Coluna do Hsia Hua Sheng

China 2024: As perspectivas econômicas e por que menos é mais

28 dez 2023, 11:26 - atualizado em 28 dez 2023, 11:26
china brasil 2024
China: os economistas ainda não chegaram em um consenso sobre qual será o caminho na economia no país asiático em 2024. (Imagem: REUTERS/Florence Lo)

O ano 2024 não será um ano fácil para ninguém, inclusive para China. Apesar da virada do ano estar aí, o mercado ainda não chegou em um consenso sobre a taxa de crescimento do país asiático no próximo ano.

Alguns falam em torno de 5% como uma repetição de 2023; outros falam em torno de 4% como uma taxa de crescimento média anual esperado dos próximos 5 anos. Outros, mais conservadores, falam em torno de 3%, devido ao agravamento de conflito geopolítico global e a aumento de protecionismo no comércio global.

Para fazer essa projeção, seria interessante incluir as diretrizes do governo chinês para trabalhar com a economia chinesa na fase atual de transição estrutural. Os debates da recente realização da “Conferência Anual Central de Trabalho Econômico” liderado pelo presidente Xi Jinping são importantes sinalizadores sobre as prioridades para o trabalho econômico em 2024.

De acordo com agência oficial de notícias da China Xinhua, a conferência concluiu o seguinte: “esforços para buscar o progresso e, ao mesmo tempo, garantir a estabilidade, consolidar a estabilidade por meio do progresso e estabelecer o novo antes de abolir o antigo”.

A leitura e interpretação dessa conclusão da conferência são essenciais para compreender melhor o cenário de curto, médio e longo prazos, e assim poder traçar projeções macroeconômicas sobre juros, inflação, câmbio e Produto Interno Bruto (PIB) da China.

Esse tipo de análise é comum no mercado. Por exemplo, os economistas costumam ler a ata do Comitê de Política Monetária (Copom) com as considerações sobre a economia brasileira que o Banco Central divulga. Os economistas também analisam a ata da reunião do Comitê Federal de Mercado Aberto (FOMC) do Federal Reserve para entender a economia americana.

Conclusões sobre a Conferência Anual Central de Trabalho Econômico

Na minha percepção, a autoridade econômica chinesa está mais preocupada em focar a qualidade de crescimento que a quantidade em si no próximo ano.

A meta não seria crescer a qualquer custo e sim garantir a estabilidade econômica da China para superar algumas dificuldades e desafios atuais, incluindo a falta de demanda efetiva, o excesso de capacidade em alguns setores, transformação no setor imobiliário, excesso de dívida em alguns governos locais, gargalos na circulação doméstica, bem como o aumento da complexidade, gravidade e incerteza do ambiente externo.

A palavra estabilidade aparece várias vezes nessa conclusão como um pré-requisito mandatório para o progresso. A China não tomará nenhuma medida progressista que desestabilizaria as conquistas dos 45 anos de reforma e abertura econômica da China que transformou um país pobre na segunda maior economia do mundo.

A nova economia verde sustentável de alta tecnologia viria para somar, consolidar e melhorar essas conquistas atuais. No entanto, os progressos só serão feitos com passos firmes e estáveis.

Isso significa que a China reafirmou seu comprometimento em continuar seu processo de abertura graduais para manter e atrair novo capital e investimento estrangeiro, reduzindo incertezas e proporcionar um retorno compatível com a expectativa de fazer negócio na China.

Garantir um ambiente institucional familiar aos investidores estrangeiros favorece interação tecnológica, econômica e cultural intensa entre capital estrangeiro e capital nacional.

A conclusão também mostra que não é preciso abandonar as indústrias tradicionais para abraçar e desenvolver as novas indústrias de alta tecnologias.  Essa lógica seria intrigante para economistas, pois algumas linhas de pensamentos econômicos acreditam que precisam destruir a tecnologia atual para ter a inovação. Mas, a China vai trabalhar com a coexistência entre antigo e novo, usando força e criatividade de novas tecnologias para fazer essa conciliação.

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China: Quais políticas econômicas são esperadas para 2024?

Com base nessa interpretação, é esperado seguintes linhas de políticas econômicas que visam ajustes qualitativas:

1- Rebalanceamento da política industrial da China usando auxilio de alta tecnologia

O desenvolvimento de uma economia sustentável não pode depender só de setores de alta tecnologia como energia renovais, carros elétricos, inteligência artificial e semicondutores.

Uma economia completa com foco em manufatura precisa também manter os setores mais tradicionais na economia real com geração de emprego e renda. Um exemplo são as políticas para incentivar o varejo em lojas físicas, setor imobiliário, industrias eletrônicas, reforços de educação complementar e setor têxtil e calçados.

