Colunista Empiricus

Rodolfo Amstalden: Não sei sobre Deus, mas Keynes é brasileiro

20 jan 2022, 18:34 - atualizado em 20 jan 2022, 18:34
(Imagem: Divulgação/ Empiricus)

As condições brasileiras atuais seriam largamente convidativas à fase 2 keynesiana, combinando o pior da economia com o melhor da proporção entre preços e fundamentos corporativos devidamente selecionados.

Pessoas com muitas grandes qualidades correm o risco de serem interpretadas apenas por sua qualidade dominante.

É uma injustiça, mas é como as coisas são: the halo effect.

No caso de John Maynard Keynes, a fama de macroeconomista — talvez o maior de todos os tempos — obliterou outros traços tão ou mais elogiáveis. 

Lord Keynes tratava publicamente de suas preferências sexuais na mesma época e no mesmo Reino Unido em que Alan Turing foi perseguido e incriminado por “atos homossexuais”.

Era também um exímio financista. Tivesse escrito sobre finanças, ou documentado seus resultados financeiros de maneira organizada, estaria ocupando o lugar na estante de tantos Investidores Inteligentes.

Benjamin Graham fez o trabalho braçal de publicar as fórmulas e argumentos racionais, mas Keynes foi muito além: explicou o mercado através de um concurso de beleza e incorporou aos pobres modelos o imponderável do espírito animal.

Felizmente, hoje podemos dar notícia dos números alcançados pelo Keynes investidor, graças ao posto que assumiu como gestor do endowment de Cambridge, de 1921 até sua morte, em 1946.

Esse extenso período pode ser repartido em duas fases. 

De 1921 até 1931, conseguiu entregar um retorno médio de +8,06% ao ano, acima do benchmark de ações britânicas, que ficou em +6,67% na mesma janela.

Já de 1931 a 1946, seu retorno anualizado saltou para +18,84%, quase que dobrando a variação do benchmark, de +10,52%.

O que mudou entre a fase 1 e a fase 2?

No primeiro intervalo, Keynes aplicou uma abordagem top-down para escolher tanto as alocações entre classes de ativos quanto os ativos em si. Apaixonado como era pela macroeconomia, preferiu tomar decisões orientadas por contextos favoráveis de PIB, juros, câmbio e inflação.

Já no segundo intervalo, ele tomou consciência de que a estratégia do economista e as táticas do financista nem sempre se encontram, embora possam convergir de forma não trivial, em raras intersecções.

Keynes passou a fazer mais análises bottom-up, selecionando ativos de qualidade cujos preços haviam sido dizimados por ciclos de recessão ou de repique inflacionário.

Assim, naqueles mesmos contextos em que o Keynes economista se encontrava deprimido, o Keynes investidor atingia seus ápices de entusiasmo.

As condições brasileiras atuais seriam largamente convidativas à fase 2 keynesiana, combinando o pior da economia com o melhor da proporção entre preços e fundamentos corporativos devidamente selecionados.

A maioria dos investidores ainda precisa se desvencilhar da velha ideia de que o investimento em ativos de risco só faz sentido quando as condições macro ajudam.

Como diria John Maynard Keynes, “the difficulty lies not so much in developing new ideas as in escaping from old ones”. 

Sócio-fundador da Empiricus
Sócio-fundador da Empiricus, é bacharel em Economia pela FEA-USP, em Jornalismo pela Cásper Líbero e mestre em Finanças pela FGV-EESP. É autor da newsletter Viva de Renda.
Sócio-fundador da Empiricus, é bacharel em Economia pela FEA-USP, em Jornalismo pela Cásper Líbero e mestre em Finanças pela FGV-EESP. É autor da newsletter Viva de Renda.
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