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Ibovespa afunda na ‘maré coronavírus’: Ambev despenca 12%; Gol e Azul também caem

27 fev 2020, 12:44 - atualizado em 27 fev 2020, 13:27
Ambev
Dia ruim para operações da cervejaria, após reportar queda no lucro operacional medido pelo Ebitda e em margens (Imagem: Reuters/Paulo Whitaker)

Preocupações com a propagação do coronavírus e seus potenciais efeitos na economia global mantinham a bolsa paulista pressionada nesta quinta-feira, embora com perdas menores, com o tombo de quase 12% da Ambev liderando as perdas do Ibovespa, após projeção desencorajadora para o começo de 2020.

Às 12:43, o Ibovespa caía 2,15%, a 104.135,71 pontos. O volume financeiro somava 5,53 bilhões de reais.

Na véspera, na volta do feriado do Carnaval, o Ibovespa fechou em queda de 7%, maior baixa percentual desde 2017, ajustando-se ao forte declínio nos mercados globais no começo da semana por temores sobre a propagação do vírus.

A rápida disseminação do novo coronavírus nesses últimos dias para vários países, incluindo Estados Unidos e Brasil, trouxe apreensão quanto a um efeito na atividade global ainda maior do que o estimado quando os casos estavam concentrados na China, onde o cenário sugere desaceleração no ritmo de contágio.

“Os mercados devem operar com muita volatilidade e nervosismo nos próximos dias”, afirmou a equipe do BTG Pactual, citando que investidores ainda avaliam o impacto que o coronavírus pode ter no crescimento global e, mais importante sobre os crescimentos dos lucros projetados de muitas empresas.

Os mercados devem operar com muita volatilidade e nervosismo nos próximos dias, avalia estrategista do BTG Pactual (Imagem: Reuters/Adriano Machado)

Algumas casas cortaram previsões para o crescimento da economia mundial nesta semana, entre elas o Credit Suisse, de 2,6% para 2,2%, citando possibilidade de um choque no comércio global muito maior, enquanto empresas têm revisado projeções, entre elas a Microsoft em razão do vírus.

O Brasil confirmou na quarta-feira o primeiro caso de infecção pelo novo coronavírus em um paciente de São Paulo que esteve na Itália, país europeu mais afetado pelo surto da doença, surgida no final do ano passado na China.

Agentes financeiros também citam aumento do risco político como fator adicional para a queda, com nova polêmica entre o presidente Jair Bolsonaro e o Congresso, após ele compartilhar vídeo que convoca a população a participar de manifestações contra os parlamentares em meados de março.

“O temor é que possa haver algum impacto no calendário de aprovação das reformas”, destacou a equipe da XP Investimentos.

Tal cenário tende a minar a confiança de muitos investidores na bolsa paulista, uma vez que o rali recente tem sido apoiado principalmente em perspectivas positivas para a economia doméstica e resultados das empresas, que são baseados, entre outros fatores, no avanço da pauta econômica.

Destaques

Ambev (ABEV3) despencava 8,8%, tendo tocado mínima desde outubro de 2018 no pior momento, a 14,33 reais, após reportar queda no lucro operacional medido pelo Ebitda e em margens, bem como aumento nos custos, que espera que continue pesando no resultado do primeiro trimestre.

Gol (GOLL4)  e Azul (AZUL4) caíam 2,9% e 4,4%, afetadas pelas preocupações sobre a demanda de viagens com o coronavírus se espalhando por destinos como Europa e Estados Unidos, bem como pela alta do dólar em relação ao real, para níveis recordes.

Vale (VALE3) cedia 2,1%, afetada pelo cenário de menor crescimento global, que também derrubou os preços do minério de ferro na China nesta sessão. No setor de mineração e siderurgia, CSN (CSNA3) caía 1,3% e Usiminas (USIM5) perdia 2,4%, mas Gerdau (GGBR4) tinha oscilação positiva 0,06%.

Petrobras (PETR3;PETR4) recuavam 2,3% e 1,8%, respectivamente, na esteira do recuo de cerca de 3% dos preços do petróleo no mercado externo.

Itaú Unibanco (ITUB4) tinha acréscimo de 1,4% e Bradesco (BBDC4) subia 0,9%, experimentando uma trégua, em sessão sem viés único nos bancos do Ibovespa, com Banco do Brasil (BBSA3) em alta de 0,6%, Santander Brasil (SANB11) com oscilação negativa de 0,06% e BTG Pactual (BPAC11) cedendo 2,9%.

IRB Brasil (IRBR3) avançava 3,2%, tendo no radar que a Berkshire Hathaway, de Warren Buffet, praticamente triplicou a fatia que detinha na resseguradora em fevereiro, de acordo com reportagem do jornal O Estado de S. Paulo