Brasil

Resumo da semana: Crise no MEC, troca na Petrobras, o “fico” de Doria, a desistência de Moro e mais

02 abr 2022, 11:00 - atualizado em 01 abr 2022, 12:26
Congresso
Crise no MEC, saída de Silva e Luna da Petrobras, a desistência de Sergio Moro e outros assuntos movimentaram Brasília nesta semana (Imagem: REUTERS/Ricardo Moraes)

A última semana do mês de março foi bastante movimentada na política brasileira.

Há seis meses do primeiro turno das eleições, Brasília teve dias conturbados em diversas frentes — a maioria das situações envolveu o governo federal.

Ainda na segunda-feira (28), caiu o terceiro ministro da Educação do governo de Jair Bolsonaro (PL).

Milton Ribeiro foi “afastado” do cargo poucos dias depois do presidente afirmar que “colocaria a cara no fogo por ele”, em meio a denúncias de um esquema de corrupção no repasse de verbas do FNDE (Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação).

No mesmo dia aconteceu o que já era especulado desde o início do mês. Joaquim Silva e Luna, presidente da Petrobras (PETR4), foi demitido do cargo.

O general já era “fritado” pelo palácio desde o início do mês, quando a estatal precisou aumentar consideravelmente o preço dos combustíveis por conta da disparada do barril do petróleo, que chegou perto dos US$ 140. A medida desagradou o governo.

O final da semana ainda reservou surpresas para a corrida eleitoral. João Doria, do PSDB, quase desistiu da pré-candidatura à presidência nos 45 do segundo tempo, quando deveria renunciar ao governo do Estado de São Paulo.

O tucano acabou recuando da decisão, no fim das contas, e declarou publicamente que segue na corrida eleitoral. Quem acabou desistindo, de fato, foi o ex-juiz Sergio Moro, que também trocou o Podemos pela União Brasil.

Veja tudo o que movimentou o país nesta semana:

‘Bolsolão’ do MEC

Ministro da Educação vai ao Senado por denúncia de favorecimento na próxima quinta-feira
O presidente Jair Bolsonaro chegou a dizer que colocaria a “cara no fogo” por Milton Ribeiro (Imagem: REUTERS/Adriano Machado)

No último dia 18, o jornal O Estado de São Paulo publicou uma matéria que detalhava o aparelhamento do Ministério da Educação por meio de pastores evangélicos, que comandariam o repasse de verbas.

Três dias depois, em 21 de março, foi a vez da Folha de São Paulo divulgar um áudio em que Milton Ribeiro, ainda ministro, dizia repassar as verbas do FNDE a municípios indicados por esses pastores, atendendo a um pedido do presidente Jair Bolsonaro.

“Foi um pedido especial que o presidente da República fez para mim sobre a questão do [pastor] Gilmar”, disse o ministro durante uma reunião.

Após a divulgação do áudio, prefeitos começaram a denunciar mais detalhes sobre o caso, dizendo que os tais pastores atendidos com prioridade pelo MEC cobrariam propina dos municípios como forma de liberar as verbas da pasta.

O Estadão publicou no dia 22 de março que entre os pedidos de propina havia depósitos de R$ 15 mil e até de pagamentos em 1 kg de ouro.

A crise foi grande e Ribeiro não teve apoio para continuar no cargo. Se não caiu imediatamente por intervenção dos filhos do presidente, passou a ser alvo, inclusive, de figuras como o deputado federal Marco Feliciano, nome forte entre os evangélicos.

Bolsonaro negou que demitira o ministro, e no último dia 24, durante a sua live semanal, afirmou que colocaria a “cara no fogo por ele”. Três dias depois, veio a exoneração.

O secretário Executivo da pasta Victor Godoy Veiga assumiu o cargo de ministro interno. Mesmo com a gravidade da denúncia, Bolsonaro não dá tom de “demissão” para a saída de Milton Ribeiro, que ele diz ser temporária.

Nesta quinta-feira (31), durante evento de despedida de ministros que deixaram o cargo para disputar as eleições, o presidente afirmou que Ribeiro não estava lá porque os deixou “temporariamente”.

