Eleições 2022

Eleições 2022: Bolsonaro sobreviverá ao primeiro turno?

29 set 2022, 15:05 - atualizado em 30 set 2022, 12:51
Jair Bolsonaro
Campanha de Bolsonaro precisa torcer para voto útil não dar certo (Imagem: Youtube/ Ironberg)

Às vésperas do primeiro turno, aumentam os desafios para a campanha do presidente Jair Bolsonaro (PL).

O atual mandatário, que se encontra em segundo lugar nas pesquisas, tem testemunhado uma debandada parcial de apoiadores históricos. Depois de Ciro Nogueira, que se licenciou para focar na campanha de sua esposa no Piauí, esta semana foi a vez de dezenas de empresários próximos a Bolsonaro comparecerem a um jantar com Lula (PT).

O mote do encontro foi a reabertura de um canal de diálogo com o ex-presidente da República, em reconhecimento à possibilidade do petista sair vitorioso do pleito já neste próximo domingo.

Além de nomes do setor financeiro, Lula conseguiu recolher apoio entre figuras públicas, como o caso do ex-presidente do STF Joaquim Barbosa e o jurista Miguel Reale Júnior, considerados algozes da era petista.

A declaração de votos de personagens influentes na sociedade civil coloca mais fogo no jogo do voto útil encampado por Lula. O objetivo é angariar votos de eleitores de Ciro (PDT) e Tebet (MDB) para despachar Bolsonaro ainda no primeiro turno.

Mas quais as chances de que isso aconteça? Para o cientista político e professor da Universidade São Judas Tadeu, Rodrigo Gallo, as chances de Bolsonaro sobreviver à primeira volta dependem de uma combinação da extensão deste voto útil, ancorado à rejeição ao incumbente, junto à abstenção do eleitorado.

Bolsonaro precisa resistir à campanha do voto útil

Sobre o primeiro fator, Rodrigo avalia: “ainda que haja indicadores que monitoram a certeza dos eleitores em seus votos, as pesquisas de opinião não conseguem captar com eficácia as intenções de voto útil, porque esse é um cálculo feito em véspera de eleição”.

O histórico recente das pesquisas mostra que cerca de 90% dos eleitores de Lula e Bolsonaro possuem convicção de suas escolhas para presidente. O número, por outro lado, é bem menor para Ciro e Tebet.  “Existe uma margem para capturar esses votos em favor de Lula, o que pode definir as eleições agora. Mas tudo dependerá da dinâmica final das campanhas“.

Joga favoravelmente ao ex-presidente Lula a pequena diferença que ele possui para a maioria simples dos votos no primeiro turno. Segundo a média das últimas pesquisas, Lula se aproxima dos 47%, após um crescimento tímido captado nos últimos levantamentos.

O jogo da campanha de Bolsonaro é mais difícil, uma vez que a resistência ao voto útil não depende exclusivamente dele. Para o presidente, que se encontra com cerca de 30% das intenções de voto, o esforço de última hora deve se concentrar em explorar a rejeição do ex-presidente Lula, apesar desta ser inferior a sua.

O recorte recente das pesquisas mostra que, apesar das PECs de benefícios sociais aprovadas às vésperas do período eleitoral e dos acenos de Bolsonaro ao eleitorado feminino, o governo continua possuindo uma rejeição difícil de ser revertida.

Abstenção não captada pela pesquisas será decisiva

O outro fator levantado pelo cientista político se refere à falta de comparecimento dos eleitores nas urnas. No segundo turno de 2018, a abstenção de 20,3% do eleitorado brasileiro foi a maior desde 1998, formando um cenário que acabou favorecendo o então candidato Jair Bolsonaro.

“Este ano, 3% dos eleitores admitem abstenção do voto no primeiro turno, segundo o Datafolha”, aponta Rodrigo. Essa diferença notável pode estar associada tanto à conjuntura — com mais eleitores sentido à necessidade de responder positiva ou negativamente ao governo atual — quanto à fatores de véspera.

Esses fatores aleatórios, avalia Rodrigo, são os que mais podem trazer desvios às pesquisas de voto e até mesmo à perspectiva de abstenção apontada pelo instituto Datafolha:  “apesar de planejar ir, o eleitor pode não fazê-lo por alguma razão pessoal, econômica, geográfica etc.”.

O cientista também avalia que esse tipo de situação tende a ocorrer com mais frequência entre eleitores em camadas socioeconômicas mais vulneráveis, fatias em que o ex-presidente Lula têm ampla vantagem de votos. “Garantir uma menor abstenção é crucial para Lula e pode ser um revés para Bolsonaro”, arremata.

Caso sobreviva, chances de Bolsonaro aumentam no segundo turno

Com o redesenho do sistema das alianças e alteração do tempo de TV para os candidatos em um eventual segundo turno para presidente, a dinâmica das campanhas deve mudar radicalmente. Essa mudança, contudo, não deve alterar a retórica e a estratégia dos candidatos.

Segundo o cientista político e professor da Universidade de Relações Exteriores da China, Marcus Vinicius Freitas, os eleitores estão olhando para o pleito como uma forma de rejeitar candidatos, ao invés de procurar neles uma esperança de melhora: “é uma eleição regida por um binômio ódio vs. medo”.

Ainda segundo o cientista político, Bolsonaro deve aproveitar o maior tempo de exposição no segundo turno para dobrar suas apostas no discurso anticorrupção, considerado o calcanhar de Aquiles de seu principal adversário: “com certeza a situação de Lula tenderá a se deteriorar, em razão da recorrência dos escândalos de corrupção e a recordação do governo de Dilma Rousseff voltando ao debate”.

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Estagiário
Jorge Fofano é estudante de jornalismo pela Escola de Comunicações e Artes da USP. No Money Times, cobre os mercados acionários internacionais e de petróleo.
Jorge Fofano é estudante de jornalismo pela Escola de Comunicações e Artes da USP. No Money Times, cobre os mercados acionários internacionais e de petróleo.
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