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Plataformas de bancos são “versão sem sal do universo cripto”; veja os bastidores da “briga de corretoras”

17 ago 2022, 17:39 - atualizado em 17 ago 2022, 18:35
corretora criptomoedas plataforma
(Imagem: Freepik)

Junto com o mercado aquecido de 2020, veio um movimento de corretoras cripto buscando seu lugar ao sol. Diversas corretoras como Huobi, OKX e CoinBene tentaram se instalar em solo brasileiro.

Em 2022, mesmo com o mercado em baixa, o movimento continua com Binance, Bitso e outras corretoras.

Além disso, grandes bancos e fintechs também anunciaram este ano suas próprias plataformas de negociação de criptomoedas como a Xtage da XP, Mynt do BTG Pactual, Mercado Pago e até o Nubank entrou neste mercado.

O Crypto Times conversou com porta-vozes de algumas corretoras que estão operando no Brasil para entender o que pensam acerca do movimento destas fintechs, e da vinda de seus concorrentes diretos estrangeiros.

“Versão sem sal do universo cripto”

Fabrício Tota, Diretor de Novos Negócios do Mercado Bitcoin, diz que o diferencial da corretora em cima dos bancos é acesso direto aos criptoativos.

Tota se refere ao fato de que as plataformas lançadas por bancos ainda não possuem a funcionalidade de sacar ou depositar em criptomoedas, entretanto algumas delas como o Mynt do BTG já anunciou que está nos planos.

“Isso [poder sacar e depositar em cripto] significa que o criptoativo de fato é do cliente e pode ser retirado a qualquer momento. O mundo cripto é aberto por definição, e o ativo comprado em uma plataforma pode ser retirado para uma carteira do próprio cliente, o que é algo muito poderoso”, comenta.

Segundo Tota, além da soberania que essa possibilidade traz para o indivíduo, ele pode interagir com algum protocolo de Defi [finanças descentralizadas], comprar um NFT e vender em outra plataforma.

“As possibilidades são infinitas. A oferta nos bancos e corretoras de valores são super restritas, o cliente fica exposto a flutuação de preços, mas não pode sacar os ativos. Retira uma característica fundamental dos criptoativos”, diz.

O Diretor de Novos Negócios do Mercado Bitcoin diz que indiretamente os bancos representam concorrência com as corretoras cripto, “ainda que ofereçam essa versão sem sal do universo cripto”,diz.

“Além da oferta super restrita, em sua grande maioria ofertam somente BTC e ETH. Hoje oferecemos mais de 200 criptoativos, entre criptomoedas, tokens lastreados, fan tokens e NFTs.”

Todavia, ele ainda comenta que as plataformas de bancos podem perder clientes para corretoras no futuro.

“O mercado cripto, ainda que tenha crescido muito, tem muito potencial para crescer. Talvez seja porta de entrada para algumas pessoas, mas a chance de se apaixonarem e quererem a versão completa da experiência é bem grande, em minha opinião”, diz.

Tota continua dizendo que o mercado ainda vai crescer bastante, e isso também pode influenciar nas corretoras que estão vindo de fora.

“Desde que se adequem às leis e regras de nosso país, são bem-vindas. O que não pode é terem políticas frágeis de prevenção à lavagem de dinheiro, com a desculpa esfarrapada de “serem globais”, como temos observado”, diz.

Os exemplos de lavagem de dinheiro, fraude e outros crimes que passaram por essas exchanges são inúmeros, conforme conta.

Para ele, uma corretora cripto precisa focar em diversos pontos para atrair uma base substancial de clientes. Entre eles estão, uma ótima experiência, diversidade de produtos, atendimento de excelência, segurança e credibilidade.

Quando questionado sobre o público alvo das plataformas de bancos e corretoras cripto, Tota diz acreditar não haver diferença.

“Acredito que seja o mesmo. Cripto é para todos. Claramente a ideia é aproveitar suas grandes bases de clientes e tentar mostrar mais um produto, se aproveitando da atratividade do universo cripto. Mas ter esse acesso diretamente com quem é especialista no assunto é sempre melhor”, finaliza.

Falta saque de cripto, sacou?

José Artur Ribeiro, CEO da Coinext, também comenta sobre a questão das plataformas de bancos não permitirem saques de criptomoedas.

Conforme explica, é uma diferença fundamental, e sem os saques, os usuários estarão somente expostos ao preço da cripto. A plataforma serviria bem, caso seja a opção do usuário a exposição, mesmo sem os saques.

“O preço das criptomoedas nestas plataformas também costumam ser maior, por causa do ‘spread’ [diferença], que, muito provavelmente, as próprias plataformas determinam. Em via de regra, o preço tende a ser mais alto do que nas corretoras”, explica.

Ribeiro diz que essa falta de saques pode ser muito relevante para quem opera como trader, já que impossibilita um esquema de arbitragem – comprar em uma corretora e vender mais caro em outra.

Todavia, o CEO comenta que acredita ser super importante o movimento de entrada destes bancos, por validar a tese de que “os criptoativos vieram para ficar”.

“A entrada destes ‘players’ corrobora com o ecossistema, validando que o ativo é realmente algo incrível. Estamos diante de uma revolução”, diz.

Para Ribeiro, existe mercado para todos. “Essa nova economia está apenas no começo. Tem um mercado gigantesco. Ressalto que estamos falando sobre 1%, ou 1,5% da população brasileira que tem cadastro em alguma corretora. Só por aí, é possível ver o tamanho do mercado”, afirma.

