cobertura de mercado financeiro, empresas, agronegócio e entretenimento. Antes do Money Times, passou pelo Valor Econômico, Agência CMA, Canal Rural, RIT TV e outros.
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