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É o início do fim para o Facebook? Queda de usuários diários traz questionamentos

03 fev 2022, 17:28 - atualizado em 04 fev 2022, 10:17
Facebook
Saiba o que aconteceu com o Facebook no balanço do último tri de 2021 (Pixabay)

O Facebook (FBOK34) registrou uma perda de usuários pela primeira vez em sua história, segundo o balanço divulgado na quarta-feira (2). Pelo menos 500 mil usuários foram perdidos por dia no último trimestre de 2021.

Isso significa que a rede social foi de cerca de 1,93 bilhão de usuários diários para 1,929 bilhão. Uma diferença que pode não parecer tão grande assim, mas que impacta diretamente os negócios e a visão dos analistas de mercado.

Ainda mais se for levado em conta que este foi primeiro resultado divulgado após o Facebook mudar oficialmente seu nome para Meta e anunciar, de vez, sua entrada no metaverso.

Mesmo com a queda, a receita do último trimestre de 2021 foi de US$ 33,67 bilhões, acima dos US$ 33,4 bilhões esperados por analistas.

Mas será que é o suficiente?

Para o mercado, não

As ações do Facebook caíram mais de 27% nesta quinta-feira (3), fazendo a Meta perder mais de US$ 200 bilhões em valor de mercado e os preços dos papéis despencarem.

O JPMorgan alterou a indicação da companhia para “neutra” e foi retirada de uma lista de recomendações de ativos chamada Analyst Focus List.

Segundo o site Business Insider, o analista Doug Anmuth, do JPMorgan, afirmou que “o Facebook está vendo uma desaceleração significativa no crescimento da publicidade ao embarcar em uma transição cara, incerta e de vários anos para o metaverso”.

O Q geracional

Um dos motivos para a queda em usuários ativos pode ser a mudança demográfica clara no Facebook.

Pessoas mais jovens que os millennials (nascidos entre 1980 e 1995), ou seja, os os famosos integrantes da “geração Z”, gastam seu tempo em outras redes sociais, como o TikTok.

Segundo documentos obtidos pelo site The Verge, o uso do Facebook por adolescentes caiu 13% de 2019 a 2021, com uma projeção de queda de 45% nos próximos dois anos. Entre jovens de 20 a 30 anos, a expectativa é de uma queda de 4% no mesmo período.

O site alemão Statista aponta que, nos Estados Unidos, a maior concentração demográfica de usuários da rede social de Mark Zuckerberg está na casa dos 25 aos 34 anos, representando 26,4% do total.

Os adolescentes de 13 a 17, no entanto, são a minoria, representando apenas 3,2% dos usuários do Facebook.

No Brasil, a tendência é a mesma: 28,4% dos usuários têm entre 25 e 34 anos.

O desinteresse dos mais jovens já é um problema para a rede social desde 2012, mas se tornou mais grave recentemente, ainda de acordo com os documentos da empresa.

O The Verge também aponta que, em uma apresentação realizada no começo do ano passado, o Facebook afirmou que os adolescentes passam de duas a três vezes mais tempo no TikTok do que no Instagram.

“A maioria dos jovens adultos percebe o Facebook como um lugar para pessoas na faixa dos 40 e 50 anos”, disse a apresentação de Chris Cox, chefe de produto da rede social, segundo o The Verge.

“Os jovens adultos percebem o conteúdo como chato, enganoso e negativo. Muitas vezes, eles precisam superar o conteúdo irrelevante para chegar ao que importa.”

Ainda segundo Cox, esse grupo etário “têm uma ampla gama de associações negativas com o Facebook, incluindo preocupações com privacidade, impacto em seu bem-estar e baixa conscientização sobre serviços relevantes”.

A Meta não compartilha dados separados em relação ao Instagram, mais querido pelos mais jovens, sendo que seus usuários têm, em sua maioria, entre 18 e 34 anos, segundo a Statista.

De “mãos atadas”

De mãos atadas — é assim que o empreendedor e ex-chefe de novos produtos da Meta, Nikita Bier, define a situação atual do Facebook.

Em seu perfil no Twitter, Bier listou cinco motivos que justificam sua afirmação. Segundo ele, “os usuários costeiros de alto ARPU se desligaram; o TikTok está comendo seu almoço; eles [a Meta] não podem adquirir devido ao escrutínio antitruste; eles não podem construir porque os fundadores não querem estar lá; o IDFA acabou com sua capacidade de segmentar anúncios; o metaverso está a dez anos de distância”.

