Mercados

Fed terá coragem para aumentar juros em meio à ‘quebradeira’? Veja o que esperar da decisão de amanhã

02 maio 2023, 18:25 - atualizado em 02 maio 2023, 18:25
Fed
O que Jerome Powell guarda para os mercados, amanhã? (Imagem: Twitter/Federal Reserve)

O mercado pode estar passando por um deja-vù com relação à decisão que o Federal Reserve tomará amanhã.

Em março, o BC norte-americano estava preparado para realizar um aumento de 0,25 ponto-percentual (pp.) na taxa de juros, após uma bateria de dados do mercado de trabalho e dos preços ao consumidor indicar forças inflacionárias persistentes na economia.

Eis então que dois bancos regionais anunciaram a falência, deflagrando uma crise no setor financeiro que pressionou a política monetária por um afrouxamento da liquidez. Na divulgação da última ata, ficou explícito que o estresse no sistema bancário americano foi quase suficiente para que o Fed pausasse naquele momento o aperto monetário.

Prevaleceu a ideia da ala majoritária de que o BC precisaria focar na estabilidade de preços e a ancoragem da inflação, o que foi traduzido com o aumento de 0,25% inicialmente pretendido.

Para lidar com a crise, o Federal Reserve anunciou uma série de medidas de facilitação de crédito a bancos com problemas de solvência, além de uma injeção de liquidez de US$ 300 bilhões na economia. 

Agora, menos de um dois meses depois, a falência do First Republic Bank e o medo do mercado com outros bancos regionais voltam a pressionar a determinação do Banco Central americano em controlar a inflação.

Apesar da ‘novidade’ no cenário, investidores ainda creem em uma mensagem dura do Fed.

Fed baterá na tecla ‘desaceleração, pero no mucho

Mesmo com mais um desafio à frente, sob o ponto de vista da liquidez, o cenário favorecido por mais de 85% das apostas do Fed Funds é que a autoridade monetária aumente em 0,25 ponto percentual a taxa-diretiva de juros.

Na análise de Eduardo Nishio, chefe da área de research da Genial Investimentos, os dados divulgados ao longo da semana passada mostram uma desaceleração da atividade econômica dos EUA, porém insuficiente para levar a inflação de volta à meta.

Entre os indicadores que mostram desaceleração, Nishio destaca o PIB trimestral de 1,1%, abaixo do consenso, perda da confiança do consumidor e atividade de manufatora só levemente acima do esperado.

Na outra ponta, o índice de preços de gastos com consumo (PCE, na sigla em inglês), que é índice de inflação preferido pelo Fed, variou 4,2% no primeiro trimestre de 2023, acelerando em relação ao quarto trimestre de 2022. E pior: o núcleo do índice mostrou variação de 4,9%, acima da leitura cheia e muito superior à meta de 2%.

Com o mercado de trabalho, os sinais também não são tão promissores. Desde o início do ano, as leituras de payroll vem acima da expectativa, indicando também aumento de custo do emprego e elevação da renda pessoal.

“O Fed deverá aumentar a  taxa básica de juros da economia em 0,25 pontos de porcentagem em sua reunião da próxima quarta-feira, o que levará a taxa ao nível de 5,0% a 5,25% ao ano, e manter o tom duro do comunicado que se segue à reunião”, explica o chefe da área de Research da Genial.

Duração da pausa é mensagem essencial

Além da magnitude da alta, Alex Lima, estrategista-chefe da Guide Investimentos, indica que a duração do tempo em que os Estados Unidos deverão ficar com os juros pausados é a mensagem-chave no comunicado da autoridade nesta quarta-feira.

Nesse sentido, o estrategista-chefe afasta a ideia de que o BC americano esteja pensando em cortar os juros em 2023. “O fim desse ciclo não significa que o Fed vai cortar os juros. Trata-se somente de uma pausa para observar os efeitos da política monetária em território restritivo”, explica Lima.

Assim, caso a inflação volte a arrancar, sob o ponto de vista macroeconômico, abre-se a possibilidade de novas altas de juros e uma projeção de taxa terminal acima do referendado pelos membros do Federal Reserve na última reunião.

Ainda que o Fed reafirme o seu compromisso com a estabilização dos preços, analistas aguardam que a autoridade monetária gaste alguns parágrafos falando sobre a questão dos bancos.

Em comunicado recente, que definiu a conclusão da investigação do Fed sobre o SVB, Jerome Powell criticou o gerenciamento de risco do banco e fez reflexões sobre o arcabouço regulatório dos EUA como ferramenta de contenção de riscos sistêmicos.

Até agora, no entanto, Powell e os demais dirigentes votantes não expressaram preocupação de que os eventos recentes transbordem em uma crise de amplas proporções para o sistema financeiro.

Estagiário
Jorge Fofano é estudante de jornalismo pela Escola de Comunicações e Artes da USP. No Money Times, cobre os mercados acionários internacionais e de petróleo.
Jorge Fofano é estudante de jornalismo pela Escola de Comunicações e Artes da USP. No Money Times, cobre os mercados acionários internacionais e de petróleo.
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