No que tange as corretoras cripto que estão em movimento de migração para o Brasil, Ribeiro lembra de um cenário similar em 2018, com a vinda de diversas corretoras.

“A verdade é que, todas as que entraram em 2018 não estão mais no Brasil. fazer negócio no Brasil é complexo. O Brasil é um país com suas peculiaridades”, afirma.

Para ele, o movimento de internacionalização e localização de um negócio por si só já é algo complexo.

“Não sei se todos esses players que vieram para cá, muito por conta do crescimento que o mercado passou no ano passado, vão aguentar ficar ou continuar no Brasil. Um ou outro acredito que sim, temos um grande mercado, mas em outros já não enxergam um grande futuro”, diz.

Segundo ele, alguns players internacionais já tomaram iniciativas de crescimento inorgânico via parceria com corretores locais.

Se não pode vencê-los, faça com que junte-se a você

A Binance se denomina a maior provedora global de infraestrutura para ecossistema blockchain e criptomoeda, com um conjunto de produtos financeiros que inclui a maior corretora de ativos digitais por volume de transações.

Por esse motivo, a narrativa da corretora foi de ser provedora de tecnologia, ao invés de concorrente.

“Essa infraestrutura possibilita que diversos participantes, incluindo outras corretoras, possam entrar nesse mercado por meio dos produtos e serviços oferecidos pela Binance, como a Binance Cloud (nuvem), a BNB Chain, que é o blockchain da Binance, e o BNB, criptomoeda com o terceiro maior valor de mercado do mundo, por exemplo”, diz. 

Conforme eles, globalmente, o ecossistema da Binance  é responsável por garantir a maior parte da liquidez do mercado para a maioria das listagens.

“A Binance acredita que hoje existe espaço para que muitos participantes atuem dentro do mercado cripto no Brasil e no mundo. Estamos liderando o processo global de desenvolvimento do segmento cripto, trabalhando em parceria com reguladores, legisladores e governos em todo o mundo para assegurar um ambiente seguro e inclusivo”, diz a corretora em comunicado.

Para a Binance, o momento é de um uso crescente desta tecnologia, com cada vez mais demanda por produtos. “Quanto mais as pessoas conhecerem sobre blockchain e cripto, mais o mercado vai crescer”, comenta.

“O Brasil é um mercado extremamente relevante para a Binance e vamos continuar a investir e expandir serviços para os usuários locais, bem como contribuir para o desenvolvimento do ecossistema blockchain e cripto no país”, afirma.

Isso inclui a regulação do setor, segundo o comunicado. A Binance cita o anúncio, em março, do processo de aquisição da corretora local Sim;paul, empresa autorizada pelo Banco Central e pela Comissão de Valores Mobiliários (CVM).

Quem tem medo dos “criptoconcorrentes”?

Para Thales Freitas, CEO da Bitso, o mundo das plataformas de criptomoedas está se tornando mais diversificado, o que significa que novos competidores podem surgir no mercado todos os dias.

Esse é um processo natural e importante para a inovação do mercado, conforme  Freitas.

“Mais importante do que apontar quem é nosso concorrente ou não, o que eu posso te dizer hoje é que viemos ao Brasil para ser o elo entre o sistema financeiro tradicional e o novo sistema de finanças digitais de Cripto e DeFi, pois acreditamos que a criptoeconomia abre um mundo de possibilidade às pessoas e pode realmente revolucionar as finanças”, diz.

Conforme o CEO, a missão da Bitso é tornar a cripto útil e inovar o mercado. “Não somos só uma exchange, oferecemos muito mais do que somente a compra e venda de criptoativos”, comenta.

Para Freitas, o diferencial da corretora é oferecer atendimento ao cliente humanizado e personalizado, 24/7, em português.

“E é feito por pessoas e não robôs, o que dá a segurança de saber que pode resolver um problema ou uma dúvida a qualquer momento”, finaliza.

A chegada de outros players

Além de corretoras nacionais, estrangeiras e plataformas de bancos e fintechs, o mercado de tecnologia cripto no Brasil possui utro setor amplamente disputado: de tokenização.

A tokenização de ativos tradicionais por meio de blockchain é algo que empresas como a Liqi, Vórtx e Bolsa OTC estão buscando emplacar. Confira abaixo a entrevista exclusiva feita pelo Crypto Times com Keiji Sakai, investidor e membro do conselho da Bolsa OTC, a primeira plataforma de negociação de ativos digitais do Brasil aprovada no Sandbox Regulatório do Bacen.

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Repórter do Crypto Times
Jornalista formado pela Universidade Presbiteriana Mackenzie. Repórter do Crypto Times, e autor do livro "2020: O Ano que Não Aconteceu". Escreve sobre criptoativos, tokenização, Web3 e blockchain, além de matérias na editoria de tecnologia, como inteligência artificial, Real Digital e temas semelhantes. Já cobriu eventos como Consensus, LabitConf, Criptorama e Satsconference.
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Jornalista formado pela Universidade Presbiteriana Mackenzie. Repórter do Crypto Times, e autor do livro "2020: O Ano que Não Aconteceu". Escreve sobre criptoativos, tokenização, Web3 e blockchain, além de matérias na editoria de tecnologia, como inteligência artificial, Real Digital e temas semelhantes. Já cobriu eventos como Consensus, LabitConf, Criptorama e Satsconference.
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