O ex-ministro foi convocado pela Comissão de Educação do Senado Federal para prestar esclarecimentos sobre o caso. Ele não compareceu, e a Comissão aprovou um requerimento de convite (REQ 22/2022) ao ministro interino, Victor Veiga.

Petrobras: time vai mal, troca o técnico

Joaquim Silva e Luna sofria pressão para pedir demissão da presidência da Petrobras (Imagem: REUTERS/Adriano Machado)

Bolsonaro repetiu por mais de uma vez ao longo de março que não tinha como interferir na Petrobras (PETR4). Suas falas, porém, caminhavam junto às críticas à política de preços praticada pela companhia.

No dia 8 de março, a estatal anunciou um aumento de 25% dos preços do diesel em suas refinarias e de 19% para a gasolina, na esteira dos ganhos nas cotações do petróleo no mercado internacional em função da invasão na Ucrânia.

A medida foi criticada por conta do tamanho do aumento, que já estava “represado”, visto que a Petrobras não anunciava reajustes para os combustíveis há dois meses.

Como a commodity tem operado no mercado de forma relativamente “imprevisível”, considerado o contexto de guerra, após ultrapassar o preço de US$ 130/barril, o petróleo começou a cair novamente, chegando a ficar abaixo dos US$ 100 uma semana depois de atingir o pico.

Na ocasião, Bolsonaro declarou para seus apoiadores durante discurso no Palácio no Planalto que esperava que a estatal acompanhasse a redução do preço internacional do barril.

No dia 16 ele também chegou a dizer, durante entrevista ao SBT, que não tem poderes sobre a empresa, que poderia ser “privatizada hoje”.

“A Petrobras se transformou na Petrobras Futebol Clube, onde o clubinho lá de dentro só pensa neles, jamais pensam no Brasil”, acrescentou.

O presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), se manifestou no mesmo dia, dizendo a jornalistas que a Petrobras deveria recuar do aumento justamente por conta da queda do petróleo e do dólar.

“Nós estamos com o petróleo baixando e o dólar baixo. E a cobrança é: a Petrobras agora vai baixar o combustível? O óleo diesel é mais barato fora [do país] do que aqui. Nós vamos ter redução de preço? (…) O barril baixou. O barril sobe, a gente aumenta. O barril baixa, a gente não baixa?”, questionou. Apesar das críticas que vem sofrendo, Silva e Luna tem negado a possibilidade de pedir demissão do cargo.

O mais recente levantamento de preços realizado pela ANP (Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis) mostrou que o litro da gasolina comum pode ser encontrada por até R$ 8,949 no país.

Isso porque além da agência levantar o preço médio dos combustíveis nos Estados, também apura quais são os preços mínimo e máximo encontrados nos postos brasileiros.

O preço médio do litro da gasolina comum no país é hoje de R$ 7,210. O Estado com o combustível mais caro segue sendo o Piauí, que lidera o ranking com um prédio médio de R$ 8,071, seguido pelo Rio Grande do Norte (R$ 7,857) e pelo Rio de Janeiro (R$ 7,694).

Nos bastidores palacianos, o recado estava dado: a ideia era pressionar Silva e Luna até que ele pedisse demissão. O general, no entanto, negava essa possibilidade.

Em entrevista ao blog da jornalista Andréia Sadi, no G1, o general disse que por sua formação militar “morre junto na batalha e não deixa a tropa sozinha”, além de ter destacado na ocasião que tinha uma relação de lealdade e confiança com Bolsonaro.

Foi na noite de segunda-feira (28) — mesmo dia da saída de Milton Ribeiro, coincidentemente ou não — a demissão foi oficializada. No lugar de Silva e Luna, chega Adriano Pires, economista, professor e diretor do Centro Brasileiro de Infraestrutura (CBIE).

O nome de Pires é respeitado no mercado, já que o especialista é considerado um grande técnico. A troca, no entanto, levanta dúvidas: ele pode (ou mesmo quer) mudar a política de preços da estatal de forma a agradar o novo chefe?

