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Royalties x assinatura: Qual o futuro dos modelos de NFTs?

22 out 2022, 16:00 - atualizado em 21 out 2022, 18:29
NFT royalties punk
(Imagem: Freepik)

O volume negociado no mercado de tokens não fungíveis (NFTs) apresentou diversas baixas ao longo deste ano de Bear Market – que atingiu não somente NFTs, mas também os criptoativos em geral.

O modelo mais utilizado entre os criadores de coleções para captar renda é o de Royalties. Neste modelo, todo ativo negociado tem uma porcentagem de royalties convertidas para a carteira do criador do projeto.

O baixo volume de negociação pode ser traduzido em prejuízos aos criadores, e desincentivo para coleções futuras. Por esse motivo, novos modelos já estão começando a surgir no mercado.

NFTs sofrem com baixo volume de venda em 2022

De acordo com Bernardo Pascowitch, fundador do Yubb, o mercado acompanha o cenário de quedas das criptomoedas, assim como o setor econômico mundial.

“Os investimentos, em todos os setores, diminuíram. Por diversos fatores econômicos mundiais que atravessamos atualmente, os investidores estão retraídos, investindo menos e com mais cautela. O mercado de NFTs, assim como o de criptomoedas, vem passando por constantes variações, e, por consequência, menos os tokens passam valer”, explica.

Histórico do volume de venda de NFTs em dólar (Fonte: NFTGo)

Conforme mostra o gráfico acima, houve uma grande explosão no volume de venda em 2021, atingindo seu pico em abril com mais de US$ 3,66 bilhões. Todavia, atualmente o volume encostou em US$ 285 milhões no final do mês passado.

Não somente o volume de vendas sofreu com quedas, mas o próprio interesse em pesquisas sobre o assunto.

Considerada a palavra do ano em 2021, o termo “NFT” mostrou um aumento relevante entre a metade de 2021 e começo de 2022, segundo o Google Trends. Mas a partir da segunda metade caiu acentuadamente.

Royalties 0%: O começo de uma nova era no mercado de NFTs

No dia 9 de outubro deste ano, uma das Blue Chips – maiores coleções – da rede Solana, a DeGods, anunciou que iria baixar seus royalties de negociação para 0%.

A coleção é composta por 10 mil NFTs – atualmente com preço mínimo de 276 SOL, ou US$ 7.842 na cotação atual – e controlada por uma DAO. Em abril de 2022 foi a primeira a comprar um time de basquete, o BIG3.

A coleção não foi a primeira, mas devido ao seu tamanho, e por receber uma quantidade relevante de royalties por seu alto volume, a notícia dada pela comunidade DeGods foi um choque entre a comunidade NFT.

O maior marketplace em termos de usuários ativos mensalmente na Solana, também anunciou no último dia 15 que está permitindo que os detentores escolham impor ou não royalties, movimento também conhecido como 0% de royalties.

Trata-se de um movimento muito grande e, para diversos usuários, afetará muitos projetos NFT existentes na rede.

O Diretor de pesquisa na proof, analista de pseudônimo punk 9059, divulgou no mês passado um relatório acerca dos royalties de NFTs nos principais marketplaces.

Segundo dados apresentados no relatório, no ano passado, os colecionadores de NFT pagaram aos criadores mais de US$ 1,5 bilhão em royalties.

As taxas de royalties subiram ao longo deste tempo, com a mediana de royalties do OpenSea passando de 4,0% em julho de 2021 para 7,5% em julho de 2022.

Conforme ele, talvez em resposta aos massivos gastos com royalties, as plataformas de negociação sem royalties cresceram em popularidade, movimento que permitiu compradores e vendedores de NFT poderem optar por não receber royalties do criador.

As plataformas que não impõem royalties ganharam tração, permitindo que mais e mais coletores de NFT ignorem todos os pagamentos de royalties. O resultado disso foi uma queda acentuada no total de royalties pagos na rede Ethereum ao longo de 2022.

NFT royalties punk
(Fonte: Relatório “Deep Dives 004”/ Sam (NFTStatistics.eth) – @punk9059)

O analista de NFT coloca que os royalties são quase impossíveis de forçar através do contrato inteligente do token pelo blockchain.

Atualmente existem dois tipos de contratos inteligentes que possibilitam a criação de um NFT na rede Ethereum, o ERC-721 e o ERC-1155. Os criptoativos da rede são feitos sob o contrato ERC-20.

“Exchanges optam por cobrar os vendedores de NFT e transferir os royalties para os criadores. Há sempre a possibilidade, no entanto, das exchanges optarem por não receber royalties”, diz.

