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Bancos dos EUA podem ser atingidos por mudanças em ativos vinculados à Rússia

23 mar 2022, 11:40 - atualizado em 23 mar 2022, 11:40
Barclays
“As próximas duas semanas podem ser as definitivas para os resultados do curto prazo”, disse Jason Goldberg, analista do Barclays (Imagem: Reuters/Toby Melville)

Alterações nos preços de ativos após a invasão da Ucrânia pela Rússia podem atingir os resultados de bancos dos Estados Unidos dependendo do que acontecer antes do final do mês e de como os mercados reagirão a isso, afirmam analistas.

Perdas com negociação de ativos, provisões para perdas esperadas com crédito, baixas contábeis de ativos e encargos com fechamento de negócios podem prejudicar o desempenho de um trimestre considerado até então como equilibrado. Isso porque as instituições financeiras devem se beneficiar de juros maiores e expansão de carteira de crédito apesar da torrente de receitas recebidas pela área de bancos de investimentos perder força.

Grandes bancos podem registrar impactos não recorrentes que totalizam 5 bilhões de dólares, ou o dobro disso, ou até mesmo nenhum impacto, disse Gerard Cassidy, analista da RBC Capital Markets.

“Não dá realmente para dizer porque os mercados estão tão voláteis e se movimentando dependendo do que acontece com os riscos geopolíticos”, acrescentou.

A volatilidade dos mercados tem sido negativa para os negociadores de títulos, com os preços saltando ou despencando em vez de se moverem de maneira controlada como acontece quando a expectativa sobre as taxas de juros é de alta ou queda, afirmam analistas.

“As próximas duas semanas podem ser as definitivas para os resultados do curto prazo”, disse Jason Goldberg, analista do Barclays.

Os grandes bancos dos Estados Unidos começam a divulgar seus resultados trimestrais em 13 de abril.

Goldberg citou comentários feitos pelo diretor de mercados do JPMorgan em 8 de março, quando afirmou que a receita trimestral ficou imprevisível por causa de “significativo risco de contrapartes” e diante de uma situação em que “muitos clientes” estão sob estresse extremo, particularmente os que negociam commodities.

Estes riscos foram mencionados pela Standard & Poor’s na sexta-feira, em um relatório que alerta sobre os potenciais impactos da guerra. A S&P também alertou sobre novos problemas operacionais no cumprimento de sanções e risco ampliado de ataques digitais.

Até agora, o Citigroup se destaca como o que pode trazer o impacto mais significativo. Além das exposições de mercado, a área de banco de varejo na Rússia pode sofrer prejuízos.

O Citigroup informou em 2 de março que em um “cenário de estresse severo” poderá estar exposto a quase 5 bilhões de dólares em perdas relacionadas a seus negócios na Rússia.

O banco tem excesso de capital suficiente para lidar com isso sem sofrer danos sérios, afirmam analistas. Mas um impacto poderá reduzir a velocidade de recompras de ações, uma parte importante do plano da presidente-executiva, Jane Fraser, para ampliar a valorização do banco no mercado.

As ações do Citigroup estão sendo negociadas abaixo do valor líquido da companhia e uma recompra traria melhora nos preços dos papeis.

Analistas esperam que o Citi tenha lucro de 13,7 bilhões de dólares este ano, segundo dados da Refinitiv, então o Citigroup ainda será lucrativo mesmo com um eventual impacto de 5 bilhões de dólares.

Poucos analistas atualizaram suas estimativas para o Citigroup desde 4 de março. Muitos estão aguardando o final do trimestre para publicarem suas estimativas para os grandes bancos norte-americanos.