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O que é a lei antidesmatamento da UE e como ela afeta o Brasil e o agro na prática?

11 set 2023, 15:04 - atualizado em 11 set 2023, 15:04
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Em carta, Brasil e outros 16 países afirmam que a legislação desconsidera leis e metodologias de certificação nacionais do agro (Imagem: REUTERS/Ueslei Marcelino)

O Parlamento Europeu adotou em 19 de abril o texto final da “lei antidesmatamento“, que visa proibir a comercialização e importação de produtos do agro (gado, café, óleo de palma, madeira, borracha, soja e cacau) oriundos de desmatamento ocorridos após 2020.

De acordo com a União Europeia (UE), a medida tem o objetivo de preservar florestas, a biodiversidade e combater as mudanças climáticas.

No entanto, alguns países, com destaque para o Brasil, têm se posicionado contra a lei proposta pela UE.

Na semana passada, 17 países em desenvolvimento, incluindo o Brasil, encaminharam uma carta às autoridades do Parlamento Europeu manifestando preocupações quanto à lei.

Segundo os países produtores, a imposição desconsidera “legislações nacionais e mecanismos de certificação dos países produtores em desenvolvimento, assim como os esforços no combate ao desmatamento e os compromissos assumidos em foros multilaterais”.

O que a lei antidesmatamento da UE implica ao agro do Brasil?

Na visão de Leonardo Munhoz, doutor em Direito Ambiental e pesquisador do Observatório de Bioeconomia da Fundação Getúlio Vargas, as medidas exigidas pela UE deve gerar insegurança ao produtores, já que a lei quer garantir não apenas que a produção seja ambientalmente correta, mas também atestar que as propriedades não contem com conflitos ambientais e socioeconômicos.

“Para cumprir com a exigência, será necessário ser mais do que apenas ‘verde’. A princípio, a futura norma exige critérios complexos de análise, os quais terão custos ainda indefinidos e até um possível fator de subjetividade. Nisso, é provável que pequenos proprietários sentirão mais os efeitos da exigência externa, enquanto grandes proprietários têm maior estrutura. Dessa forma, o pequeno terá acesso dificultado ao mercado externo e à sua organização. No entanto, por parte de cooperativas, ganha relevância neste cenário”, explica Munhoz.

O pesquisador da FGV destaca que a agenda ambiental no comércio pode camuflar alguma espécie de protecionismo ou interesse. Dessa forma, apesar de ter sido criada para reduzir a degradação florestal, a lei trata de uma imposição unilateral.

“Essa imposição fere a soberania do ordenamento nacional de outros países e da gestão do seu território, sem estar de acordo com os princípios, normas e precedentes do Direito Internacional e do Comércio. Resta agora aguardar a publicação e detalhamento da norma por parte da UE, dos Estados Membros e, como os países exportadores, inclusive o Brasil, vão se adaptar a essas exigências, diz.

Desmatamento no Brasil e impactos para agricultura familiar

Com base nos dados do Relatório anual do Mapbiomas, 99% da área desmatada no Brasil em 2021 apresentam indícios de irregularidade, que são caracterizados pela supressão da vegetação em áreas protegidas por lei (terras indígenas e unidades de conservação), áreas de reserva legal e áreas sob embargo, além de áreas de plano de manejo florestal sustentável.

Dessa forma, na prática, pode-se dizer que quase a totalidade do desmatamento no Brasil é ilegal (somente 1,4% do desmatamento foi legal em 2021).

“Portanto, a maioria dos produtores em conformidade com o Código Florestal brasileiro não deve temer barreiras da norma europeia, tendo a oportunidade de demonstrar a sua contribuição para a preservação e recuperação das florestas – se distanciando do estereótipo equivocado de desmatador, bem como o Código Florestal de se tornar um selo verde no que se refere a produção sustentável de produtos agropecuários no mundo. Nisso, o combate ao desmatamento ilegal se torna ponto-chave na defesa das exportações brasileiras”, explica.

Por outro lado, um ponto de preocupação que surge com a exigência ambiental, segundo Munhoz, fica para os reflexos na agricultura familiar e pequenos produtores, já que que devido seu baixo impacto ambiental, podem realizar com maior frequência a conversão florestal.

De acordo com o censo agropecuário de 2017, a agricultura familiar corresponde a 77,6% dos estabelecimentos agropecuários do Brasil (3,69 milhões de propriedades), com uma área de 80,9 milhões de hectares – 23% da área do território rural.

Por fim, a lei antidesmatamento entrará em vigor 18 meses após a publicação do Parlamento Europeu, estando prevista assim para outubro de 2024.

Repórter
Formado em Jornalismo pela Universidade São Judas Tadeu. Atua como repórter no Money Times desde março de 2023. Antes disso, trabalhou por pouco mais de 3 anos no Canal Rural, onde atuou como editor do Rural Notícias, programa de TV diário dedicado à cobertura do agronegócio. Por lá, participou da produção e reportagem do Projeto Soja Brasil, que cobre o ciclo da oleaginosa do plantio à colheita, e do Agro em Campo, programa exibido durante a Copa do Mundo do Catar e que buscava mostrar as conexões entre o futebol e o agronegócio.
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Formado em Jornalismo pela Universidade São Judas Tadeu. Atua como repórter no Money Times desde março de 2023. Antes disso, trabalhou por pouco mais de 3 anos no Canal Rural, onde atuou como editor do Rural Notícias, programa de TV diário dedicado à cobertura do agronegócio. Por lá, participou da produção e reportagem do Projeto Soja Brasil, que cobre o ciclo da oleaginosa do plantio à colheita, e do Agro em Campo, programa exibido durante a Copa do Mundo do Catar e que buscava mostrar as conexões entre o futebol e o agronegócio.
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