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Bots exploram atividade em aplicações descentralizadas

10 nov 2019, 13:00 - atualizado em 30 maio 2020, 14:55
Alto volume de dados em exchanges foi gerado por bots automáticos (Imagem: Pixabay)

O ecossistema dos criptoativos foi contaminado por conta de volume de dados de exchanges de criptomoedas artificialmente inflacionados.

Foi revelado que bots automáticos estão explorando outro setor do ecossistema: o das dapps (aplicações descentralizadas).

Um novo relatório da Anchain, empresa de análise de blockchain por meio de inteligência artificial, revelou que bots somavam 51% das contas e 75% das transações no blockchain da EOS no primeiro trimestre de 2019, totalizando US$ 6 milhões por dia de dados falsos de transações.

Ao errar esses números de transações inflacionados por volume real, mecanismos de ranking de dapps estão relatando resultados falsos, sugerindo que o número de usuários reais é bem menor do que se pensava.

O levantamento de dados sobre a atividade de bots se deu principalmente na rede da EOS, não da Tron e da Ethereum (Imagem: Pixabay)

De exchanges a dapps

Com foco na EOS, plataforma de dapps com o maior número de usuários, o relatório não fornece dados de outras plataformas populares de blockchain, como a Tron e a Ethereum.

Dapps de apostas são a maioria das aplicações de EOS, contabilizando 65% de todo o volume de transações de dapps da EOS, em comparação aos jogos, 12%, e às lojas, 7%.

Essa é uma melhoria em comparação a 2018, quando um relatório da Dapp.com afirmou que as dapps de apostas contabilizavam incríveis 99% do volume total da EOS.

Com a ascensão da EOS entre a maioria dos rankings, junto com Tron, sua adversária, a Ethereum caiu, mas a plataforma de dapps original ainda hospeda a maioria dos dapps.

O site StateoftheDapps registra 1,7 mil dapps da Ethereum, em comparação às 234 dapps da EOS. No entanto, de acordo com a Dapp.com, cerca de 600 dessas dapps da Ethereum podem ser classificadas como “inativas”, sem transações feitas nos últimos meses.

Enquanto isso, as dapps da EOS parecem estar sempre ativas, como o popular caso de uso de apostas.

Mas em vez de as pessoas estarem fazendo suas apostas, a maior parte da atividade é feita por bots — a maioria foi desenvolvida para lucrar e capitalizar os pagamentos de dividendos e as lacunas no processo das apostas.

Bots bons e bots ruins

O relatório da Anchain afirma que a natureza descentralizada da indústria de blockchain “deixa a porta aberta para bots permaneçam indetectáveis por longos períodos de tempo”. Isso é algo difícil para que os desenvolvedores evitem criar bots, tanto para propósitos benéficos quanto maléficos.

De acordo com o relatório, esses bots geralmente são usados por três partes diferentes: os criadores de dapps, desenvolvedores de dapps rivais e usuários comuns com disposição técnica.

Os bots também servem para “aumentar liquidez dos tokens e alavancar ou aumentar o valor dos ativos”, finalidade que pode tornar as dapps mais acessíveis para o usuário, mas também inflacionar as métricas de volume e alavancar as aplicações de forma artificial, por meio de sites de ranking como o DappRadar.

Isso é parecido como o processo desenvolvido pela OKEx e outras exchanges duvidosas, que usam bots para inflacionar artificialmente o volume de dados de exchanges, com o propósito de chegarem ao topo dos rankings de exchanges do CoinMarketCap.

Descentralização da rede de blockchain permite que bots permaneçam temporariamente indetectáveis (Imagem: Pixabay)

Já os desenvolvedores motivados pelo lucro desenvolveram bots geradores lucro para tirarem vantagem de lacunas para captar automaticamente os dividendos fornecidos pelas dapps de aposta, além de bots destrutivos criados para “empacar” o progresso dos competidores.

Esses bots maléficos usam um método parecido ao dos ataques de negação de serviço (DoS, na sigla em inglês), em que a dapp escolhida foi abarrotada com pedidos de transação para sobrecarregar o sistema e impedir que funcionasse para usuários reais.

Os hackers também usaram o que a Anchain chama de “hackers de ameaça persistente avançada ao blockchain” (BATP, na sigla em inglês), com o propósito de atacar vulnerabilidades de contratos inteligentes para liberar fundos em uma configuração descrita como “mamão com açúcar” (fácil demais).

Dentre esses “bots ruins para o blockchain”, uma gama de “bots bons para o blockchain” estão por aí, emitidos pela própria exchange para propósitos como teste de qualidade de produtos e criação de parceiros automáticos para “brincar” com os usuários quando não houver um “humano” disponível.

Independente de seu propósito, todos esses bots compartilham “padrões repetitivos de comportamento”, que os tornam identificáveis pela Anchain ao aplicar algoritmos de inteligência artificial e de aprendizado de máquina para detectá-los.

Algoritmos de inteligência artificial ajudam na detecção de bots mal intencionados (Imagem: Pixabay)

O relatório sugere que esses bots irão, futuramente, ser “administrados em um contexto de cumprimento de normas” quando as regulações forem postas em prática.

Até então, a empresa recomenda contornar o problema com uma série de iniciativas similares àquelas sugeridas pela Huobi, CoinMarketCap e outras, para resolver o problema da inflação de volume de dados nas exchanges.

Essas iniciativas incluem o investimento em “bots bons que ajudam na melhoria da qualidade de produto e no aumento de liquidez” sem números de volume inflacionados artificialmente, criando mecanismos de ranking capazes de detectar a presença de bots e, assim, focando no “crescimento de usuários realmente humanos”, tarefa que pode demorar mais do que o esperado.

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