Economia

Selic em 13,75%: Quatro pontos para entender o comunicado do Copom e a decisão do Banco Central

21 jun 2023, 19:25 - atualizado em 21 jun 2023, 19:35
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Copom manteve taxa Selic em 13,75%, pela sexta reunião consecutiva; mercado apostava em corte nos juros a partir de agosto. (Imagem: Agência Brasil)

A reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) não surpreendeu o mercado. Assim como o esperado, o Banco Central manteve a Selic em 13,75%, patamar que se encontra há dez meses. Trata-se da sexta reunião de manutenção.

No entanto, o que pegou o mercado de surpresa foi a falta de uma sinalização de que a taxa básica de juros deve ser revista a partir da reunião de agosto. As projeções apontavam para um corte de 0,25 ponto percentual para marcar o início do afrouxamento monetário.

  • O Copom decidiu manter a taxa Selic em 13,75%, seguindo as expectativas do mercado. Com a projeção de corte na taxa nas próximas reuniões, como ficam os fundos imobiliários (FIIS)? Clique aqui para assistir ao Giro do Mercado e veja a resposta do analista da Empiricus Research Caio Araújo. Inscreva-se no nosso canal e não perca o Giro do Mercado, de segunda a sexta-feira, às 12h.

Em seu comunicado, o Copom destacou que “irá perseverar até que se consolide não apenas o processo de desinflação como também a ancoragem das expectativas em torno de suas metas”. Ou seja, jogou um balde de água fria em quem estava esperando uma Selic mais baixa no início do segundo semestre.

No Relatório Focus dessa semana, o mercado chegou a reduzir as projeções de Selic para o final de 2023, de 12,50% para 12,25%; além das projeções para 2024, de 10% para 9,50%.

Vale lembrar que as metas de inflação para 2023, 2024 e 2025 são de 3,25%, 3% e 3%, nesta ordem, conforme estabelecido pelo Conselho Monetário Nacional (CMN).

4 pontos para entender o comunicado do Copom e a Selic em 13,75%

Cenário internacional

No quesito ambiente externo, o Banco Central aponta que o cenário continua adverso, por mais que tenham sido registradas revisões positivas para o crescimento do ano.

“Apesar da atenuação do estresse envolvendo bancos nos EUA e na Europa, a situação segue demandando monitoramento”, diz o comunicado publicado nesta quarta-feira (21). O Copom ainda lembra que os bancos centrais das principais economias ainda buscam combater a inflação, inclusive com a retomada de ciclos de elevação de juros.

Na semana passada, o Federal Reserve optou pela manutenção dos juros nos Estados Unidos na faixa 5%-5,25%. No entanto, o presidente Jerome Powell já confirmou que serão necessárias novas altas, uma vez que a inflação americana está longe da meta dos 2%.

Atividade econômica

Do ponto de vista Brasil, o Banco Central aponta que o conjunto dos indicadores mais recentes de atividade econômica segue consistente com um cenário de desaceleração da economia nos próximos trimestres.

No primeiro trimestre, o Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil registrou avanço de 1,9%, refletindo o forte desempenho do setor de Agropecuária, que cresceu 21,6%. Esse desempenho não é esperado novamente, sendo que os demais setores mostram números mais contidos: Serviços (+0,06%) e Indústria (-0,01%).

Inflação

Já na parte de inflação, principal dado analisado pela autoridade monetária, mostra sinais de aceleração. “O arrefecimento recente dos índices de inflação cheia ao consumidor, antecipa-se uma elevação da inflação acumulada em doze meses ao longo do segundo semestre”, diz o comunicado.

Em maio, o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) subiu 0,23%, desacelerando-se em relação à alta de 0,61% apurada em abril. Com isso, o indicador acumulada alta em 12 meses de +3,94%. Para junho, as projeções apontam, inclusive, para queda no indicador.

No entanto, a expectativa é de alta ao longo do segundo semestre, além de as projeções de longo prazo estarem desancoradas. “As projeções de inflação do Copom em seu cenário de referência situam-se em 5,0% em 2023 e 3,4% em 2024. As projeções para a inflação de preços administrados são de 9,0% em 2023 e 4,6% em 2024”, diz o BC.

Contas públicas

A aprovação do arcabouço fiscal na Câmara dos Deputados foi uma boa cartada do governo, mas o desenrolar da nova regra fiscal ainda preocupa o Banco Central.

Entre os fatores de risco inflacionário, o comunicado do Copom destaca “alguma incerteza residual sobre o desenho final do arcabouço fiscal a ser aprovado pelo Congresso Nacional e, de forma mais relevante para a condução da política monetária, seus impactos sobre as expectativas para as trajetórias da dívida pública e da inflação, e sobre os ativos de risco”.

A proposta ainda será votada no Senado e precisara voltar para a Câmara devido a uma alteração no texto, ante de começar a valer.

