Mercados

Não acaba no First Republic: mais de 2 mil bancos dos EUA estão com problemas de solvência (um deles tem mais de US$ 1 tri em ativos)

02 maio 2023, 14:45 - atualizado em 02 maio 2023, 17:29
bancos First Republic Bank
Compra relâmpago do First Republic Bank não tira dúvidas dos mercados. (Imagem: REUTERS/Brendan McDermid)

O fim de semana confirmou a notícia que já vinha sendo prenunciada durante a sexta-feira passada: a falência do First Republic Bank (FRC). O credor é o terceiro a fechar as portas em menos de dois meses nos Estados Unidos.

Em contraste com o Signature Bank e com o SVB, o acordo de resgate do First Republic Bank foi facilitado pelo interesse de um comprador: o gigante JPMorgan & Chase.

Mas para que isso ocorresse na velocidade que foi, uma condição importante para tentar estancar uma nova onda de desconfiança no sistema bancário, o FIDC (o Fundo Garantidor de Crédito dos EUA) cedeu ao JPMorgan uma série de garantias ‘douradas’ no processo de aquisição.

Na essência, o banco ficará com os depósitos e ativos da instituição falida, eximindo a dívida corporativa e as ações preferenciais. Assim, acionistas e detentores de títulos da dívida do banco regional acabam saindo no prejuízo, espelhando o acontecido com o Credit Suisse.

No retrato geral, a aquisição do First Republic Bank tem dividido opiniões entre analistas do mercado americano. Para alguns, tendo conseguido acesso apenas aos ativos de maior qualidade do banco regional falido, o JPMorgan ficou em uma posição blindada.

Mas há quem se preocupe com o impacto que essa aquisição acarretará para a saúde financeira do JPMorgan. Essa é uma visão que começa a ganhar tração em Wall Street e coloca em xeque a tese de que há bancos grandes demais para falir nos EUA. 

Manual para um credit crunch: mais da metade dos bancos americanos pode estar insolvente

Em meio ao ganho de fôlego da crise bancária na principal economia do mundo, um estudo produzido pela Universidade de Stanford demonstra que a situação dos bancos americanos pode ser ainda pior do que o imaginado anteriormente.

Se antes, think tanks renomados do mundo das finanças alertavam para 200 bancos em uma situação de vulnerabilidade, o levantamento do Instituto Hoover mostra que 2.315 instituições financeiras estão sentadas em ativos que valem menos do que seus passivos financeiros.

Esse é um reflexo da depreciação do balanço de ativos de longo-prazo, como títulos hipotecários e bonds de 10,20 e 30 anos, que perdeu o seu valor com o aumento de 5,0 pontos-percentuais dos juros americanos em um ano.

“O valor de mercado dos seus portfólios de empréstimo são US$ 2 trilhões abaixo do valor nominal desses ativos”, ressalta o documento.

Esses credores incluem verdadeiros tubarões do setor financeiro. Um dos dez bancos mais vulneráveis dos EUA é uma entidade de risco sistêmico cujos ativos superam US$ 1 trilhão. Há também três outros bancos com somas em ativos maiores do que US$ 250 bilhões.

Para evitar o mesmo destino dos bancos falidos, a tendência projetada por analistas é que mais e mais bancos comecem a diminuir suas carteiras de empréstimo, originando as circunstâncias para uma crise de crédito ampla nos próximos meses.

Acordo-relâmpago não acalma os mercados

Apesar da aquisição veloz do First Republic Bank ajudou a mitigar maiores problemas com depositantes não-segurados pelo FIDC, ela não está sendo capaz de tranquilizar os mercados.

Esta terça-feira (2) marca o segundo dia de queda em bloco dos bancos regionais, à medida que os investidores começam a vasculhar o setor financeiro em busca dos elos mais fracos.

Nesse sentido, PacWest Bancorp, o Western Alliance Bank e o KeyCorp são três dos nomes mais pressionados pela aversão ao risco; os três bancos já vinham de perdas superiores a 50% desde que o SVB faiu em março.

Por volta das 14h, enquanto o PacWest Corp (PACW) desaba 26%, o Western Alliance (WAL) perde 20%.

O estresse bancário também atinge em cheio o mercado das Treasuries. Os rendimentos das T-notes de 10 anos caem 0,13 ponto-percentual (pp.), aos 3,438%; já as T-bills de 2 anos rendem 3,973%, com uma queda de 0,173 pp. na comparação com a véspera.

Outro mercado aferidor de risco que reage forte ao evento deste início de maio é o de petróleo. A cotação dos contratos futuros de Brent e do WTI derrete mais de 4% no início desta tarde.

Estagiário
Jorge Fofano é estudante de jornalismo pela Escola de Comunicações e Artes da USP. No Money Times, cobre os mercados acionários internacionais e de petróleo.
Jorge Fofano é estudante de jornalismo pela Escola de Comunicações e Artes da USP. No Money Times, cobre os mercados acionários internacionais e de petróleo.