Bier setenciou o Facebook com um “RIP” ao final da postagem, sigla para “rest in peace”, ou, em tradução livre, “descanse em paz”.

Mesmo assim, o empreendedor afirma que a queda do império “facebookiano” não é motivo de comemoração.

“Para quem está torcendo pelo fim do Facebook, você também está torcendo por duas coisas: a China possuindo ondas de rádio americanas e para a inovação estagnada nas mídias sociais no futuro próximo. Se o maior comprador não pode comprar, ninguém vai construir”, disse.

Bier também afirmou em um de seus tuites que “Zuck é o maior operador do mundo e não apostaria contra ele a longo prazo”.

Covid-19 e redes sociais

Para Fabro Steibel, diretor-executivo do ITS-Rio, questões regionais também têm um peso grande em cima da diminuição de usuários diários ativos.

“Eles perderam mais usuários na América e na África, regiões que também perderam usuários na internet, principalmente de baixa renda”, diz.

Steibel salienta que isso foi causado pelos efeitos da pandemia da Covid-19, relevante pelo aumento da demanda do celular e da desconexão.

“Se todo mundo no mercado perdeu, não dá para dizer que o Facebook perdeu. Há uma estabilidade do crescimento dos produtos da família-Facebook, o que é diferente do crescimento do TikTok. O Facebook está em um momento estável de sua história, e continua lucrativo”, afirma.

O especialista exemplifica a situação da rede social e dos novatos usando uma metáfora bastante entendível no mundo atual: é como se o o Facebook fosse um banco tradicional, enquanto os novos aplicativos são uma fintech.

“Um banco tradicional é muito lucrativo, enquanto uma fintech não é. Aquele que está chegando, está fazendo. As ações são uma aposta do que vai bombar, e o Facebook já foi uma aposta um dia”, diz.

O efeito Apple

Apple
“Efeito Apple” pode impactar nas finanças do Facebook (Imagem: Unsplash/Laurenz Heymann)

Após a divulgação dos resultados, Dave Wehner, CFO da Meta, afirmou em uma ligação com analistas que “o recurso App Tracking Transparency da Apple reduzirá as vendas da empresa em 2022 em cerca de US$ 10 bilhões”.

Wehner se referiu diretamente à mudança na política de transparência e privacidade da Apple, que passou a perguntar para os usuários se eles queriam ou não permitir que seus movimentos fossem rastreados por uma série de aplicativos, incluindo os da família Facebook.

A alteração foi uma pedra no sapato de Zuckerberg, uma vez que a publicidade da rede social é bastante focada em personalização e em algoritmos que analisam, entre outras coisas, a região onde as pessoas estão para indicar produtos.

“Estamos apenas estimando o que achamos ser o impacto geral das mudanças cumulativas do iOS para onde está a previsão de receita de 2022”, disse Wehner, segundo a CNBC. “Se você agregar as mudanças que estamos vendo no iOS, essa é a ordem de grandeza. Não podemos ser precisos sobre isso. É uma estimativa.”

A família Facebook da Silva

Apesar da queda em usuários ativos, o número da família de produtos do Facebook não caiu, atingindo uma estabilidade. Segundo Steibel, é necessário lembrar que existem outros aplicativos na árvore genealógica do Facebook — como o Instagram e o Messenger.

Instagram celular
Instagram também pertence ao Facebook (Imagem: Unsplash/Solen Feyissa)

“É errado ler que o número de pessoas estão usando o Facebook. Menos pessoas, segundo eles, estão logando menos na rede social ou no mês. O produto Facebook está diminuindo, mas o Meta, não”, explica.

Resta saber se o metaverso é, realmente, o caminho do paraíso.

 

Editora
Jornalista formada pela Faculdade Paulus de Comunicação (FAPCOM) e editora do Money Times, já passou por redações como Exame, CNN Brasil Business, VOCÊ S/A e VOCÊ RH. Já trabalhou como social media e homeira e cobriu temas como tecnologia, ciência, negócios, finanças e mercados, atuando tanto na mídia digital quanto na impressa.
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Jornalista formada pela Faculdade Paulus de Comunicação (FAPCOM) e editora do Money Times, já passou por redações como Exame, CNN Brasil Business, VOCÊ S/A e VOCÊ RH. Já trabalhou como social media e homeira e cobriu temas como tecnologia, ciência, negócios, finanças e mercados, atuando tanto na mídia digital quanto na impressa.
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