Confira o comunicado na íntegra

O ambiente externo se mantém adverso, ainda que com revisões positivas para o crescimento do ano. Apesar da atenuação do estresse envolvendo bancos nos EUA e na Europa, a situação segue demandando monitoramento. Os bancos centrais das principais economias permanecem determinados em promover a convergência das taxas de inflação para suas metas, inclusive com a retomada de ciclos de elevação de juros em algumas economias, em um ambiente em que a inflação se mostra resiliente.

Em relação ao cenário doméstico, o conjunto dos indicadores mais recentes de atividade econômica segue consistente com um cenário de desaceleração da economia nos próximos trimestres. O crescimento acima do esperado no primeiro trimestre refletiu principalmente o forte desempenho do setor agropecuário. Não obstante o arrefecimento recente dos índices de inflação cheia ao consumidor, antecipa-se uma elevação da inflação acumulada em doze meses ao longo do segundo semestre. Ademais, diversas medidas de inflação subjacente seguem acima do intervalo compatível com o cumprimento da meta para a inflação. As expectativas de inflação para 2023 e 2024 apuradas pela pesquisa Focus recuaram e encontram-se em torno de 5,1% e 4,0%, respectivamente.

As projeções de inflação do Copom em seu cenário de referência* situam-se em 5,0% em 2023 e 3,4% em 2024. As projeções para a inflação de preços administrados são de 9,0% em 2023 e 4,6% em 2024.

O Comitê ressalta que, em seus cenários para a inflação, permanecem fatores de risco em ambas as direções. Entre os riscos de alta para o cenário inflacionário e as expectativas de inflação, destacam-se (i) uma maior persistência das pressões inflacionárias globais; (ii) alguma incerteza residual sobre o desenho final do arcabouço fiscal a ser aprovado pelo Congresso Nacional e, de forma mais relevante para a condução da política monetária, seus impactos sobre as expectativas para as trajetórias da dívida pública e da inflação, e sobre os ativos de risco; e (iii) uma desancoragem maior, ou mais duradoura, das expectativas de inflação para prazos mais longos. Entre os riscos de baixa, ressaltam-se (i) uma queda adicional dos preços das commodities internacionais em moeda local, ainda que parte importante desse movimento já tenha sido verificado; (ii) uma desaceleração da atividade econômica global mais acentuada do que a projetada, em particular em função de condições adversas no sistema financeiro global; e (iii) uma desaceleração na concessão doméstica de crédito maior do que seria compatível com o atual estágio do ciclo de política monetária.

Considerando os cenários avaliados, o balanço de riscos e o amplo conjunto de informações disponíveis, o Copom decidiu manter a taxa básica de juros em 13,75% a.a. e entende que essa decisão é compatível com a estratégia de convergência da inflação para o redor da meta ao longo do horizonte relevante, que inclui o ano de 2024. Sem prejuízo de seu objetivo fundamental de assegurar a estabilidade de preços, essa decisão também implica suavização das flutuações do nível de atividade econômica e fomento do pleno emprego.

A conjuntura atual, caracterizada por um estágio do processo desinflacionário que tende a ser mais lento e por expectativas de inflação desancoradas, segue demandando cautela e parcimônia. O Copom conduzirá a política monetária necessária para o cumprimento das metas e avalia que a estratégia de manutenção da taxa básica de juros por período prolongado tem se mostrado adequada para assegurar a convergência da inflação. O Comitê reforça que irá perseverar até que se consolide não apenas o processo de desinflação como também a ancoragem das expectativas em torno de suas metas. O Comitê avalia que a conjuntura demanda paciência e serenidade na condução da política monetária e relembra que os passos futuros da política monetária dependerão da evolução da dinâmica inflacionária, em especial dos componentes mais sensíveis à política monetária e à atividade econômica, das expectativas de inflação, em particular as de maior prazo, de suas projeções de inflação, do hiato do produto e do balanço de riscos.

Votaram por essa decisão os seguintes membros do Comitê: Roberto de Oliveira Campos Neto (presidente), Carolina de Assis Barros, Diogo Abry Guillen, Fernanda Magalhães Rumenos Guardado, Maurício Costa de Moura, Otávio Ribeiro Damaso, Paulo Sérgio Neves de Souza e Renato Dias de Brito Gomes.

* No cenário de referência, a trajetória para a taxa de juros é extraída da pesquisa Focus e a taxa de câmbio parte de USD/BRL 4,85, evoluindo segundo a paridade do poder de compra (PPC). O preço do petróleo segue aproximadamente a curva futura pelos próximos seis meses e passa a aumentar 2% ao ano posteriormente. Além disso, adota-se a hipótese de bandeira tarifária “verde” em dezembro de 2023 e de 2024. O valor para o câmbio é obtido pelo procedimento usual de arredondar a cotação média da taxa de câmbio USD/BRL observada nos cinco dias úteis encerrados no último dia da semana anterior à da reunião do Copom.

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Formada em Jornalismo pela PUC-SP, tem especialização em Jornalismo Internacional. Atua como editora-chefe no Money Times e já trabalhou nas redações do InfoMoney, Você S/A, Você RH, Olhar Digital e Editora Trip.
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