A indicação ainda precisará ser validada pela Assembleia Geral Ordinária da companhia, que acontece daqui a duas semanas, em 13 de abril.

A demissão de Silva e Luna acontece em um contexto semelhante à de Roberto Castello Branco, presidente anterior ao general, que foi dispensado na época por conta das constantes altas nos preços dos combustíveis. Castello Branco havia sido uma indicação do ministro Paulo Guedes para o cargo.

Com Pires na presidência da Petrobras, a estatal terá o seu 40º CEO em 68 anos de existência.

O “diga ao povo que fico” do tucano João Doria

João Doria
João Doria renunciou ao governo do Estado de São Paulo e reafirmou que segue como candidato à presidência (Pablo Jacob/Divulgação)

Neste sábado (2), o país passa a estar exatamente a seis meses da eleição presidencial. O primeiro turno acontece no dia 2 de outubro.

A janela partidária se encerrou na sexta-feira (1º), período em que os candidatos podem trocar de legenda. Já aqueles que possuem cargo público, devem renunciar até hoje.

Na quinta-feira (31) era esperado que João Doria, pré-candidato pelo PSDB, renunciasse ao governo do Estado de São Paulo e passasse o bastão para o seu vice, Rodrigo Garcia.

Ainda de manhã, no entanto, as primeiras notícias vieram: Doria não renunciaria e tampouco concorreria às eleições presidenciais.

A mudança repentina seria uma resposta do tucano à própria legenda, que, rachada, não o apoiaria integralmente na disputa.

Parte do PSDB ainda flerta com a possibilidade de um Eduardo Leite candidato. No início da semana, o então governador gaúcho renunciou do cargo e disse que permaneceria no partido, após cogitar ir para o PSD de Gilberto Kassab.

Leite perdeu para Doria as prévias do PSDB que aconteceram em novembro do ano passado. Ambos disputavam, ao lado de Arthur Virgílio (ex-prefeito de Manaus), quem representaria o partido nas eleições deste ano.

Horas após a divulgação das primeiras notícias sobre o recuo de Doria, o presidente da sigla, Bruno Araújo, divulgou uma carta reiterando que o candidato dos tucanos era o então governador de São Paulo.

Outros importantes nomes da sigla, como senador José Serra e do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, também reafirmaram seu apoio ao que fora decidido nas prévias.

Foi durante a tarde, em coletiva no Palácio for Bandeirantes, no melhor estilo “diga ao povo que fico” (no caso, na disputa), que João Doria renunciou ao cargo de governador de São Paulo e afirmou que segue candidato à presidência da República.

O tucano dividiu palanque com nomes fortes do PSDB em São Paulo, como seu presidente Estadual e secretário do Desenvolvimento Regional Marcos Vinholi, o presidente da Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo (ALESP) Carlão Pignatari, o novo governador de São Paulo, Rodrigo Garcia.

Sua esposa, a até então primeira-dama Bia Doria, também estava presente, além de Ricardo Nunes (MDB), prefeito de São Paulo.

Em seu discurso, Doria teceu elogios a Garcia e à família. Emocionou-se a falar do pai e sustentou uma fala que o distanciou de um Bolsonaro a quem já prestou apoio no passado.

Ele também destacou seus feitos durante a pandemia da Covid-19, antagonizando com a posição negacionista do presidente. Exaltou o trabalho da imprensa e entoou até o chavão “lugar de mulher é onde ela quiser”. É válido destacar aqui que a maior rejeição a Bolsonaro se encontra hoje entre o eleitorado feminino.

“É hora de enfrentarmos as adversidades coletivamente, e não individualmente, e criar uma frente ampla pelo Brasil e pelos brasileiros”, declarou.

João Doria deixa o governo de São Paulo com três anos e três meses de mandato. O paulistano de 64 anos assumiu a Prefeitura da cidade de São Paulo em 2016, quando foi eleito no primeiro turno, e renunciou ao cargo em 2018 para concorrer ao Governo de São Paulo.