Ele explica que o lançamento da novidade da Sudoswap, uma plataforma de negociação focada em ser 0% royalties, e o movimento da x2y2 também permitir a funcionalidade representa uma ameaça real para o modelo de lucro das coleções.

Valter Rebelo, analista de criptoativos da Empiricus, diz que os NFTs rumam para se tornar uma tecnologia que utilizamos no dia-a-dia, assim como o e-mail.

“Esses ‘objetos digitais’ possibilitam uma série de aplicações e serviços acessados através da posse dos mesmos. Quando o assunto é arte e criação de conteúdo, criadores conseguem personalizar a experiência do consumidor com vantagens, acessos exclusivos, e até royalties – porém existem limitações”, afirma. 

Atualmente, NFTs podem ter um percentual das vendas secundárias direcionadas para os seus criadores, entretanto, o exercício desse pagamento de royalties só pode ser realizado pelos marketplaces em que estes NFTs são negociados, sendo que nem sempre os marketplaces optam por obrigar o pagamento de royalties para os artistas, conforme diz Rebelo.

Nascem novas soluções no mercado NFT; A Web3 trabalha em comunidade

A perspectiva da comunidade Web3 se divide em duas: pró-royalty, e os contra o modelo. A última, contra, acredita que os mercados de zero royalties correm o risco de jogar a o mercado de NFT ao modelo de incentivos da arte tradicional.

Nessa estrutura de incentivo, os artistas não crescem com o valor do seu trabalho, conforme críticos.

A opinião contrária é que o modelo 0% royalties é inevitável por dois motivos principais. O primeiro é devido aos contratos de Ethereum não poderem impor royalties por conta própria e, o segundo, os colecionadores buscam maximizar os lucros.

“Os criadores precisam encontrar mais modelos de receitas aplicáveis”, diz o @punk9059 no relatório.

Outras opções incluem o modelo de arte tradicional de ganhar dinheiro com vendas primárias e secundárias ou usando ferramentas para “punir” NFTs compradas sem pagamento de royalties.

“Acreditamos que com o tempo mais ferramentas serão construídas para proteger os royalties, mas também mais projetos adotarão outros modelos de receita, como manter mais NFTs em tesouraria e ofertas subsequentes”, consta o relatório.

Um outro modelo parece já ter sido proposto por um desenvolvedor em blockchain. No Twitter, o usuário Cygaar – desenvolvedor da equipe da coleção NFT Azuki – compartilha o modelo e o link que leva para o novo formato de contrato inteligente: ERC-5643.

Trata-se de um modelo de assinatura, onde o detentor é forçado por contrato inteligente a pagar uma quantia a cada período de tempo para manter sua posse.

Ao contrário dos NFTs padrões, que são baseados nos contratos inteligentes ERC-721, essa estrutura pode forçar um pagamento no código, segundo o desenvolvedor.

Cygaar introduziu o token baseado na sua proposta de melhoria para Ethereum (EIP na sigla em inglês), onde descreve as utilidades e aplicações por trás do contrato.

A ideia atraiu comentários positivos de outros nomes famosos do meio. Entre eles, o fundador da coleção “CoolCats”, outra blue chipe.

Outro interessado, foi Nassim Eddequiouaq, chefe de segurança da maior Venture Capital focada em Web3 -a16z crypto / Andreessen Horowitz.

Em resposta, Eddequiouaq diz que acha a ideia interessante, e estava pensando em aplicar algo semelhante em um de sua autoria.

“Eu estava pensando exatamente nisso para um modelo de receita recorrente em nosso projeto. Fico feliz em ver que isso está sendo adicionado, embora muitos projetos já lançados não possam alavancar um novo eip [proposta de melhoria na rede Ethereum]. Vale a pena criar padronizando algum registro também para tudo que já saiu”, diz.

O chefe de segurança ainda sugere uma ideia de incrementar o modelo com a implementação de níveis de assinaturas. A ideia é que uma coleção ofereça seus serviços de acessos à exclusividades para diferentes públicos-alvos.

“Outra coisa que eu estava pensando é a assinatura por recurso em vez de um estado binário. ex: lançamos uma coleção personalizável e podemos oferecer diferentes níveis de assinatura, permitindo diferentes níveis de personalização”, sugere.

Assinatura de NFT seria uma alternativa à zero royalties?

A estrutura apresentada por Cygaar, se trata na realidade de uma extensão para o modelo tradicional (ERC-721), e, segundo ele, em breve implementar compatibilidade com o formato de tokens (ERC-20).

