Economia

Tesouro diz que estoque da dívida crescerá mais que meta para 2020 “por opção”

23 dez 2020, 16:21 - atualizado em 23 dez 2020, 16:21
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De janeiro a abril, haverá o vencimento de cerca de 600 bilhões de reais em títulos da dívida (Imagem: Marcello Casal Jr/Agência Brasil)

O Tesouro Nacional reconheceu nesta quarta-feira que o estoque da dívida pública ficará acima do patamar de até 4,9 trilhões de reais planejado para o ano, em meio a emissões vultosas levadas a cabo diante da pandemia de coronavírus, mas frisou que isso acontecerá por ter enxergado uma janela de oportunidade no mercado.

“O Tesouro tinha a opção de emitir menos ao longo desses meses, mas o mercado em novembro e dezembro se apresentou de uma forma tão positiva e a qualidade das nossas emissões foi tão superior que o Tesouro optou por emitir volumes maiores”, disse o coordenador de Operações da Dívida Pública, Roberto Lobarinhas.

Em coletiva de imprensa, ele defendeu que isso permitirá uma recomposição de caixa, dando mais conforto à gestão da dívida, já que o Tesouro fechará o ano com colchão acima daquele considerado prudencial.

“Temos recursos para fazer frente, com muita tranquilidade, às necessidades do primeiro quadrimestre, um período que concentra uma boa parte dos vencimentos de 2021”, disse.

De janeiro a abril, haverá o vencimento de cerca de 600 bilhões de reais em títulos da dívida, sendo que o ministro da Economia, Paulo Guedes, tinha afirmado que 300 bilhões de reais para honrar os compromissos estavam “automaticamente provisionados” –em referência a 200 bilhões de reais de transferências de resultados do Banco Central para o Tesouro e “100 bilhões e pouco” vindos com a desalavancagem de bancos públicos.

Questionado se a postura de turbinar as emissões furando a meta do PAF não contrariava o discurso de que já havia tranquilidade para rolagem em 2021, Lobarinhas negou haver incoerência.

“Quaisquer outras fontes de recursos que apareçam, que ocorram em 2021, serão sempre bem-vindas para a gestão de dívida também”, disse.

Em novembro, a dívida pública federal do Brasil subiu 3,22% sobre outubro, a 4,788 trilhões de reais, informou o Tesouro nesta quarta-feira, num mês já marcado pelo desenquadramento dos títulos prefixados e atrelados à Selic em relação às metas. [L1N2J31U1]

No Plano Anual de Financiamento (PAF) –que havia passado por revisão em agosto–, a perspectiva era de que a dívida geral encerrasse 2020 entre 4,6 trilhões de reais e 4,9 trilhões de reais.

Em relação à composição, os títulos que variam com a Selic, representados pelas LFTs, continuaram com maior peso na dívida pública federal, mas diminuíram essa fatia a 35,57% do total em novembro, abaixo dos 36,30% de outubro.

Com isso, eles ficaram abaixo do intervalo estabelecido como meta para o ano no PAF, de 36% a 40%.

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Com isso, eles ficaram abaixo do intervalo estabelecido como meta para o ano no PAF, de 36% a 40% (Imagem: Diana Cheng/Money Times)

Já os títulos prefixados avançaram a 34,16% da dívida, ante 32,80% no mês anterior, também desenquadrados em relação à meta de 30% a 34% para 2020.

Lobarinhas admitiu que tanto os títulos prefixados quanto os flutuantes, representados principalmente pelas LFTs, seguirão “levemente” desenquadrados em dezembro na comparação com as metas do PAF.

De um lado, ele frisou que houve melhora no perfil de alongamento dos prefixados ao longo dos últimos meses. De outro, pontuou que fazia sentido para o Tesouro continuar com emissões robustas de LFTs, em meio à melhora significativa do mercado do último mês para cá, embalada por notícias positivas de vacinas contra a Covid-19 e resultados das eleições norte-americanas.

“Houve uma grande instabilidade do prêmio desse título (LFT) ao longo de setembro e outubro. A partir de novembro, começamos a ver estabilidade desse prêmio, o que voltou a favorecer a venda desse título”, afirmou Lobarinhas.