Na ocasião, Doria venceu o então governador Márcio França (PSB) no segundo turno, com 11 milhões de votos, e tomou posse como o 37º Governador de São Paulo.

Moro fora

Sergio Moro trocou o Podemos pelo União Brasil de Luciano Bivar (Imagem: Marcello Casal Jr/ Agência Brasil)

Surpreendentemente, no fim do dia, houve, sim, uma desistência de candidato à presidência da República.

Mas não era o nome esperado. Enquanto João Doria discursava reiterando que estaria na disputa, o ex-juiz Sergio Moro, terceiro colocado nas pesquisas de intenção de voto, abria mão da corrida presidencial.

Filiado ao Podemos de Álvaro Dias desde novembro do ano passado — partido que também tem Deltan Dallagnol como membro —, ele anunciou que segue agora para a União Brasil, legenda presidida por Luciano Bivar que agrupa o DEM e o PSL.

A condição para a sua ida, no entanto, era abrir mão da candidatura. Isso porque Moro chega como apenas um “filiado”.

Em nota publicada nas redes sociais, ele declarou que “o Brasil precisa de uma alternativa que livre o país dos extremos, da instabilidade e da radicalização”.

“Por isso, aceitei o convite do presidente nacional do União Brasil, Luciano Bivar, para me filiar ao partido e, assim, facilitar as negociações das forças políticas de centro democrático em busca de uma candidatura presidencial única. A troca de legenda foi comunicada à direção do Podemos, a quem agradeço todo o apoio. Para ingressar no novo partido, abro mão, nesse momento, da pré-candidatura presidencial e serei um soldado da democracia para recuperar o sonho de um Brasil melhor”, declarou.

Na noite de quinta-feira (31), o Podemos divulgou uma nota, assinada por sua presidente, a deputada federal Renata Abreu, dizendo que o partido soube da nova filiação de Moro pela imprensa, destacando que ele não havia comunicado internamente sobre a sua decisão.

“O Podemos jamais mediu esforços para garantir ao presidenciável uma pré-campanha robusta, a começar por um grande evento de filiação e por toda retaguarda necessária para deslocamentos em segurança pelo País, com total garantia de recursos para sua futura campanha eleitoral. O Podemos não tem a grandeza financeira daqueles que detém os maiores fundos partidários, como é sabido por todos. Mas tem a dimensão daqueles que sonham grande, com a convicção de que o projeto de um Brasil justo para todos vale mais do que o dinheiro”, diz a nota.

É possível que, agora pelo União Brasil, Sergio Moro dispute uma cadeira na Câmara dos Deputados nas eleições deste ano.

Daniel Silveira e o STF

Daniel Silveira
O deputado federal está novamente utilizando a tornozeleira eletrônica (Imagem: Plínio Xavier/Câmara dos Deputados)

No último sábado (26), o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), determinou que Daniel Silveira (União Brasil) voltasse a usar a tornozeleira eletrônica para participar de eventos públicos  após o deputado descumprir decisões judiciais e voltar a criticar os magistrados da Corte.

Além disso, o parlamentar não poderia se ausentar do Rio de Janeiro, seu Estado, salvo para ir à Brasília para exercer seu mandato.

O parlamentar se recusou inicialmente a utilizar o aparelho.

Por isso, dormiu na Câmara dos Deputados, já que o ambiente é inviolável, ou seja, a Polícia Federal não poderia colocar a tornozeleira eletrônica em Silveira nas dependências da Casa.

Ele aceitou colocar a tornozeleira na noite de ontem (1) para evitar uma multa diária de R$ 15 mil. O deputado é réu em ação penal movida pelo Ministério Público Federal (MPF), após ter feito ameaças ao Supremo Tribunal Federal e a seus membros por meio de redes sociais. A denúncia foi recebida pelo STF em abril do ano passado. O julgamento da ação está marcado para o dia 20 de abril.

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Jornalista paulistana formada pela Universidade Presbiteriana Mackenzie e editora do Money Times. Passou pelas redações da CNN Brasil e TV Globo como produtora, VOCÊ S/A e VOCÊ RH como repórter e Exame.com como redatora estagiária.
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