Conforme justifica em sua proposta de melhoria, para muitos aplicativos do mundo real, é necessária uma assinatura paga para manter uma conta ou associação válida.

“O aplicativo on-chain mais prevalente que faz uso do modelo de assinatura renovável é o Ethereum Name Service (ENS), que utiliza uma interface semelhante à proposta abaixo [ERC-5643]. Cada domínio pode ser renovado por um determinado período de tempo e expira se os pagamentos não forem mais efetuados”, explica.

A ideia do desenvolvedor é de que, utilizando um padrão comum para assinaturas – contrato inteligente-, será fácil para uma única aplicação determinar o número de assinaturas que um usuário possui, ver quando elas expiram e renová-las/cancelá-las conforme solicitado pelas partes.

Para Rebelo da Empiricus, o modelo de assinaturas é uma alternativa dos NFTs que atuam como assinaturas ou passes de acesso dentro da comunidade da coleção, sairem do modelo de royalties sem ser prejudicado.

O modelo atual de NFTs, o padrão ERC-721, portanto, limita o uso de NFTs para este tipo de operação, segundo o analista. 

“A nova proposta EIP-5643 tenta contornar o problema de royalties secundários on-chain criando uma extensão para o atual modelo ERC-721, no qual o proprietário faria pagamentos recorrentes ao contrato, dando origem a uma nova fonte de renda a artistas que optem por criar com base nesta tecnologia”, diz. 

Em sua opinião, Rebelo diz achar uma proposta interessante, em especial para modelos de assinatura, mas que ainda é limitado para substituir casos como royalties secundários.

“Porém quando penso em royalties secundários, e até royalties de músicas instanciadas em NFT, o modelo proposto ainda é limitado, pois requer que o usuário faça pagamentos recorrentes, o que não acredito que seja algo escalável para determinados casos de uso, como royalties musicais”, coloca.

“No momento, vejo como mais vantajoso para um artista negociar em marketplaces onde o repasse de royalties é obrigatório (i.e. OpenSea). Se o não repasse de royalties se tornar norma no mercado (algo que não acho crível), teremos que buscar outras soluções melhor adaptadas para o problema”, finaliza.

Felipe Franco, fundador da GIGHeroes, diz sentir que é questão de encarar a motivação pela qual uma coleção existe: “hoje entendemos NFTs como produtos, e como bom produto a premissa é que dê lucro”.

No entanto, coloca que essa é apenas uma das infindáveis utilidades de um token não fungível. “Quando passamos a entender as NFTs como meio e não como fim, protocolos como o EIP-5643 fazem total sentido”, diz.

Franco diz que, vale lembrar que a Ethereum Name Service (ENS) ser renovável por assinatura é uma forma de garantir que em algum momento aquele domínio voltará para o pool de disponibilidade.

“Imagina que o owner [detentor] perdeu sua seed phrase [chaves de carteira] ( e temos casos famosos do tipo ), aquele domínio ficaria perdido para sempre se não fosse a solução dada pela rede ethereum”, comenta.

“A Web3 está avançando, alguns projetos fazem mais sentido com o ERC721 e outros serão potencializados por soluções como o ERC5643. No fim, quanto mais alternativas tivermos para consolidar nossos negócios, melhor. Uma não inviabiliza a outra”, diz.

Para ele, o modelo de assinatura pode ser um recurso valioso para a manutenção de comunidades, se o objetivo é ter uma gama de membros verdadeiramente participativos.

“Garantir que eles estejam presentes para votar, opinar e seguir o desenvolvimento ao seu lado. Esse protocolo vale mais do que as comissões obtidas pela coleção. No fim é isso, se a coleção é o produto, não faz sentido, mas se é o meio, certamente vai ajudar”, finaliza.

Repórter do Crypto Times
Jornalista formado pela Universidade Presbiteriana Mackenzie. Repórter do Crypto Times, e autor do livro "2020: O Ano que Não Aconteceu". Escreve sobre criptoativos, tokenização, Web3 e blockchain, além de matérias na editoria de tecnologia, como inteligência artificial, Real Digital e temas semelhantes. Já cobriu eventos como Consensus, LabitConf, Criptorama e Satsconference.
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Jornalista formado pela Universidade Presbiteriana Mackenzie. Repórter do Crypto Times, e autor do livro "2020: O Ano que Não Aconteceu". Escreve sobre criptoativos, tokenização, Web3 e blockchain, além de matérias na editoria de tecnologia, como inteligência artificial, Real Digital e temas semelhantes. Já cobriu eventos como Consensus, LabitConf, Criptorama e Satsconference.
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