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Bancos: Americanas (AMER3) pode piorar o que já estava ruim, dizem analistas; veja o que esperar do 4T22

30 jan 2023, 18:41 - atualizado em 30 jan 2023, 21:40
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Bancos devem sentir peso da economia fraca e da Americanas (AMER) (Imagem: Montagem com fotos de Marcio Juliboni/Renan Dantas/Divulgação)

Os bancos entram em 2023 sem o brilho que já tiveram em tempos de ‘vacas gordas’. Inadimplência, risco na carteira de crédito, aumento das provisões para devedores duvidosos, chamados de PDD, se somam a um ano cujo o crescimento econômico não empolgará — o Boletim Focus desta segunda indica um crescimento do PIB de pouco mais de 0,8%.

Como não bastasse isso, outro fator de preocupação entra no radar: o rombo da Americanas (AMER3), que soma R$ 40 bilhões. De acordo com analistas, as dívidas não devem ser ignoradas e podem piorar um cenário que já estava ruim.

Já o quarto trimestre deverá ter a continuidade da piora da inadimplência da pessoa física, destaca a analista da Empircus Research, Larissa Quaresma.

“Isso para todos os bancos. Tanto os grandes quanto os pequenos. Quanto maior a concentração da carteira de crédito do banco em linha de varejo, pior é o impacto”, coloca.

O UBS-BB destaca que a qualidade de ativos dos bancos brasileiros continuará se deteriorando no período, mas agora com o segmento corporativo na lista das preocupações.

Os analistas Thiago Batista e Olavo Arthuzo ressaltam que o índice de NPL (crédito não produtivo) para grandes empresas está em seus mínimos históricos (0,14% em novembro de 2022) e há vários sinais de que o vento favorável para as empresas acabou.

“No caso das PME (pequenas e médias empresas), o rácio de NPL ainda se encontra bastante abaixo da média e não se deve descartar uma deterioração futura”, discorrem.

Itaú e Banco do Brasil são destaques

E como visto nos últimos trimestres, Banco do Brasil (BBAS3) e o Itaú (ITUB4) reportarão mais um trimestre de encher os olhos. Quaresma, da Empiricus, explica que como os dois bancos estão menos expostos à pessoa física, o impacto da inadimplência é menor.

O UBS diz que no caso do Itaú, o maior banco privado do país continuará mostrando forte tendência de margem líquida, o que levará a um bom efeito para 2023, enquanto a qualidade dos ativos poderá manter o ritmo de deterioração, ainda menor que os concorrentes.

Os analistas do banco suíço veem lucro de R$ 8,3 bilhões, com retorno sobre o patrimônio médio (ROAE) de 20,6%. Apesar disso, o índice de inadimplência continuará aumentando ligeiramente nos próximos trimestres.

Para o Safra, o Banco do Brasil deverá apresentar a maior expansão de receitas entre os concorrentes.

Esse desempenho deve ser impulsionado pela contribuição positiva da margem financeira bruta e de outras linhas de receita.

O Safra ainda calcula que o BBAS3 mantenha o desempenho positivo durante todo o ano. Outra casa bastante otimista, o BTG aguarda números fortes, com lucro de R$ 8,7 bilhões e ROE de 21,8%.

Se assim for, o BB encerrará 2022 com faturamento de R$ 31,5 bilhões (20,5% ROE), semelhante ao Itaú, mas com valor de mercado de apenas 45% do seu concorrente privado.

Em 2023, o BTG espera que a orientação continue a mostrar uma dinâmica saudável, sugerindo um crescimento de lucro por ação de 5% a 10%.

“Se for esse o caso, o BB estaria negociando a 3,4x P/L (preço sobre lucro) em 2023, com um dividend yield de 12%, o que achamos muito barato”, completa.

Santander e Bradesco na ponta negativa

Do outro lado, o Santander Brasil (SANB11) e o Bradesco (BBDC4) serão, novamente, os destaques negativos. O UBS diz que os resultados do banco de Osasco apresentarão uma contração significativa, devido à combinação de despesas de provisão maiores aliadas a resultados comerciais ainda fracos.

“No caso do Santander, a combinação de uma alíquota efetiva de imposto mais alta (que foi anormalmente baixa nos trimestres anteriores) com margens de clientes mais baixas deve levar a outra contração significativa dos lucros”, discorre.

Mais cedo, a Genial cortou a recomendação do Santander de neutra para venda citando um quarto trimestre difícil.  A corretora espera uma continuidade das tendências observadas no terceiro trimestre, “mas com um agravante de maior pressão no custo de crédito e uma tesouraria fraca pelo atual patamar da taxa juros”.

O UBS estima lucro de R$ 4,2 bi para o Bradesco, queda de 37% no ano, e lucro de R$ 2,8 bilhões para o Santander.

Caso Americanas

Entre os bancões mais expostos à Americanas, estão:

De acordo com a analista da Empiricus, em 2022 a inadimplência das grandes empresas se manteve comportada e consideravelmente abaixo da pré-pandemia.

“Não devemos ver nenhum impacto nessa linha no quarto trimestre, até porque o impacto da Americanas é da competência de janeiro. Ele deveria vir no resultado do primeiro trimestre”, discorre.

Porém, ela não descarta que, dado a materialidade, alguns bancos podem optar por provisionar antes. “Assumindo que os bancos podem jogar esse provisionamento um pouco para frente, nós vemos um impacto para o lucro dos próximos 12 meses de 3% no caso de Itaú e 10% no caso de Santander”, coloca.

Ainda na visão da analista, os bancos agora precisam enfrentar mais esse desafio. “Até então o problema estava muito no varejo e agora surge no banco de atacado. Com certeza, piora o cenário”, pontua.

Mesmo assim, Quaresma ressalta que, por ora, tudo indica que esse é um evento localizado, sem risco de contagiar o sistema financeiro.

“Há pessoas que veem como uma quebra sistêmica das grandes empresas, o que não é o caso. Não irá virar uma inadimplência descontrolada como estamos vendo na pessoa física”, completa.

Mais cedo, o BBA cortou a recomendação do Bradesco para venda. Segundo a corretora, a Americanas pesa para a tempestade perfeita.

Para a instituição, após um 2022 fraco, é bem provável que demore um pouco até os investidores voltarem a ganhar confiança com os papéis.

Editor-assistente
Formado pela Universidade Presbiteriana Mackenzie, cobre mercados desde 2018. Ficou entre os 50 jornalistas +Admirados da Imprensa de Economia e Finanças das edições de 2022 e 2023. É editor-assistente do Money Times. Antes, atuou na assessoria de imprensa do Ministério Público do Trabalho e como repórter do portal Suno Notícias, da Suno Research.
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Formado pela Universidade Presbiteriana Mackenzie, cobre mercados desde 2018. Ficou entre os 50 jornalistas +Admirados da Imprensa de Economia e Finanças das edições de 2022 e 2023. É editor-assistente do Money Times. Antes, atuou na assessoria de imprensa do Ministério Público do Trabalho e como repórter do portal Suno Notícias, da Suno Research.
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