2- A política fiscal é a principal base de orientação para estabilidade econômica, enquanto a política monetária tem um papel coadjuvante

Como a meta é estabilidade e progresso, um megapacote de trilhões de RMB de incentivo monetário ou fiscal generalizado não faria sentido, pois não resolve problema no seu raiz, e pode criar mais bolhas especulativas.

Os incentivos seriam menores, customizados e adequados para necessidade de cada setor. Por exemplo, esse tipo de mediadas já estão sendo adotadas recentemente para resolver os problemas de excesso de dívidas em alguns governos locais e toda cadeia do setor imobiliário.

3- Inclusão de novos serviços na nova economia

Com envelhecimento da população chinesa, a economia de terceira idade ou economia prateada também é o foco de planejamento econômico para 2024. O desenvolvimento de todos os produtos e serviços associados às necessidades com mais de 60 anos é um motor de crescimento importante dentro dessa nova economia. A área de saúde, entretenimento e produtos financeiros de seguros e previdências também estariam alinhadas dentro dessa economia.

4- Mais medidas de atração de investimento estrangeiro na China

Maior abertura para capital estrangeiro não só nos setores de manufatura com a implantação de fábricas e inserção de cadeia produtiva, mas também no mercado de capitais para fazer oferta pública inicial (IPO) e emissão de títulos de renda fixa em RMB.

Uma maior integração financeira dos principais zona livre econômica da China com a mercado financeiro global também poderiam ser promovida. Tanto que a própria internacionalização de RMB também seria um apoio importante nesta nova atração de investimento estrangeiro na China.

China em 2024: O Brasil será afetado no curto prazo

Em 2024, a contribuição da China no crescimento do PIB brasileiro seria menor que em 2023. Com ajustes qualitativos para garantir a estabilidade de crescimento econômico, a demanda chinesa de commodities vai manter no mesmo nível dos anos anteriores.

Mas, considerando que não haja efeito do clima na produção, a oferta dessas commodities para mercado o chinês pode aumentar significantemente, provocando uma queda de preço.

Por exemplo, durante o período mais acirrado de conflito geopolítico entre China e os Estados Unidos, muitos fornecedores dos países que apoiam Estados Unidos deixaram de vender para China as commodities de alimentos e de minérios. Com a reaproximação do país asiático ao ocidente, as ofertas aumentariam significativamente.

Consequentemente, os preços internacionais desses produtos cairiam. Isso pode prejudicar margem de lucro de exportadores brasileiros que só vende commodities. É importante observar que impacto seria menor para aquelas empresas brasileiras que já tem fábrica na China com maior participação na cadeia produtiva local.

Além disso, os preços de importações dos produtos chineses podem ser mais elevado, afetando lucro das fábricas brasileiras que usam parte de componentes chineses na sua cadeia de produção local. Com maior foco em qualidade, a pressão de excesso de produção na China também seria aliviada, pois além de redução de oferta, o próprio mercado doméstico da China passariam consumir mais.

Embora tenha impacto negativo em 2024 na economia brasileira, o Brasil se beneficiaria no médio e longo prazo por esses ajustes qualitativas para garantir maior estabilidade e desenvolvimento sustentável da economia chinesa. Por isso, menos agora também é muito mais no futuro para o Brasil e China.

*As análises e opiniões são de responsabilidade exclusiva do autor e não representam uma visão das instituições das quais o autor pertence.

Hsia Hua Sheng é vice-presidente do Bank of China (Brasil) S.A. e professor associado de finanças na Fundação Getulio Vargas (FGV- EAESP). Ele é economista pela Universidade de São Paulo (FEA - USP), doutor e mestre em administração em finanças pela Fundação Getulio Vargas (FGV – EAESP). Foi pesquisador visitante na NYU Stern School of Business e na Shanghai University of Finance and Economics (SHUFE). É especialista em finanças internacionais com foco em mercados emergentes, com larga experiência profissional em multinacionais e possui várias publicações em revistas acadêmicas e profissionais de excelências internacionais e nacionais.
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Hsia Hua Sheng é vice-presidente do Bank of China (Brasil) S.A. e professor associado de finanças na Fundação Getulio Vargas (FGV- EAESP). Ele é economista pela Universidade de São Paulo (FEA - USP), doutor e mestre em administração em finanças pela Fundação Getulio Vargas (FGV – EAESP). Foi pesquisador visitante na NYU Stern School of Business e na Shanghai University of Finance and Economics (SHUFE). É especialista em finanças internacionais com foco em mercados emergentes, com larga experiência profissional em multinacionais e possui várias publicações em revistas acadêmicas e profissionais de excelências internacionais e nacionais.
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