Internacional

Sobreviventes de crise de 2008 lembram que dominós caem rápido

20 mar 2023, 20:11 - atualizado em 20 mar 2023, 20:11
Crise
O Banco Nacional Suíço concordou em oferecer uma linha de liquidez de 100 bilhões de francos (US$ 108 bilhões) ao UBS como parte do acordo (Imagem: REUTERS/Arnd Wiegmann)

Steve Chiavarone não quer assustar ninguém, mas o que ele mais lembra da última crise bancária é como a maioria das pessoas tinha certeza de que não aconteceria.

Em seu escritório em Nova York no início de 2008, os melhores e mais brilhantes de Wall Street — “estrategista após estrategista após estrategista após estrategista” —, lembra Chiavarone, agora gestor sênior de portfólio da Federated Hermes – faziam fila para dizer que, mesmo se houvesse uma recessão, seria leve e curta.

Claro que não foi assim. Alguns meses depois, “você ia ao escritório todos os dias e acontecia algo que você nunca pensou que aconteceria”, relembra.

Todos os tipos de crises foram previstos por “Cassandras financeiras” na esteira de 2008. Na realidade, elas são extremamente raras nos mercados. E, no entanto, com três bancos americanos falidos, uma quarta instituição financeira na berlinda e a aquisição mediada pelo governo de uma quinta – e muito maior – na Europa, as comparações com aquela crise se tornaram um pouco mais difíceis de ignorar.

Não que a atual turbulência corresponda à magnitude da última crise. Embora as chances de uma recessão tenham aumentado, as autoridades estão mais bem equipadas hoje para lidar com o estresse no sistema financeiro, e os maiores bancos são mais fortes do que antes.

Razões para cautela

Mas, para a classe atual de investidores profissionais que parecem bastante imperturbáveis pelos eventos recentes – insensíveis talvez por anos de falsas advertências –, há mensagens importantes a serem extraídas desta crise dos relatos em primeira mão de veteranos, como Chiavarone. Seu principal recado: as coisas podem evoluir de maneiras que pareciam inconcebíveis semanas antes. “É uma das razões pelas quais tenho sido tão cauteloso”, disse.

No domingo, o UBS comprou o Credit Suisse por US$ 3,2 bilhões em um acordo mediado pelo governo com o objetivo de colocar fim a uma crise de confiança.

O Banco Nacional Suíço concordou em oferecer uma linha de liquidez de 100 bilhões de francos (US$ 108 bilhões) ao UBS como parte do acordo, enquanto o governo também concedeu uma garantia de 9 bilhões de francos para possíveis perdas de ativos assumidos pelo UBS.

Tudo isso é consistente com a crença de que o estresse nas finanças será contido. Algo preocupante é não ser totalmente inconsistente com a perspectiva que prevalecia antes da tempestade de 2008, que acabou derrubando as bolsas americanas em mais de 50%. Uma das características marcantes do estresse bancário é a velocidade com que os dominós caem quando se perde a fé, disse Adam Crisafulli, fundador da Vital Knowledge, em Nova York.

Baseado na confiança

“Você quer que os bancos sejam os mais tediosos e enfadonhos possível”, disse Crisafulli, que trabalhava no Bear Stearns quando este teve de ser resgatado pelo JPMorgan Chase em 2008. “Todo o modelo de negócios é baseado na confiança. Portanto, mesmo que você esteja muito, muito confortável em relação às finanças, se o mercado perdeu a confiança em uma instituição financeira”, é muito difícil para esse banco refutar essa perda de confiança, explica.

Kris Sidial é um profissional em apostas vendidas e executa estratégias de risco de cauda para o hedge fund Ambrus Group, então não surpreende que ele seja um pessimista. Sidial planeja manter as opções para o setor bancário em um posicionamento baixista, cujo ganho já multiplicou por 40 no último mês.

“Quando o tema do Credit Suisse apareceu, foi um sinal de que havia outro ‘corpo’”, disse em entrevista por telefone no sábado. “É muito binário. Não há realmente nenhuma situação intermediária aqui onde isso se arrasta”, afirmou. “(…) Haverá intervenção do governo e isso será consertado – ou será um pesadelo.”

Sidial disse que já está preocupado em encontrar prime brokers que não entrarão em colapso em uníssono caso o contágio se espalhe. “Esqueça os mercados acionários dos EUA, o mundo inteiro está conectado ao sistema bancário. Se isso acontecer, tudo vai junto. Você pode destruir a tecnologia, pode destruir todo o resto, mas o setor bancário é a única coisa onde, se isso acontecer, haverá repercussões em massa.”

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