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Rússia x Ucrânia: Como os criptoativos estão interferindo na guerra até agora?

02 mar 2022, 17:48 - atualizado em 02 mar 2022, 17:48
Tanque da Rússia
Guerra na Ucrânia é o primeiro grande conflito em que os criptoativos estiveram tão presentes e discutidos (Imagem: Facebook do Ministério da Defesa da Ucrânia)

Os recentes conflitos entre Rússia e Ucrânia trazem questionamentos importantes no nicho das criptomoedas. É o primeiro grande conflito em que os criptoativos estiveram tão presentes e discutidos.

Entre os questionamentos, o mais preocupante é como essa ferramenta de pagamento descentralizado pode ser usado em momentos de proibições econômicas.

As incertezas sobre como as criptos podem afetar no conflito se intensificaram após o presidente norte-americano, Joe Biden, anunciar sanções econômicas contra a Rússia e retirar o país do sistema de pagamentos globais, o Swift.

Confira como o mercado de criptoativos está agindo até agora em meio ao conflito:

A Rússia pode usar criptomoedas para escapar das sanções econômicas impostas pelos EUA?

Segundo Orlando Telles, da Mercurius Crypto, não. Ele diz que o mercado de cripto ainda é pequeno, possui altos custos e é transparente demais para ser utilizado como fuga de sanções econômicas.

O chefe de política da Blockchain Association, Jake Chervinsky, também publicou em seu Twitter que acha inviável que cripto seja usado para essa evasão russa:

“A Rússia não pode e não usará criptomoedas para evitar sanções. Preocupações sobre o uso de criptomoedas para evasão de sanções são totalmente infundadas. Eles fundamentalmente entendem mal:
– como funcionam as sanções
– como funcionam os mercados de criptomoedas
– como Putin está realmente tentando mitigar as sanções.”

Os principais pontos do profissional são que todo o mundo está cortando laços com SDNs russos agora, independentemente de quais sistemas de pagamento estavam usando anteriormente.

Segundo ele, não há razão para pensar que a existência da criptomoeda convencerá qualquer um deles a violar intencionalmente as leis de sanções, arriscando multas e prisão.

Ele comenta que, se a Rússia quiser uma alternativa, é muito provável e mais viável que use o CIPS da China do que uma rede pública que não pode controlar. Independente disso, não há ninguém no mundo livre para fazer negócios com eles.

Ele finaliza dizendo que, com a Rússia cortada da indústria de criptomoedas do mundo, o país não pode obter liquidez suficiente para importar criptoativos.

Além disso, a transparência da blockchain é um ponto desfavorável para qualquer um que deseje usar de forma criminosa essa tecnologia, tanto é que o CEO da Binance, Changpeng Zhao, afirmou que a corretora cripto — a maior do mundo atualmente — bloqueou o acesso de usuários russos que são alvos de sanções internacionais.

Mesmo assim, a Comissão Europeia estuda se criptoativos estão sendo utilizados para contornar sanções financeiras impostas aos bancos russos após a invasão da Ucrânia, segundo um funcionário de alto escalão da União Europeia.

Do Rublo russo (RUB) para Tether (USDT)

Do outro lado, os criptoativos foram vistos por alguns como uma alternativa para ajudar a população russa, pois esta não precisa de tanta liquidez quanto seu governo, e estão observando sua moeda despencar.

Os pares de negociação entre criptoativos e o rublo russo tiveram um aumento no volume de negociação desde que começaram os conflitos.

O par mais utilizado foi da moeda estável lastreada ao dólar Tether (USDT) e o rublo russo, que aumentaram consideravelmente. O movimento pode ser visto como uma forma da população buscar proteção financeira contra o colapso da economia fiduciária de seu país.

As moedas estáveis, ou stablecoins, são um modo prático e líquido de se expor a uma moeda fiduciária por meio do mercado cripto.

Sua maior utilidade é de fazer negociações em corretoras descentralizadas. Entretanto, o mercado pode estar diante da popularização de outra forte utilidade primária: facilitar a migração entre diferentes sistemas fiduciários.

O próprio CEO da Binance, que bloqueou usuários alvos de sanções, disse que a corretora não bloqueará o acesso de todos os russos. Segundo ele, seria antiético.

“A Binance segue as regras de sanções rigidamente. Quem estiver na lista de sanções não poderá usar a nossa plataforma, mas aqueles que não estiverem na lista poderão usá-la”.

rússia ucrânia cripto
Volume de negociações do par USDT/RUB na última semana (Fonte: Binance)

“Aceitamos cripto doações”

No lado ucraniano do conflito, as doações em criptomoedas estão sendo muito bem-vindas. O governo da Ucrânia começou a aceitar doações em criptoativos, como Bitcoin (BTC), Tether (USDT), Solana (SOL), Polkadot (DOT) e até mesmo Dogecoin (DOGE).

Segundo Jess Symington, líder de pesquisa da Elliptic, “este é potencialmente um novo fator em situações complexas – a ideia de arrecadação de fundos e financiamento coletivo (‘crowdfunding’) para tentativas de defesa”.

Além de tudo, em um sistema financeiro descentralizado, e que foge de moedas fiduciárias como o dólar, segundo destaca Tom Lee, que cofundou a empresa de pesquisa financeira Fundstra:

“Uma nação soberana não está pedindo por doações em dólar, mas, sim, por doações em criptomoedas. Uau.”

Segundo informações do governo ucraniano, o valor doado foi distribuído aos soldados e usado para comprar suprimentos para se defenderem da invasão russa em seu território.

Comunidade cripto na “linha de frente”

Diversas doações em criptoativos foram realizadas por figurões do mercado. Gavin Wood, criador da rede Polkadot, doou quase U$ 6 milhões em DOT.

Sam Bankman-Fried, CEO da FTX, disse que a corretora deu US$ 25 para cada usuário da Ucrânia cadastrado em sua corretora.

A Binance anunciou que doaria U$ 10 milhões para a Ucrânia, e lançou em sua plataforma o “Fundo de Alívio de Emergência da Ucrânia” para “fornecer ajuda de emergência” por meio de “crowdfundings”.

Repórter do Crypto Times
Jornalista formado pela Universidade Presbiteriana Mackenzie. Repórter do Crypto Times, e autor do livro "2020: O Ano que Não Aconteceu". Escreve sobre criptoativos, tokenização, Web3 e blockchain, além de matérias na editoria de tecnologia, como inteligência artificial, Real Digital e temas semelhantes. Já cobriu eventos como Consensus, LabitConf, Criptorama e Satsconference.
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Jornalista formado pela Universidade Presbiteriana Mackenzie. Repórter do Crypto Times, e autor do livro "2020: O Ano que Não Aconteceu". Escreve sobre criptoativos, tokenização, Web3 e blockchain, além de matérias na editoria de tecnologia, como inteligência artificial, Real Digital e temas semelhantes. Já cobriu eventos como Consensus, LabitConf, Criptorama e Satsconference.
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